A amizade é um intervalo matemático impossível de clonar. É desse intervalo, único e irrepetível, mesmo que turbulento, tumultuoso, que nascem as relações de afecto que não queremos perder. E das quais sentimos a falta. Não nasce das virtudes individuais, por infinitas que sejam, de uma ou de outra parcela. Resulta do que se constrói na distância que vai de um ao outro lado. Sentimos a falta dos que têm mau feitio, mau hálito, mau aspecto, má índole, maus modos, mau corte de cabelo. Dos que ouvem música má, lêem livros maus ou não lêem de todo. A falta, muita falta dos que já não voltam. E a falta dos que vivem num paralelo independente. Dos que só vimos uma vez na vida. A falta dos que, de vez em quando, assustam, ferem, gritam, insultam e nos trocam as voltas. Mas nunca a falta daqueles com quem o intervalo é repetível. Uma equação que dá resultados iguais quando conjugada com mais do que uma parcela diferente é uma equação errada. Não nos arrebata. Não nos prende. Não deixa saudades.
Escreve Rodrigo Guedes de Carvalho, no livro "Canário", acabadinho de publicar:
"Um gajo igual a tantos outros que são iguais a tantos outros, que são afinal todos iguais e não se importam, que fazem aliás por serem todos iguais uns aos outros, e por serem todos iguais quem é que há-de dar pela falta dele, daqui a nada aparece outro igualzinho, e depois outro e assim por diante".
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