segunda-feira, janeiro 30, 2012
All i can
the sun is at stake
and i'm at your window
beyond all sleep
and i can't speak
in old tokyo
translate memories
that i cannot free
but what will it take
we all make mistakes
we all try to free
the size of the past
we don't wanna last
made love erase
to let out my mind
wanting to love
as new as i can
wanting to show
i want my scars to help, and heal
how much you wanted
so much you found
try not to beg
too much to be
calling my heart
i know you are real
but my memory steals
every moment i can feel
what will it take
we all make mistakes
even though i try to stand
even though it's slowly
i do all i can
but who is my man
the memory of you
the love overdue
to carry a face
i cannot re-
trace
i do all i can
we all make mistakes
Helena Garrido: Os pobres que paguem a crise?
"O governo anunciou que vai alargar por mais um ano o programa de prevenção de execuções para evitar que as famílias percam as suas casas". Diria que isto acontece em que parte do mundo? Na Europa? E aqui, em Portugal? Pois está enganado. É nos Estados Unidos.
Em Portugal foram 6900 as casas entregues aos bancos por falta de pagamento dos empréstimos, um aumento de 17% em 2011. Quase metade dos casos aconteceram nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, com especial relevo para as zonas que funcionam como dormitórios.
O número de famílias que se declararam insolventes elevaram-se a 2.400 só no primeiro semestre do ano passado. O retrato numérico esconde histórias de autêntico terror e que nunca imaginaríamos ouvir há menos de seis meses. Idosos, que garantiram empréstimos aos filhos que não os pagaram, vêem entrar pelas suas casas os homens da execução que os deixam com um colchão e um casquilho para colocarem uma lâmpada, num total e absoluto desrespeito pela lei. Ou famílias que ficam sem a casa mas que têm de continuar a pagar o empréstimo.
Há umas semanas, num das análises à crise, o director da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, José Ferreira Machado, fez uma constatação muito interessante. Nos Estados Unidos, a sociedade e o governo responsabilizaram os bancos, ou seja, os credores, pela sua crise da dívida. Na Europa culpam-se os devedores. Atitudes que estão a determinar medidas e políticas completamente diferentes nos dois lados do Atlântico.
O resultado desta atitude, que insulta o liberalismo, é uma Europa que desprotege os mais frágeis. Os gregos estão na miséria? Os portugueses caminham para a miséria? Pouco parece interessar aos líderes europeus, muito menos a Angela Merkel, mais preocupada em ganhar eleições na sua terra. Afinal os gregos, os portugueses, os irlandeses, os italianos, os espanhóis não votam na Alemanha.
Portugal é obrigado a jogar este jogo. Mas, na liberdade que tem, devia fazer a diferença. O ajustamento, como está desenhado, dita um mergulho recessivo na economia. Mas o programa de ajustamento dá ao governo de Pedro Passos Coelho margem para distribuir os custos desse reajustamento.
Até agora, a redução dos défices públicos e externo têm sido pagos pelo português comum, que depende do seu salário para viver ou que tem uma pequena empresa. É a eles que foi enviada a factura do aumento dos impostos, do corte dos subsídios, do pagamento da saúde, da subida da electricidade, do agravamento nos transportes públicos. O resultado tem sido a perda do emprego, a perda da casa e o desespero para muitas famílias.
A culpa é da troika? Claro que não. O retrato dos números do desemprego, das execuções e das insolvências devia fazer ver ao Governo como é urgente adoptar medidas que também são exigidas pela troika, como a redução da factura das parcerias público-privadas e dos subsídios da electricidade. Há no programa de ajustamento medidas que tardam a chegar e que reduzem a factura da crise que os mais frágeis estão a pagar.
"Os pobres têm de se sacrificar porque os ricos têm muitas despesas", diz ironicamente quem quer desdramatizar o desespero das conversas sobre a crise. Esperemos que este não seja o catecismo reinante. Os pobres que paguem a crise não é nenhum princípio liberal. É imoral.
[Hoje, JNegócios]
domingo, janeiro 29, 2012
Loving strangers
Loving strangers, loving strangers, loving strangers oh….
