Já não gostava de ir ao cinema por causa do público: come pipocas como se tivesse um amplificador sonoro dentro da boca, bebe Coca Cola com a delicadeza dos porcos, fala alto como se estivesse numa tourada e, como se isso não bastasse, ri por tudo e por nada. Geralmente, por nada. Por isso, filmes, só em casa.
No teatro nunca tinha provado este sabor amargo da vizinhança. Até anteontem. Ainda por cima, numa das mais soberbas peças de teatro que alguma vez vi: The Pillowman do irlandês, igualmente soberbo, Martin McDonagh. A peça, que assinalou a inatacável estreia de Tiago Guedes na encenação, estreou no Teatro Maria Matos, em Lisboa, em Outubro. Percorri propositadamente a distância que separa a capital do Porto para assistir. A sala estava cheia. E durante mais de duas horas, o público manteve-se em silêncio. Quando acabou, continuou mudo, provavelmente absorvido pela crueza do texto, pela perfeição das interpretações. Pelo soco da peça.
No Teatro Nacional S. João, no Porto, onde a peça esteve até ontem (Nuno Lopes no lugar do agente Ariel, anteriormente desempenhado por Albano Jerónimo), toda a gente pareceu achar demasiada piada a tudo. Piada a quê?, não consegui parar de me perguntar. A um deficiente mental? A uma criança que foi fechada pelos pais num quarto durante sete anos? À fragilidade humana? Há ali humor, é certo, mas é negro e não dá para rebolar no chão às gargalhadas. Confesso que tive que amarrar os braços por baixo das pernas para não assassinar uma meia dúzia de pessoas. E que me apeteceu, sinceramente, esbofetear outra meia dúzia. E insultar outros tantos.
Infelizmente, o teatro não é coisa que dê para ver em casa. E, infelizmente, também ainda não é possível seleccionar pessoas à entrada. Ou abaná-las à saída. É pena.
É... senti o mesmo. Como é possível rir da história do pequeno jesus? Também me senti incomodada. E as palmas a meio da peça?... no comments
ResponderEliminarMas foi, sem dúvida, um dos melhores espectáculos de teatro que vi. Texto soberbo. Soco no estômago, mesmo.