domingo, outubro 22, 2006

A "rivolução" de Pacheco Pereira (conclusão)

Pergunto-me, o que sabe realmente Pacheco Pereira do actual tecido cultural do Porto? Ele que acha que o protesto contra a privatização do Teatro Rivoli foi encetado pelo Bloco de Esquerda? Ele que acha que "o número escassíssimo de pessoas" que se barricou no equipamento pertence ao Teatro Plástico, desconhecendo que a companhia não tem propriamente uma família residente? Ele que parece não saber sequer que, em Portugal, salvo raras excepções, nenhuma companhia a tem? Ele que acredita que os espectáculos do Plástico têm 30 pessoas na plateia, não tendo em dez anos visto uma única peça da estrutura? Ele que não está minimamente a par do teatro e do resto que se faz na cidade, embora na crónica tenha decidido perseguir só o teatro e só o Plástico? Ele que definitivamente não sabe que Lorca, Miller, Virginia Woolf andam por aí nos palcos do Porto, provavelmente com qualidade igual ou superior àquela que ele parece ter visto quando tinha 20 anos?
Ele que considera "completamente absurdas" as "manifestações públicas de apoio inequívoco" da ministra da Cultura - se as tivesse havido e, ao contrário do que escreveu, não houve -, num "governo democrático"? Não será, justamente, liberdade de expressão de um membro eleito que se espera num governo democrático?
O que sabe realmente Pacheco Pereira do tecido social do Porto? Ele que acha que Rui Rio, o autarca "contabilista", ao contrário de Fernando Gomes "dos bons velhos tempos do binómio futebol-"cultura" anda a investir o dinheiro que sobra da sua "severa gestão" na acção social? Pergunto-me há quantos anos não virá Pacheco Pereira ao Porto ou em que ruas passeará quando cá vem.
Aliás, que sabe Pacheco Pereira de Rui Rio? Se acredita, como escreveu, que a "cultura" - e ele lá saberá por que escreve cultura sempre entre aspas -, "é o meio mais eficaz para obter propaganda", por que raio se esqueceu que o autarca do Porto, quando ganhou as últimas eleições, anunciou (mentindo, é certo) uma inflexão nas suas posições culturais prometendo compensar os cidadãos da cidade pelos últimos quatro anos em que subestimou a cultura? Seria uma tentativa de Rui Rio para obter "boa imprensa, legitimidade, figuras de cartaz e "nome"?!

Que poderá saber Pacheco Pereira de uma cidade onde não vive quando defende que antes do 25 de Abril é que era? Antes do 25 de Abril é que "o povo - O povo?! Será que é isto que chateia Pacheco e todo o sequitozinho de Direita? Que o "povo" tenha descoberto outras coisas para lá daquelas a que o queriam limitar?! Que o povo tenha invadido universidades e alcançado horizontes que antes do 25 de Abril estavam apenas à disposição de uma minoria, essa sim, de elite?- dispunha de espectáculos de teatro, quer "sério", quer de revista, com a vinda regular das companhias de teatro de Lisboa ao Rivoli e ao Sá da Bandeira. Será que Pacheco sabe que agora não vêm só de Lisboa? Que vêm do mundo todo? Antes do 25 de Abril, continua, é que havia óperas, "óperas mais "fáceis" como O Barbeiro de Sevilha, o Rigoletto ou a Cavalaria Rusticana, mas era ópera e os espectáculos conheciam enchentes". Reparem bem no desdém: eram óperas mais fáceis mas para o povinho servia e o povinho ia. "Eram espectáculos populares e baratos".
Pacheco Pereira representa o que de pior existe na Direita. Nessa Direita para quem os pobres e os menos esclarecidos fazem imensa falta para lhes recordar que eles não fazem parte desse universo. Só lhes fazem falta para isso, porque depois nem lhes dão cultura nem lhes melhoram a qualidade de vida. Por muito contabilistas e severos que se achem.
Por fim, que sabe Pacheco Pereira do "completo divórcio entre a "cultura" subsidiada e o público, que gera um establishment cultural de muito má qualidade, caro e solipsista, que existe apenas para si próprio e fora de quaisquer critérios que avaliem o uso de dinheiros públicos" quando parece desconhecer que a irmã, Beatriz Pacheco Pereira, e o cunhado, Mário Dorminsky, serão a maior esponja de subsídios da cidade, mentindo sempre, ano-após-ano, no número de espectadores, e também de convidados da imprensa estrangeira que frequenta o seu Fantasposrto? [Ninguém tem culpa da família que tem. E ninguém tem que responder pelos pecadilhos dos outros. Mas o decoro deve obrigar-nos ao silêncio].
"Não não é isso a rivolução dos nossos dias?"

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