I’ve got a hole in my pocket where all the money has gone
And I’ve got a whole lot of work to with your heart
Cause it’s so busy, mine’s not
Loving strangers, loving strangers, loving strangers , oh…
It’s just the start of the winter and I’m all alone
But I’ve got my eye right on you
Give me a coin and I’ll take you to the moon
Give me a beer and I’ll kiss you so foolishly
Like you do when you lie where you’re not in my thoughts
Like you do when you lie and I know it’s not my imagination
Loving strangers, loving strangers, loving strangers , oh…
sábado, janeiro 28, 2012
sexta-feira, janeiro 27, 2012
Amar o Porto (IV): Centro Português de Fotografia
18 horas. Centro Português de Fotografia. Lá dentro, a exposição de João Silva, o fotojornalista português que ficou estranhamente mais conhecido por ter perdido as pernas no rebentamento de uma mina, no fim do ano passado, do que pelo trabalho de uma vida inteira. Exposição sobre o Afeganistão, o local do acidente. Para quem apreciar. Não foi o nosso caso.
Amar o Porto (III): Galeria Fundação EDP
17 horas. Há coisas melhores para fazer na EDP do que pagar contas de luz que não param de aumentar. Ver a exposição de fotografia "Um Diário da República" do colectivo Kameraphoto, por exemplo. Até 4 de Março. Ou abrir a boca de espanto ao imaginar quanto deve aquele edifício ter custado.
quinta-feira, janeiro 26, 2012
David Pontes: Orion morreu, mas continua a brilhar
Num instante, as imagens percorreram o meu cérebro na busca da memória. Um Cadillac dourado, de cobertura branca descendo a Avenida dos Aliados, uma Harley-Davidson à porta de um bar e sempre a figura esguia do António Júlio, sorrindo, pleno de energia, acabado de chegar de Amesterdão.
Foram as festas góticas, os concertos, em bares e no Sá da Bandeira, a loja no Stop repleta de peças em segunda mão e, ainda não há muito, um Palacete Pinto Leite a transbordar com a excentricidade de “Moscow-Porto-Arte-Express”. E, claro, as imagens do castelo que estava a construir num local do interior que esqueci, onde marcamos encontros que nunca cumprimos.
O António Júlio, que também gostava que lhe chamassem Orion, era daquelas personalidades que dão sentido às cidades. Irreverente, insaciável na sua vontade de congregar vontades, levantar projetos, de se juntar a gente nova em que corresse essa energia tão própria do rock’n’roll. E sempre, apesar das suas vestes negras, do seu gosto pelo clã gótico, o sorriso, uma ânsia bem-disposta, um encontro de amigos.
Sendo único e irrepetível, o António Júlio tinha essa capacidade de saltar gerações, de ir contra a norma, de insistir, de criar diversidade tornando os nossos percursos urbanos mais surpreendentes. É a soma de vidas como esta, nas mais diferentes áreas, que fazem a riqueza das cidades.
Respondi ao Facebook com “I see a darkness”, de Bonnie “Prince” Billy. Fui ouvir a tua filha despedir-se de ti ao som de “Fascinação”: “Os sonhos mais lindos sonhei/ De quimeras mil um castelo ergui/ E no teu olhar, tonto de emoção,/ Com sofreguidão mil venturas previ.” Há bem pouco tempo ligaste-me. Deverias querer despedir-te. Ocupado, não te atendi à espera que voltasses a ligar, como normalmente fazias para me falar da última aventura. É horrivel saber que essa chamada não vai chegar.
[Hoje, no Porto 24]
[É uma felicidade quando na vida nos acontecem pessoas grandes. O António Júlio - para mim, Orion, herói e constelação -, era uma dessas pessoas enormes, únicas, dessas que andam na vida só para sonhar, e à força de tanto sonharem transformam mesmo o pó em ouro, o lixo em arte, os maus em bons. Que grande tristeza quando isto acaba. Obrigada, David. É por causa de pessoas como tu que, de vez em quando, é possível conhecer pessoas como ele.]
[Hoje, no Porto 24]
[É uma felicidade quando na vida nos acontecem pessoas grandes. O António Júlio - para mim, Orion, herói e constelação -, era uma dessas pessoas enormes, únicas, dessas que andam na vida só para sonhar, e à força de tanto sonharem transformam mesmo o pó em ouro, o lixo em arte, os maus em bons. Que grande tristeza quando isto acaba. Obrigada, David. É por causa de pessoas como tu que, de vez em quando, é possível conhecer pessoas como ele.]
quarta-feira, janeiro 25, 2012
Anuncia-se o princípio do fim: "Esqueçam a Grécia. É Portugal que vai destruir o euro"
No seu mais recente artigo de opinião, Lynn começa por relembrar a importância do País para a história mundial, com a assinatura do Tratado de Tordesilhas, que dividiu o mundo não europeu entre Espanha e Portugal em 1494. E salienta que 2012 pode ser o ano em que Portugal volta ao centro do palco mundial. Como? “Fazendo o euro ir ao ar”, responde.
