quinta-feira, setembro 28, 2006
terça-feira, setembro 26, 2006
Cara ou coroa?
O brasileiro Ediberto Lima, homem que trouxe para Portugal pérolas como o Big Show Sic e o Bar da TV, foi contratado pelo canal regional do Porto, Invicta TV, tendo assumido, no passado dia 16, funções como director geral do canal. Aposto que, antes do fim do ano, apanha Vitor Fernandes, o administrador de 29 anos, na curva, e transforma-se, ele próprio, no administrador da coisa.
domingo, setembro 24, 2006
Filosofia
Gostei de Filosofia como de poucas disciplinas ao longo dos não sei quantos anos que estudei. Sobretudo a do 12º ano. Sobretudo a de Kierkegaard que, aos 16 anos, me abriu a porta para o maravilhoso mundo dos existencialistas. E para uma parte da própria obra dele, que não era obrigatória nas aulas, mas que se tornaria indispensável para a vida, como "O desespero humano", "Conceito de Angústia" ou "Doença mortal". Kant, por exemplo, entendi mais tarde de uma forma diferente. E Hegel, que era uma espécie de ódio de estimação, sofreu a mesma evolução. A verdade é que senti vontade de voltar a todos eles. E ainda volto, recorrentemente. A Platão, a Sócrates, a Nietzsche... Definitivamente, a Kierkegaard. Sempre.
A disciplina ministrada pela temível mas muitíssimo notável professora Amélia Koellher influenciou como nenhuma outra cadeira aquilo em que, de alguma forma, me tornei. A começar pelo acesso à universidade. Lembro, como se tivesse sido hoje, o dia em que fiz a prova específica. Lembro a noite de véspera e aquela manhã em que a mãe me levou a Vila Real para fazer o exame. Lembro que, talvez pela primeira vez na vida, seguramente pela única vez na vida, tinha consciência de saber realmente alguma coisa sobre um assunto concreto. Tive 98% na prova. Entrei na primeira das seis opões: Comunicação Social, em Lisboa - cidade na qual, por outros motivos, nunca cheguei a viver. Sem filosofia ter-me-ía ficado pela terceira ou quarta opção.
Juro que não entendo por que razão o Ministério da Educação tenciona, no próximo ano lectivo, desvalorizar a disciplina enquanto ferramenta de acesso a um dos 357 cursos que a exigiam. Nem as faculdades com licenciaturas em filosofia podem exigir o exame. Em nome de quê?!
sexta-feira, setembro 22, 2006
Isabel Alves Costa
Há qualquer coisa de dolorosamente irónico na medalha de Chevalier des Arts et des Lettres atribuída pelo Governo francês a Isabel Alves Costa, directora artística do Teatro Rivoli, pela sua carreira. O que deveria ter sido, hoje, ao fim da tarde, uma cerimónia de consagração, não passou de um ritual de despedida. Poderia ser mais triste?
