"Filho, ainda bem que és jornalista. Porque não sabes fazer rigorosamente mais nada!" Com apenas a antiga 4.ª classe, o Sr. Vitorino era dono da caligrafia mais bonita do mundo. Delicado em tudo o que fazia, cada letra por si desenhada era arte. Acho que herdei muito bom património imaterial do meu pai, menos o engenho de dar bom corpo à letra.
Mudar um pneu ou o óleo do carro, montar uma peça de mobiliário, desentupir um cano, plantar couves, sei lá, tudo isto o meu pai sabia fazer. Já o seu filho mais novo, enfim, sempre demonstrou não fazer parte de um típico clube português chamado "desenrascanço". "Só sabes ler e escrever", insultava-me, com carinho. E eu gostava. O que vale é que continua a haver quem acredite no meu trabalho. E eu continuo a acreditar que é possível fazer carreira a partir do Porto, de Bragança, de Viseu, de Beja, de Faro, do Funchal, de Ponta Delgada, de qualquer outro ponto do País, em qualquer profissão. Mais não seja pelo apego à terra, à vontade de ser português no local onde nasci, de saber que a soberania sobre qualquer território só se mantém enquanto houver quem aí resida e trabalhe. Este não é um discurso de direita ou de esquerda, é uma convicção de frente de combate contra a deserção, pela luta contra o despovoamento de cada uma das partes que corporizam o País fundado por Afonso Henriques.
No Portugal de hoje, tal como em muitas outras épocas no passado, ninguém tem legitimidade para acusar quem, por necessidade financeira, profissional, familiar ou até psicológica, se tornou (e)migrante. A liberdade individual é o bem mais precioso do ser humano e não deve haver impedimentos, nomeadamente de ordem política, que a possam coarctar. Até porque o País também ganha com essa demanda, pelas mesmas razões e até porque contribui, embora cada vez menos, para tornar a nossa balança de pagamentos menos deficitária. Mas alguém tem que resistir.
O estatuto de Estado-nação mais antigo da Europa não tem prazo vitalício - é e será sempre um projecto em construção, que necessita de mão-de-obra intensiva em cidadania, se possível qualificada e comprometida. E eu quero continuar a ser um contribuinte exigente e cá residente. Gosto de Portugal, amo o Norte, continuo perdidamente apaixonado pelo Porto. Para mim, a Invicta é um porto de chegada e não de partida. Porque há ambições do tamanho do universo que podem - devem - ser realizadas num território Património Mundial. Porto, 2012: estou na minha cadeira de sonho. Reuters? Financial Times? Era bom, não foi?! Alô Lisboa, um abraço deste que tanto vos quer, sou capaz de ir aí pelo Natal...
[Hoje, no JNegócios]
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