“A Grécia já estoirou – e o seu incumprimento está já descontado pelo mercado. Mas Portugal está precisamente na mesma posição (…). Está também a resvalar para um inevitável ‘default’ das suas dívidas – e quando isso acontecer, vai ter um efeito devastador para a moeda única e infligir danos ao sistema bancário europeu, que poderão revelar-se catastróficos”, escreve o comentador da Bloomberg.
O analista compara a situação de Atenas e de Lisboa, destacando que “Portugal - um dos países mais pobres da União Europeia, com um PIB per capita de apenas 21.000 dólares, significativamente abaixo dos 26.000 dólares da Grécia – fixou metas de redução do seu défice de 4,5% em 2012 e de 3% em 2013”. “Então e como está a sair-se?”, questiona-se. E responde: “Quase tão bem como a Grécia – ou seja, nada bem. Prevê-se que a economia grega registe uma contracção de 6% este ano e Portugal não fica muito atrás – o Citigroup estima que a economia ‘encolha’ 5,7% em 2012 e mais 3% em 2013”.
Matthew Lynn recorda o estudo da Universidade do Porto, divulgado na semana passada, que diz que a economia paralela aumentou 2,5% no ano passado e que representa agora cerca de 25% da actividade económica em Portugal. “E não há qualquer expectativa de que isso vá mudar em breve. As empresas portuguesas simplesmente não conseguem sobreviver a pagar as taxas de imposto que lhes foram impostas”, refere o especialista.
“O resultado qual será?”, pergunta. E volta a responder: “Os objectivos de redução do défice não vão ser cumpridos. No início deste mês, o governo reviu em alta a previsão do défice, de 4,5% para 5,9% do PIB este ano. Se a experiência grega for válida, esta meta continuará a ser revista em alta. A economia encolhe, cada vez mais pessoas transitarão para a economia subterrânea para sobreviverem e o défice continuará a crescer”. “Em resposta, a União Europeia exige mais e mais austeridade – o que significa, muito simplesmente, que a economia continuará a contrair-se ainda mais. É um círculo vicioso. Se alguém souber como sair dele, então está a guardar o segredo para si próprio”, comenta Lynn.
O comentador da Bloomberg recorda o corte do “rating” da dívida soberana de longo prazo de Portugal, para nível de “lixo”, por parte da Standard & Poor’s. Das três principais agências, só faltava a S&P para a dívida pública de Portugal ser colocada na categoria “especulativa” – ou seja, não é considerada “digna” de investimento, atendendo aos riscos que os investidores correm de não serem reembolsados. Segundo Matthew Lynn, haverá mais “downgrades”. “Os juros da dívida estão a disparar. Na semana passada, as ‘yields’ das obrigações a 10 anos superaram os 14%. E deverão subir ainda mais”, prognostica. O analista relembra que a maturidade a 10 anos da dívida soberana grega já está com juros de 33% e diz que “não há qualquer razão para as ‘yields’ da República Portuguesa não atingirem os mesmos níveis”.
“E isso é importante”, sublinha. Isto porque, adianta, a crise grega poderia até ser vista como um caso especial. “Mas não a de Portugal. Não houve ‘manipulação’ nos números [Portugal] não registou défices excessivos – com efeito, quando caminhávamos para a crise de 2008, o País apresentava défices de menos de 3% do PIB, bem dentro das regras impostas pela Zona Euro. Não era irresponsável. O problema, muito simplesmente, é que Portugal não conseguiu competir no seio de uma moeda única com economias muito mais fortes. Agora, o País está a mergulhar numa depressão em toda a escala – tão má como o que se testemunhou nos anos 30 [Grande Depressão] – devido à união monetária”.
Lynn refere igualmente que os bancos europeus estão mais expostos a Portugal do que à Grécia. “No total, os bancos têm uma exposição de 244 mil milhões de dólares a Portugal, contra 204 mil milhões de dívida grega”, segundo os dados do Banco de Pagamentos Internacionais citados pelo analista da Bloomberg. “O grosso da dívida portuguesa é detido pela Alemanha e pela França. Mas estes são os dados oficiais. É bem provável que grande parte da dívida privada, que é mais substancial do que a dívida pública, seja detida por bancos espanhóis. E estes já estão frágeis. Conseguirão assumir as perdas? Talvez, mas não apostaria a minha última garrafa de vinho do Porto nisso”, comenta Matthew Lynn.