Guillemots
Blue world still be blue
It's not raining cats, it's not raining dogs
And pigs are not flying, or turning the cogs
The sun has no hat on, whenever it shines
And I've never seen a cat with nine lives
I'm not in a film, I'm not in a play
I saw no aliens today
I just saw you, and thought of me
And if I had you,
all the stars wouldn't fall from the sky,
and the moon wouldn't start to cry
There'd be no earthquakes
I'd still make mistakes
If i had you
Oh there'd still be day and night,
and I'd still do wrong and right
Ooh Blue would still be blue
But things would be easier with you
And this is no palace, the place that I live
And I am no king, but I've got things to give
And I waste so much time, thinking of time
And I should be out there, claiming what's mine
Any day I could die, just like I was born
And this bit in the middle is what I'm here for
And I just want to fill it all with joy
And if I had you,
all the stars wouldn't fall from the sky,
and the moon wouldn't start to cry
There'd be no earthquakes
I'd still make mistakes
If i had you
Oh there'd still be night and day,
and we'd all still have to pay
Ooh
Blue would still be blue
But things would just be easier with you
quarta-feira, setembro 20, 2006
Guillemots
A mais recente descoberta musical:
Annie, Let's Not Wait
I found something crying;
It was my soul
I fed it milk so it wouldn't grow old
We crossed the borderline at dawn and woke up in a field of corn
My father told me i was late
I better start oiling the gate
Said that those that rush will fall
But i don't want to wait for waves
I don't want to wait at all
Annie, let's not wait
Let's cross the river now
We could sit for years
Staring at our fears
Oh they're such pretty things
They're so cute
But our dreams are all we really need
To grow
I found something dying;
It was my light
It had resigned itself to night
So i threw it out a fishing line
And said catch your will and then catch mine
Annie, let's not wait
Let's cross the river now
We could sit for years
Staring at our fears
Oh they're such pretty things
They're so cute
But in the end they're just a suit
Oh annie let's not wait
Time's not on our side
Well it never was
You know that deep inside
Oh just look at you
With your ruffled hair
Oh i love you
And that's all you need to know annie annie
Espiral de insegurança
Ela já me tinha falado dele. Que é ciumento, possessivo, sufocante, cansativo. Que não conseguia viver nesse colete de forças, nessa desconfiança permanente traduzida em telefonemas sucessivos, perguntas repetidas, insinuações que para ela serão sinal da mais absoluta falta de consideração. Ela, uma daquelas meninas especiais e raras e ímpares na nobreza do carácter, acredita que não existe amor sem respeito e que haver amor - ainda -, estará escondido como um trapo no fundo de uma mala, camuflado. Assisti a alguns telefonemas desse homem, de quem sabia apenas que é arquitecto e mais velho do que ela quatro ou cinco anos. Telefonemas sobre amigas que ele jurava não existirem senão na versão masculina, sobre respirações que ele tinha a certeza de ouvir do lado de lá da linha, do lado onde ela estaria tranquilamente avançando sobre uma traição que só existia na cabeça dele. E no coração, porventura ainda mais frágil, mais inseguro desde que ela, atingindo o limite da tolerância, colocara um ponto final na relação.
Ontem, esse homem ganhou um rosto, uma voz, um corpo. Conheci-o no rescaldo do recomeço da relação e no momento exacto em que ele, depois de ter prometido veementemente mudar, voltou a errar. No que ela considera errar. Voltara, mais depressa do que ela teria desejado, a tropeçar no medo de a perder e quis confirmar que ela, a mulher da vida dele, a mulher sem a qual não se imagina capaz de ser feliz, não o estava a preterir. Vi um homem esguio, belo, doce, tímido, a falar sem voz. Petrifiquei. Literalmente. Vi um homem envergonhado, terrivelmente apaixonado, tantos anos depois de se ter apaixonado por ela pela primeira vez, a morrer de pânico de ficar sem a sua menina espevitada, extrovertida, a sua única razão. E vi uma menina-mulher exercer terapia de choque. Como se a terapia de choque pudesse aniquilar a fraqueza dele. Ou a fraqueza de alguém. Vi-o ali, indefeso, lançar-se nessa espiral letal que só experimenta quem tem um medo cego, doente, maior do que as palavras, de perder alguém.
sexta-feira, setembro 15, 2006
Missão: salvar o Douro
Não se ouve sequer o ruído trivial da vida a acontecer. O silêncio impera nas casas, quase todas vazias, quase todas no rés-do chão, encardidas pelo desuso e pela passagem do tempo. E nas vielas estreitas, muitas das quais não vão dar a sítio nenhum. Até os homens a carregar cestos das vindimas trilham o caminho com mudez. Só a chuva, a primeira de Outono, parece contrariar o peso daquela quietude. A paisagem, para quem não vive em Casais do Douro, uma das três povoações de Ervedosa, concelho de S. João da Pesqueira, será idílica. Para qualquer uma das cerca de 40 pessoas que ainda lá resiste, alheia às inovações do mundo, é triste.
