Podíamos chorar se soubéssemos ainda chorar. E já não sabemos. Mas também já não sabemos rir. Nem o que fazer ao que somos, que é o somatório do que fomos, mas muito pouco do que queremos ser. E menos ainda do que sonhámos que seríamos quando chegássemos aqui. Eu digo que o fim é um novo recomeço. Tu dizes que o fim é o fim. A desistência. Eu digo que desistir é ficar num território sem acreditar nele, a vida a atravessar-nos e não nós a atravessarmos a vida. Tu dizes que ir embora é fácil. Que se fosse fácil ficar estariam cá outros. Será?
Eu digo que acredito no amor para sempre. Tu dizes que também. Eu digo que o amor não é uma condenação. Tu dizes que o amor é mutante. Eu digo que não pode ser um abismo. Tu dizes que às vezes pode. Não pode ao ponto de ser insuportável, digo. Dizes que sou hiperdramática. Sou hiperdramática. E digo que me levas as certezas quando gritas. Tu dizes que não suportas o silêncio. Eu digo que não suporto o barulho. E digo que ele deixa cicatrizes. Tu dizes que cicatrizes são feridas que já não são. Eu digo que ainda doem. Tu dizes que cicatrizes não doem. E se doerem?
Eu digo que tenho saudades do que fomos. Tu dizes que tens saudades do que seremos. Eu falo-te do desencanto. Tu falas-me de esperança. Eu digo que vejo tudo a derreter. Tu dizes que sou incongruente. Se não fosse não seria amor, digo. Tu dizes que eu tenho que recentrar o olhar. Eu digo que estou cansada de palavras. Tu dizes que sou eu quem as gasta. Eu digo espero por ti. Tu dizes: estou aqui. Estás?
*Editors
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