Em seguida, diz o colunista da Bloomberg, esta situação também irá repercutir-se na moeda única. “Se um país entrar em incumprimento, dentro de uma união monetária, isso pode ser visto como um acidente infeliz. Todas as famílias têm uma ovelha negra. Mas quando um segundo país cai, o caso fica muito mais sério. A ideia de que isto é culpa de alguns governos irresponsáveis vai deixar de ser sustentável. A explicação alternativa – a de que o euro é uma moeda disfuncional – vai ganhar mais peso”. Segundo Lynn, “um incumprimento da dívida soberana por parte de Portugal desencadeará uma retirada da Zona Euro – e neste momento, parece que esse poderá ser o motor que desencadeará o colapso do sistema”. “Foram cinco séculos de espera. Mas agora Portugal poderá estar prestes a desempenhar de novo um papel central na economia global”, conclui o especialista da área financeira.
Ao Negócios, Matthew Lynn reafirmou o que diz no seu artigo de opinião. Questionado sobre se há alguma possibilidade de Portugal não entrar em incumprimento, responde que não. “Penso que é inevitável um ‘default’ de Portugal, caso se mantenha no euro. Quando uma economia está a encolher 5% ao ano, é impossível que a dívida fique sob controlo. Por isso, as dívidas vão ficando cada vez maiores”.
“A única coisa que poderia evitar o incumprimento seria uma ampla ajuda financeira por parte do resto da Zona Euro. Isso estabilizaria a dívida e daria à economia uma hipótese de crescer. Mas isso não vai acontecer – por isso, o ‘default’ é a única opção. É apenas uma questão de tempo”, disse ao Negócios.
[Hoje, no site do JNegócios]
[Hoje, no site do JNegócios]
Our love is easy
Deep within your heart, you know it's plain to see
Like Adam was to Eve, you were made for me
They say the poisoned vine, breeds a finer wine
Our love is easy
If you ask me plainly, I would gladly say
I'd like to have you round just for them rainy days
I like the touch of your hand
The way you make no demands
Our love is easy
Our love is easy
Like water rushing over stone
Oh, our love is easy
Like no love, I've ever known
Physically speaking, we were made to last
Examine all the pieces of our recent past
There's your mouth of tears
Your hands around my waist
Our love is easy
Every time we meet, it's like the first we kiss
Never growing tired of this endlessness
It's a simple thing, we don't need a ring
Our love is easy
Deep within your heart, you know it's plain to see
Like Adam was to Eve, you were made for me
They say the poisoned vine, breeds a finer wine
segunda-feira, janeiro 23, 2012
Espelho retrovisor
"Por imposição da anatomia humana, a única maneira de fixar os olhos no passado é virar as costa, a nuca e os calcanhares ao futuro. Se te fixas no passado, ficas de costas para o futuro."
Only worth living if somebody is loving you
winging in the backyard
Pull up in your fast car
Whistling my name
Open up a beer
And you say get over here
And play a video game
I'm in his favorite sun dress
Watching me get undressed
Take that body downtown
I say you the bestest
Lean in for a big kiss
Put his favorite perfume on
Go play a video game
It's you, it's you, it's all for you
Everything I do
I tell you all the time
Heaven is a place on earth with you
Tell me all the things you want to do
I heard that you like the bad girls
Honey, is that true?
It's better than I ever even knew
They say that the world was built for two
Only worth living if somebody is loving you
Baby now you do
Singing in the old bars
Swinging with the old stars
Living for the fame
Kissing in the blue dark
Playing pool and wild darts
Video games
He holds me in his big arms
Drunk and I am seeing stars
This is all I think of
Watching all our friends fall
In and out of Old Paul's
This is my idea of fun
Playing video games
It's you, it's you, it's all for you
Everything I do
I tell you all the time
Heaven is a place on earth with you
Tell me all the things you want to do
I heard that you like the bad girls
Honey, is that true?
It's better than I ever even knew
They say that the world was built for two
Only worth living if somebody is loving you
Baby now you do
(Now you do)
It's you, it's you, it's all for you
Everything I do
I tell you all the time
Heaven is a place on earth with you
Tell me all the things you want to do
I heard that you like the bad girls
Honey, is that true?
It's better than I ever even knew
They say that the world was built for two
Only worth living if somebody is loving you
Baby now you do
Love you, Mary & Alex
Ana Sá Lopes: O boneco
Em Portugal, ninguém foi mais feliz a criar uma personagem política do que Aníbal Cavaco Silva. Mal surgiu, nos anos 80, o boneco foi ridicularizado por toda a intelligentsia nacional – afinal, dez anos após a revolução, a personagem decidia reciclar para o regime democrático o mais forte e durável mito político português, António Oliveira Salazar.
