Na ânsia perfeccionista de escolher as melhores canções para o congresso de Espinho, imagino José Sócrates sentado à chinês no chão da sala, frente a uma vasta prateleira de vinis, a vasculhar álbuns antigos à procura de um que o tenha emocionado, logo com potencial para emocionar os outros (não é assim à primeira que se chega a Dionne Warwick! Aposto que primeiro tentou as canções portuguesas...). E quase posso jurar que tropeçou em alguns álbuns antigos dos BAN. Sim, a banda do filho do Major Valentim (ah, se pudéssemos ter adivinhado o futuro de João Loureiro... mas isso é outra história!)
Em 1988, os BAN lançaram um disco chamado "Surrealizar", com uma música inesquecível (não estou a gozar) chamada "Irreal Social", em que o jovem (e, na altura, magro, João) pedia basicamente isto: "Dá-me um ideal imaginário, um ideal ilusório, popular. Surrealizar por aí. Não me dês moral, dá-me um ideal social". Três anos depois, a banda lançou o álbum "O mundo de aventuras" (vídeo não aconselhável a pessoas susceptíveis de se desfazerem numa gargalhada. Depois não digam que não avisei.) em que ex-presidente do Boavista continua a pedir. O quê? Isto: "Aventuras quero mais, paraísos eventuais, ironias, ilusões. Aventuras com mais humor."
Não pode ser à toa que o discurso de José Sócrates, 45 minutos de argumentação para "Vencer 2009", me levou desta forma a este passado. "O tempo não está para aventuras", disse o primeiro-ministro. "A demagogia, o populismo, a irresponsabilidade e o oportunismo político só agravam os problemas", acrescentou. E depois, qual refrão pop, elencou o que nos vai dar se "humildemente" lhe dermos maioria absoluta: bolsas de estudo para jovens carenciados, ensino pré-escolar para todos, 12ºano obrigatório, sobriedade nos salários dos gestores... Enfim, o fim da crise.
João, não pediste um ideal ilusório? Aventuras com mais humor? Helás!
Muito bem... gostei de ler.
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