“É uma vida muito triste”, confirma dona Maria José, mulher de 76 anos, sentada no beiral da porta a tricotar um conjunto de panos para as netas que, tal como as filhas, só a visitam no dia dos fiéis. “Não lhes levo a mal. Elas têm lá a vida delas, chegaram a pisar uvas para ganhar para os estudos”. Tem uma pediatra, uma enfermeira e uma professora de matemática, todas a morar em Vila Real. A quarta filha casou aos 14 anos, já tem seis descendentes e vive em Tabuaço a “limpar a escola”. Os dois rapazes trabalham em Espanha, que ali ninguém lhes dava emprego. “Mesmo para as vindimas, vão buscar gente de fora”.Ela, viúva há 26 anos, vive sozinha a enganar as horas.”Vivo aqui sozinha nesta chafarica. Sozinha com a televisão e as minhas doenças”. Nem no Natal é diferente. Os dias, todos iguais, e as maleitas fazem com que nem sequer abra a cama para dormir. “Deito-me em cima da coberta. Tanto me faz”. Há coisas que a incomodam mais e que também nunca mudaram. “Nunca tive casa de banho. Meto-me para ali num beco escondido com um balde de água quando quero lavar-me. Para o resto, levo uma sachola para enterrar o que faço”.
Em Casais do Douro não há um único café – os dois que existiam fecharam há muito tempo; não há hospital – o Centro de Saúde mais próximo fica em S. João da Pesqueira, a mais de dez quilómetros de distância; a escola primária também encerrou no último ano lectivo – as seis crianças que lá estudavam vão agora diariamente para Ervedosa. O único estabelecimento comercial é a mercearia de Augusto Sobral, no rés-do-chão da casa que comprou “por 60 contos há 43 anos”.
“A vida é muito difícil. Vendo fiado porque ninguém tem dinheiro. Há quem pague à semana; há quem nunca pague. O que hei-de fazer?”, pergunta o homem, 72 anos, cujo filho, como o filho dos outros todos, abalou para outras paragens. “Teve que ir, que isto não é terra de empregos. Nem de empregos nem de nada. Pode passear aqui a qualquer hora que não vê viva alma. Podiam roubar Casais do Douro que ninguém daria por nada”. A culpa, garante, “é dos maiorais” que monopolizam a localidade. “Gente rica com muitas propriedades, muitas casas. Mas não as alugam; preferem tê-las fechadas. A malta nova casa e tem que sair daqui. Daqui a pouco seremos só meia dúzia”, resigna-se.
Manuel Fernandes, tesoureiro da junta de freguesia de Ervedosa, corrobora. “Não é possível fixar aqui novas gerações, porque há um monopólio de três ou quatro famílias que não vendem nem alugam terrenos. Não conseguimos arranjar espaço para construir zonas verdes ou um polidesportivo. Não é possível sequer alugar casa”, lamenta. Daí que a comemoração dos 250 anos da Zona Demarcada do Douro não interesse à população. “As pessoas têm coisas mais urgentes a ocupar-lhes a cabeça: não têm poder de compra, estão cada vez mais endividadas. Se dizem que trabalham na lavoura, o banco não lhes concede crédito. Vivem uma crise terrível, que não é atenuada com o aniversário”, sublinha.
O pessimismo é de tal ordem que a própria Junta tem recusado as sucessivas solicitações para tomar conta dos Correios. “Os CTT dizem que pagam o funcionário. Mas, já sabe como é, daqui a um ano retiram-no para que sejamos nós a assumir o salário. Como não podemos, perderiamos também o Correio. Já perdemos o médico que vinha cá dar consultas; não podemos dar-nos ao luxo de perder mais coisas”.
Dona Otília já perdeu tudo – até a idade. “Não sei quantos anos tenho. Só sei que qualquer dia mudo-me para aquela casa branca, ali ao fundo”. A casa branca é o cemitério. “É a vida de quem sofre do coração. Já não estou aqui a fazer nada”, diz a encolher-se dentro de casa. Só dona Maria, 68 anos, não é atingida pela nuvem de tristeza que parece corroer Casais do Douro. “Quase não ando, vivo de migalhas, mas chega para todos”. Abre a porta de casa e oferece tudo o que tem. “Recebo com amor e com vontade”.
sexta-feira, setembro 08, 2006
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