quarta-feira, outubro 11, 2006

Faz sentido, não faz?

(Foto: Gustavo Machado)

Por vezes, a crónica não resiste ao chamamento da política, como é o caso, a propósito das declarações de Francisco Assis, deputado europeu e vereador do PS na Câmara do Porto, abrindo a porta a uma plataforma de esquerda, a mais de dois anos das próximas autárquicas, para derrubar Rui Rio e a sua maioria.O assunto tem a ver com a cidade e o modo de a governar, daí o interesse do "desabafo tardio ou mea culpa" de Assis, aliás extemporâneo, na forma e na substância. Ninguém pensa, neste momento, no assunto, está é expectante, na esperança de ver Francisco Assis capitanear uma frente de oposição na Câmara, o que não tem acontecido. Sem isso, tudo o que diga ou proponha, não passa de retórica, fora de tempo e pouco credível.
E comecemos pela questão está hoje a Câmara a governar bem a cidade? É o dr. Rui Rio o presidente adequado para inverter o declínio que se apoderou dela?Cada um responde de sua justiça, mas uma coisa é certa os portuenses, se estão desencantados com a sua Câmara e em verdade muitos estão, metem no mesmo saco poder e oposição, pois tirando "uns fogachos" do eng.º Rui Sá, aliás sem "poder de fogo" representativo, nada mais acontece de substancial. Ou seja, há o Plano da Baixa que se mantém "emperrado", o Rivoli que vai mudar de "gerência", os bairros que estão na mesma, o Bolhão que poucos sabem onde vai desaguar e, sobre isto e muito mais, que estratégias alternativas fundamentadas e consistentes tem o PS/Porto, ou tem divulgado o seu líder na vereação portuense?
Aqui é que bate o ponto tão importante como ser poder e governar é afirmar uma alternativa na oposição e conferir-lhe suficiente credibilidade para "a vender" à opinião pública. Quanto ao resto, aritméticas eleitorais atrás ou à frente é questão a ver na hora própria, por quem para isso tenha legitimidade e para tal esteja mandatado. A esta distância, pode parecer um "foguete" bonito, mas arrisca-se a não passar disso, porque as maiorias constroem-se politicamente e, também, sociologicamente, o que significa análise cuidada e preparação séria, sobretudo conteúdo e compromisso.
Assim a frio e sem cobertura de rectaguarda, é abrir "a agenda" na página errada, no calendário e no acontecimento!Mas voltemos à questão será Assis uma "bandeira" do PS suficientemente forte e credível para arrastar sociologicamente o Porto para uma alternativa de governação da cidade à esquerda? Por outras palavras, já cumpriu o PS/Porto o "período de nojo" suficiente para convencer os portuenses a apostarem de novo nele?Não menos importante será que Rui Rio e a sua equipa vão manter o mesmo "estilo e conteúdo de governação", ou serão capazes ainda de "um golpe de rins", que lhes permita, como aconteceu no mandato anterior, fazer inverter a dúvida dos portuenses a seu favor, sobretudo se a alternativa não oferecer credibilidade e consistência?
São muitas coisas e bastante sérias, para não poderem ser iludidas com a "cortina de fumo" lançada por Francisco Assis, pois o tema até merece ser seriamente tratado e o PS definir-se com clareza sobre ele, mas, no devido tempo, em sedes próprias e com aval de indiscutível manifestação de vontade de quem a deve afirmar. Até lá, tudo bem como opinião pessoal, mas desajustado para quem tem responsabilidades políticas delegadas pelos cidadãos e pouco sinal útil tem dado desse compromisso.Ou não será assim que pensam os eventuais parceiros do "negócio" ora proposto e os cidadãos portuenses em geral?É bom não esquecer que uns e outros sabem muito bem o que querem!

1 comentário:

  1. Aquando das últimas autárquicas queixavam-se, os socialistas, que Assis tinha começado demasiado tarde; agora queixam-se da antecipação! Será a pressa de pôr um pé na porta a Narciso o que o move?

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