Comprei uma casa de verão no inverno. Apaixonei-me por ela muito antes de saber que a poderia ter. Não exactamente por ela, mas pelo muro de pedra que ela tem. E não pelo que o muro contém de bloqueio, mas pelo que o muro me devolve da bucólica infância. Não comprei a casa pelo muro. Comprei a casa pelo que o muro significa.
Atrás do muro há um jardim e uma vista privilegiada para o rio. Entre uma coisa e outra há centenas de pássaros durante o dia e milhares de estrelas à noite. E um silêncio que só é interrompido quando os gatos estão com cio. E uma cadeira para não perder a lua quando ela aparece.
Passei o inverno inteiro à espera do verão. Do verão quente da infância. A casa ficava cheia de amigos, fazíamos pic-nics nocturnos no terraço, adormecíamos embrulhados em mantas e coleccionávamos gargalhadas e fotografias para a posteridade.
É verão. Não é quente. E eu estou há três semanas a dormir num hotel.
belíssimo texto.
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