Promete manter o crescimento económico do país e o equilíbrio da aliança estratégica com a Venezuela de Hugo Chávez e o Brasil de Lula da Silva. Promete melhorar a relação com os Estados Unidos de George Bush e combater a inflação, a pobreza, o desemprego e todas as “tragédias” que daí advieram para os argentinos, sobretudo entre 2001 e 2002, resultado de um governo industrialista. Promete, no fundo, ser melhor e mais ambiciosa do que o marido, Néstor Kirchner, a quem agora sucede.
Cristina Fernandéz Kirchner, senadora peronista social-democrata, advogada, 54 anos, anteontem eleita primeira mulher presidente da Argentina, deverá assumir o poder a 10 de Dezembro. Ganhou, nas urnas, com larga margem de distância (46,3%) em relação à liberal-cristã Elisa Carrió, beneficiando sobretudo da inversão da crise, protagonizada pelo marido. Mas conseguirá cumprir o prometido? Conseguirá, sequer, apesar da vitória à primeira volta, convencer os argentinos de que é capaz de o fazer?
Numa incursão pelos locais de voto, os jornalistas da agência France Press afirmaram ter presenciado “um clima de apatia e desinteresse político”, o que poderá denotar que os argentinos não esperam dela senão “mais do mesmo”, uma espécie de continuidade, no feminino, do mandato de Kirchner. Por outro lado, o futuro governo deverá enfrentar uma inflação real elevada – entre 15% a 20%. E embora o Brasil se tenha apressado a garantir que tenciona aumentar o fluxo de investimentos no país vizinho, a verdade é que a Argentina deverá ser obrigada a conviver com uma queda dos investimentos.
Haverá ainda a difícil batalha com os sindicatos pela obtenção de aumentos salariais. Ela pediu “um pacto social” entre empresários, governo e sindicatos; os sindicatos responderam reclamando um aumento de 30%. Depois, há todos os outros dossiês, como o da insegurança ou da violência, por exemplo, que Cristina Kirchner – cuja campanha esteve quase toda concentrada nas relações internacionais –, consciente ou inconscientemente, nunca abordou em período eleitoral. Nunca foi clara, também, em relação a medidas concretas ou à definição de uma estratégia futura para o país. Limitou-se sempre só a assegurar a continuidade.
Eleita várias vezes deputada e senadora, Cristina Kirchner possui uma carreira política mais longa do que a do marido. E mais impetuosa. Desta vez, a candidata da Frente para a Vitória deixou para trás 13 adversários.
No entanto, a mulher que agora é levada ao colo pela imprensa mundial, que lhe compara a ambição e importância às de Hillary Clinton e a baptizou já de “a nova Evita” – senão pelas ideias, sobre as quais há quem tenha dúvidas, pelo menos, pela indumentária europeia e aparatosa –, poderá não passar de um fogo fátuo.
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