Como o outro, Cavaco Silva era austero, poupado, determinado, de origens muito humildes, autoritário, odiava a política e os políticos, muito conservador e católico e colocava-se acima da plebe. E a plebe adorou: Cavaco foi um sucesso em 1985, um muito maior sucesso em 1987, repetiu a inédita maioria absoluta em 1991, deu cabo do seu sucessor Fernando Nogueira em 1995, perdeu as presidenciais em 1996, mas ganhou- -as em 2006 por dez anos.
O que é verdadeiramente extraordinário é que o boneco tenha resistido sempre ao longo dos anos, sem mácula. Sucessivas investigações jornalísticas esforçaram-se para desmontar o mito, mas o boneco resistiu impávido, contra todas as evidências. Era falso que Cavaco Silva tivesse decidido candidatar-se em pleno congresso da Figueira da Foz – já andava a conspirar há muito com esse objectivo. Era falso que as suas origens fossem pobres – o pai tinha negócios rentáveis no Algarve. Era falso que tivesse apoiado o PSD nas eleições de 2005 – escreveu o artigo da “moeda má” contra Santana Lopes e recusou-se a participar na campanha eleitoral alegando incompatibilidade com actividades académicas. Era falso que não fosse um político profissional; era falso que não tivesse ligações ao Banco Português de Negócios – o arguido Dias Loureiro era amigo pessoal e alguém arranjou umas acções ao preço da chuva. Era falso que o governo passado estivesse a vigiar a Presidência da República (só se provou ser verdade que a Presidência da República tentou manipular jornais para criarem uma suspeita sobre o governo). Etc. etc.
Mas o boneco resistiu a tudo. O boneco era inatingível, uma espécie de sempre--em-pé, permanentemente com uma obsessão pelo dinheiro – até porque a propaganda sobre a falta dele e a urgência de poupar era indissociável da personagem. Não é a primeira vez que Cavaco Silva lamenta os azares da vida financeira. Na sequência da história do BPN, afirmou “estar a perder muito dinheiro” e anunciou ao mundo: “Boa parte das nossas poupanças andam desaparecidas”.
Na história da falta de dinheiro para as despesas e da reforma dos 1300 euros, o boneco com 30 anos de vida, inesperadamente, ganhou vida própria, arranjou uma arma mortífera e matou o cria.
Ana Sá Lopes, hoje, no i
domingo, janeiro 22, 2012
Pedro Marques Lopes: Então, e a verdade?
O homem que inúmeras vezes apareceu perante os portugueses exigindo que se falasse verdade não falou verdade. O homem que afirmou solenemente que quem o acusava de condutas menos próprias na condução de alguns negócios particulares teria de nascer dez vezes para ser mais sério do que ele não foi sério. Deliberadamente, escondeu uma parte do que ganha. E não foi sério quando disse que não sabia quanto seria o valor total das suas pensões.
O homem frontal, que faz gala de que a sua vida seja um livro aberto, omitiu. Omitiu ou disse uma meia-verdade, que como toda a gente sabe é sempre uma redonda mentira, quando, sem um pingo de vergonha, fingiu ter de livre e espontânea vontade prescindido do seu salário como Presidente da República. Todos nós sabemos que lhe estava vedado por lei acumular as suas pensões com esse salário. Decidiu omitir que a escolha que fez foi entre receber cerca de dez mil euros mensais das reformas ou aproximadamente sete mil de salário.
Mas estou disposto a, pelo menos, negar parte do que acabo de escrever e admitir que, de facto, além de tudo isso, Cavaco Silva não consegue pagar as suas despesas, que dez mil euros não chegam para cobrir os seus gastos. Nesse caso tinha-nos enganado quando nos fez crer que era um homem austero e prudente nos seus investimentos, avesso a gastos desnecessários, que utilizava mantinhas em sua casa para não desperdiçar dinheiro em aquecimento central e que tinha um padrão de vida pautado pela contenção e sobriedade. É que, convenhamos, ganhar os tais dez mil euros somados aos oitocentos da sua mulher (será?), não pagar refeições, gasolina, telefones e demais despesas correntes, como é direito de um presidente da República, e, mesmo assim, não lhe sobrar dinheiro, é próprio de um verdadeiro estroina que anda para aí a deitar dinheiro à rua. Temo pelos seus seiscentos e cinquenta e um mil euros que até agora poupou e ainda conserva em vários bancos. Bom, não é que já não tivéssemos indícios de alguma negligência na condição das suas finanças. Como todos nos recordamos, Cavaco Silva comprou e vendeu acções da SLN, mas não sabia como o negócio tinha sido feito nem do que teria auferido em mais-valias.
