terça-feira, junho 03, 2008

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Aprendi a esquecer a data em que desapareceste. Data de morte voluntária que coincide com data de nascimento involuntário, como são todos. Escolhi concentrar-me no nascimento. E celebrá-lo sem te levar flores. Sem me lembrar de ti. Celebrá-lo como não foi possível celebrar no dia em que, antes de o aniversariante apagar as velas, o telefone tocou, com alguém do lado de lá a dizer que alguém tinha desaparecido. Ninguém disse que eras tu, mas eu sabia que eras. E eras. A ameaça velada a ensombrar as conversas desde sempre, uma dor que não sabias bem de onde vinha mas que não cabia dentro de ti. Sufocava-te, enlouquecia-te a necessidade de evasão. Escolhi esquecer-te. Escolhemos sempre concentrar-nos no que não faz doer. No que já não podemos remediar. Escolhemos sempre libertar-nos do peso. Mas hoje, sem querer, voltei a lembrar-me. A lembrar-me de quando estavas cá. E de como tudo era mais simples. Estes dez anos pareceram dez dias. Dez dias inteiros que demoraram mais a passar só porque não fizeste parte deles.

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