sexta-feira, novembro 07, 2014

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Quando a Ana, a minha melhor amiga, mudou de casa (cinquenta quilómetros aos onze anos é outro continente), decidi que não queria ter mais amigos. Passava só os dias angustiada à espera dos dias de estar com ela. Depois, lá acabei por fazer novos amigos. Dos maiores do mundo. Quando, no décimo ano, mudei de turma, não quis fazer novos amigos. Só me interessava os amigos maiores que já tinha. Acabei por fazer amigos para a vida. Quando entrei na faculdade, não queria conhecer ninguém. Morria só de saudades dos amigos de casa. Acabei por fazer amigos de sangue. Quando comecei a trabalhar, tinha a porta fechada para toda a gente que não fosse a minha gente. Fiz amigos que são a minha vida e sem os quais a minha vida não seria a minha vida. Quando me inscrevi no facebook, sabia que jamais faria amigos virtuais, amigos só os da vida real. Sem o facebook, talvez não tivesse conhecido o Esquilo, um dos amigos que mais absolutamente amo. E, por estes dias, não tivesse reencontrado, ao fim de vinte anos!, o André, o meu milagre de natal antecipado. E sem o passar dos anos, talvez não tivesse aprendido que na vida não tem de ser tudo ou nada.


Passei a vida a construir castelos no coração e grande parte da vida a ouvir dizer que um dia haveria de crescer e de me deixar disso. Talvez ainda não tenha crescido. Sou difícil, tenho um feitio impossível, desapareço muitas vezes, emudeço e, já sei, quase nunca atendo o telefone. Mas olhar para o coração e ver que estão cá os castelos todos, muitos mais do que os que pedi, infinitamente mais do que os que mereço, os amigos todos, os que são a minha casa, a minha vida e o meu sangue, nenhum desmoronamento, que ninguém ficou para trás nem me deixou para trás, que se juntaram pessoas que me tratam com uma ternura que não mereço, é o maior privilégio que poderei alguma vez ter.


Sou a pessoa mais mimada que eu própria conheço. A culpa é inteiramente vossa, o mérito de estarmos juntos também. A gratidão é, para sempre, toda minha. ♥

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