O homem que se reclama do povo, que veio do povo, que sente que o povo está a escutar a sua mensagem, não tem pejo em dizer que só à custa das suas poupanças consegue sobreviver. Pois, não sei a que povo se está a referir. O povo que eu conheço não se indignará com os rendimentos dele, são fruto do seu trabalho e com certeza fez por os merecer. Não gostará é, estou certo, de que brinquem com ele. Não apreciará que um homem rico, e Cavaco Silva pelos padrões portugueses é um homem rico, insinue que está a fazer os mesmos sacrifícios que o povo a que diz pertencer.
É que esse povo é constituído por mais de seiscentos mil desempregados, por um milhão e meio de pessoas que trazem para casa quinhentos euros por mês, por trabalhadores por conta de outrem que ganham em média oitocentos euros mensais. Ninguém pediria ao Presidente da República que vivesse com oitocentos euros. Pedir-se-ia sim que compreendesse os sacrifícios, as terríveis condições de vida, a angústia dos que vivem desesperados por não verem perspectivas para os seus filhos e que se pusesse ao lado deles, que os guiasse para uma vida mais digna. Mas não, Cavaco Silva preferiu muito simplesmente gozar com o seu povo.
Pode ser, no entanto, pior. Às tantas, o político profissional com mais anos de carreira não conhece a real situação dos portugueses. O homem que foi eleito primeiro--ministro três vezes e Presidente da República duas, ignora como os cidadãos vivem. Nesse caso, o problema, infelizmente, não é dele, é nosso, pois temos votado num indivíduo que se está borrifando para nós e para a nossa vida.
Anteontem tive vergonha de ter votado algumas vezes neste senhor.
sábado, janeiro 21, 2012
sexta-feira, janeiro 20, 2012
Sándor Márai: As velas ardem até ao fim
É muito provável que hoje tenha lido um dos melhores livros da minha vida...
"Quem sobrevive ao outro é sempre traidor. (...) Sobreviver a alguém , a quem amámos tanto que teríamos sido capazes de matar por ela, sobreviver a alguém, a quem estávamos ligados de tal maneira que quase morremos por isso, é um dos crimes mais misteriosos e inqualificáveis da vida."
quinta-feira, janeiro 19, 2012
Eugénio de Andradre, 89 anos (porque os poetas não morrem)
Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.
É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.
É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.
Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.
Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.
É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.
É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.
Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.
Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"
quarta-feira, janeiro 18, 2012
Ana Hatherly
"Os livros estão sempre sós. Como nós. Sofrem o terrível impacto do presente. Como nós. Têm o dom de consolar, divertir, ferir, queimar. Como nós. Calam sua fúria com sua farsa. Como nós. Têm fachadas lisas ou não. Como nós. Formosas, delirantes, horrorosas. Como nós. Estão ali sendo entretanto. Como nós. No limiar do esquecimento. Como nós. Cheios de submissão ao serviço do impossível. Como nós.
segunda-feira, janeiro 16, 2012
domingo, janeiro 15, 2012
sábado, janeiro 14, 2012
The last goodbye
[Merci, Alex!]
It's the last goodbye I swear
I can't rely on a dime a day love that don't go anywhere
I learn to cry for someone else
I can't get by on an odds and ends love that don't ever match up
I heard all you said and I took it to heart
I won't forget I swear
I have no regrets for the past is behind me
Tomorrow reminds me just where
Can't quite see the end
How can I rely on my heart if I break it with my own two hands?
I heard all you said and I love you to death
I heard all you said don't say anything
It's the last goodbye I swear
I can't survive on a half-hearted love that will never be whole
terça-feira, janeiro 10, 2012
Rui Neves: (E)migrar? Não, obrigado!
"Filho, ainda bem que és jornalista. Porque não sabes fazer rigorosamente mais nada!" Com apenas a antiga 4.ª classe, o Sr. Vitorino era dono da caligrafia mais bonita do mundo. Delicado em tudo o que fazia, cada letra por si desenhada era arte. Acho que herdei muito bom património imaterial do meu pai, menos o engenho de dar bom corpo à letra.
Mudar um pneu ou o óleo do carro, montar uma peça de mobiliário, desentupir um cano, plantar couves, sei lá, tudo isto o meu pai sabia fazer. Já o seu filho mais novo, enfim, sempre demonstrou não fazer parte de um típico clube português chamado "desenrascanço". "Só sabes ler e escrever", insultava-me, com carinho. E eu gostava. O que vale é que continua a haver quem acredite no meu trabalho. E eu continuo a acreditar que é possível fazer carreira a partir do Porto, de Bragança, de Viseu, de Beja, de Faro, do Funchal, de Ponta Delgada, de qualquer outro ponto do País, em qualquer profissão. Mais não seja pelo apego à terra, à vontade de ser português no local onde nasci, de saber que a soberania sobre qualquer território só se mantém enquanto houver quem aí resida e trabalhe. Este não é um discurso de direita ou de esquerda, é uma convicção de frente de combate contra a deserção, pela luta contra o despovoamento de cada uma das partes que corporizam o País fundado por Afonso Henriques.
No Portugal de hoje, tal como em muitas outras épocas no passado, ninguém tem legitimidade para acusar quem, por necessidade financeira, profissional, familiar ou até psicológica, se tornou (e)migrante. A liberdade individual é o bem mais precioso do ser humano e não deve haver impedimentos, nomeadamente de ordem política, que a possam coarctar. Até porque o País também ganha com essa demanda, pelas mesmas razões e até porque contribui, embora cada vez menos, para tornar a nossa balança de pagamentos menos deficitária. Mas alguém tem que resistir.
O estatuto de Estado-nação mais antigo da Europa não tem prazo vitalício - é e será sempre um projecto em construção, que necessita de mão-de-obra intensiva em cidadania, se possível qualificada e comprometida. E eu quero continuar a ser um contribuinte exigente e cá residente. Gosto de Portugal, amo o Norte, continuo perdidamente apaixonado pelo Porto. Para mim, a Invicta é um porto de chegada e não de partida. Porque há ambições do tamanho do universo que podem - devem - ser realizadas num território Património Mundial. Porto, 2012: estou na minha cadeira de sonho. Reuters? Financial Times? Era bom, não foi?! Alô Lisboa, um abraço deste que tanto vos quer, sou capaz de ir aí pelo Natal...
[Hoje, no JNegócios]
domingo, janeiro 08, 2012
Pedro Santos Guerreiro: Macaquinhos do Chinês
As nomeações para a EDP são um mimo. Catroga, Cardona, Teixeira Pinto, Rocha Vieira, Braga de Macedo... isto não é uma lista de órgãos societários, é a lista de agradecimentos de Passos Coelho. O impudor é tão óbvio nas nomeações políticas que nem se repara que até o antigo patrão de Passos, Ilídio Pinho, foi contratado.
Estava a correr bem de mais... Um grande negócio para o Estado, uma privatização que reforça a EDP, a gestão reconduzida. Mas a carne é fraca. É sempre fraca. Só falta uma proposta na Assembleia Geral da EDP: mudar o nome de Conselho Geral e de Supervisão (CGS) para o de Loja do Governo.
É extraordinário como uma empresa em vias de total privatização se consome na absurda politização. E é surpreendente: a recondução de António Mexia fora uma demonstração de isenção de Passos Coelho: este Governo não gosta de Mexia nem do poder da EDP (basta ler a entrevista de hoje do secretário de Estado da Energia neste jornal) mas quando os chineses perguntaram se o queriam, Passos não se opôs - remeteu a decisão para os accionistas. Ingenuidade do primeiro-ministro? Não, ingenuidade nossa. A troca foi esta lista de famosos da política. Porquê?Eis porquê: primeiro, os chineses concebem as estruturas de poder ancoradas no Estado, pelo que acharão normal a sofreguidão de emissários políticos; segundo, os chineses trabalham em ciclos longos, pelo que os próximos três anos de mandato são, como na anedota, um "deixa-os poisar" que deixará crer que não os novos donos não vêm controlar.
Mas o mais importante é outra coisa: o CGS representa os accionistas da EDP e muitos, aflitos que estão, também querem vender aos chineses. O triângulo amoroso produziu esta aberração.Para ser isto, o CGS da EDP devia ser extinto. Este órgão, criado para gerir o equilíbrio entre o Estado e privados, tornou-se numa loja de vendedores e vendidos. Paradoxalmente, o Conselho de Administração Executivo seria mais independente se o CGS fosse extinto e funções como as de auditoria e remunerações fossem transferidas.António Mexia não é desta loja, ser convidado para um novo mandato é uma grande vitória sua, mas ele sai mais fraco: tem um Governo hostil, aceitou nomes na comissão executiva impostos pelos chineses e está apoiado em accionistas que estão de saída (BES, Mello, BCP).
Voltemos às nomeações. Podíamos dizer que não está em causa o mérito pessoal de cada uma destas pessoas, mas está. Porque o mérito que está a ser recompensado não é o técnico ou sentido estratégico, é o da lealdade e trabalho político. É Catroga (ainda assim, o único aceitável) ter suado por Passos como "ministro sombra", é Teixeira Pinto ter feito a proposta de revisão constitucional, é Braga de Macedo ter feito uma estratégia para a internacionalização que foi triturada por Portas.
É curioso, mas Miguel Relvas, tendo a fama de "apparatchik" que tem, está a fazer as coisas bem. Na RTP, manteve a administração de Guilherme Costa, que tem gente essencialmente próxima do PS. Já Passos reincide na fórmula tenebrosa da Caixa Geral de Depósitos, reforçando a dose: dois cavaquistas (Catroga e Rocha Vieira), dois passistas (Braga e Teixeira Pinto) e um CDS (Celeste Cardona, a mulher mais polivalente de Portugal, já foi ministra, banqueira e agora será conselheira na Energia).
Duas linhas para Ilídio Pinho: é um grande empresário, está ligado ao Oriente e não precisa deste cargo para nada. Precisam talvez as suas empresas. E é pouco recomendável ver metido nisto o accionista e membro dos órgãos da Fomentivest, onde trabalhava Passos Coelho. O próprio devia sabê-lo - e não aceitar.
Por esta lógica, ainda veremos Ângelo Correia ou José Luis Arnaut assomarem numa das próximas nomeações (a próxima é já a Portugal Telecom). O problema é que, enquanto isso, milhões de portugueses estão a perder salários, empregos, a pagar mais impostos, mais pelas rendas ou pela saúde. Estas nomeações são uma provocação social. Porque enquanto muitos tratam da sua vida, alguns tratam da sua vidinha.As nomeações da EDP, como antes as da Caixa, são um mau sinal dentro da EDP e da Caixa, e são um mau sinal do País. Já não é descaramento, é descarrilamento. A indignação durará uns dias, depois passa, cai o pano sobre a nódoa. A nódoa fica. Quem é mesmo o macaquinho do chinês?
[Hoje, no JNegócios]
sábado, janeiro 07, 2012
Changes
"... Strange fascination, fascinating me
Ah, Changes are taking the pace I'm going through..."
sexta-feira, janeiro 06, 2012
Pedro Santos Guerreiro: Massa, Maço, Maçon (em homenagem ao Nicolau Santos)
Declaração de desinteresse: não sou maçon.
Declaração preconceituosa: não gosto da Maçonaria – daquilo em que ela se deixou transformar; tomada de assalto por malta do business, gente da transacção comissionada, do toma-lá-dá-cá-e-se-não-dás-levas-onde-for, gente ameaçadora, ardilosa, manhosa. Gente perigosa.
Declaração irrelevante: tenho amigos maçons que são umas jóias. Tenho amigos que, não sendo maçons, são também umas jóias – mas normalmente estes são mais corajosos. Tive amigos que passaram a patifes, dos que nos levam os nossos cavalos para decepá-los, para deixar as suas equídeas cabeças sangrentas nas nossas camas. Alguns desses amigos deslocaram a coluna. Levaram-na para o peito, para a garganta, para o meio das pernas, para as mãos como adagas. Só o espaço da coluna ficou vazio, deixando o habitat para invertebrados.
Alguns desses amigos viram no "ser maçon" uma protecção, uma projecção, uma ascensão, uma corrupção tolerada. É fácil torcermo-nos tão pouco, mas tão pouco, que a torção é imperceptível. E no entanto…
O poder é como o sol, queima se nos aproximamos. O poder corrompe. E há hordas, corjas, fileiras, trincheiras de pessoas fascinadas com isso: com o poder. Prontos a trocar uma sobrancelha por um Mazeratti na garagem. Sobretudo: essa sensação ridícula e humana de nos sentirmos superiores aos outros. O “ashes to ashes, dust to dust” não nos entra na cabeça, pobres mortais. Cada homem no seu galho, os macacos não se medem aos palmos.
Lincoln disse tudo: queres conhecer o carácter de um homem? Dá-lhe poder.
Ou então dá-lhe livros para ler. Poesia para começar. Ou para acabar.
[Hoje, no Facebook]
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