"Não temos assim
tão pouco dinheiro"
"A cultura distingue-se pela qualidade e não pela quantidade de dinheiro disponível". Num ano de cortes orçamentais na área da Cultura como não há memória na última década, Pedro Roseta, ministro da tutela, em entrevista ao JN, admite o refluxo em relação a 2001 - "mas isso é óbvio" -, ainda que faça questão de vincar: "Houve um corte, mas não temos tão pouco dinheiro quanto isso". Mas se a dotação financeira não estica, as oportunidades devem ser extensíveis a todos. "Os benefícios não podem contemplar sempre os mesmos", diz, elogiando Coimbra Capital Nacional da Cultura 2003 e recusando ver no Porto 2001 uma oportunidade perdida - "Não creio", sustenta. Em visita oficial ao Porto, anteontem, por ocasião do Porto Cartoon World Festival, o JN interpelou Pedro Roseta, que falou do estado de um país "culturalmente riquíssimo".
(Entrevista de Helena Teixeira da Silva publicada no Jornal de Notícias a 23 de outubro de 2002)
O seu discurso sobre "qualidade cultural" parece estar em perfeita sintonia com a política adoptada pela Câmara do Porto. No entanto, essa linha está a ser fortemente contestada...
Não me pronuncio sobre as acções culturais de nenhuma entidade, autarquia, grupo ou fundação. Para o fazer sobre uma, teria que o fazer sobre todas. E não creio que seja uma missão do ministro da Cultura fazer apreciações sobre as 308 câmaras ou sobre as áreas da sua competência. Não sou um crítico.
No contexto de contenção orçamental, o Porto 2001 poderá ter sido uma oportunidade perdida, considerando, sobretudo, a agitação cultural que despertou?
Não creio, pelo menos, na parte que diz respeito ao Ministério, que é a única sobre a qual eu posso responder. Note agora a nomeação de Ricardo Pais, note todas as actividades previstas até ao final do ano. Há coisas muito interessantes. Pode haver, na quantidade, algum refluxo em relação a 2001, mas isso é óbvio, porque esse ano foi absolutamente excepcional.
E Coimbra? A Capital Nacional da Cultura absorve, este ano, uma fatia considerável do orçamento...
É verdade. Coimbra também tem direitos. Os beneficiados não podem ser sempre os mesmos. De resto, estas coisas têm que ser vistas ao nível do país inteiro. Não podemos ver as coisas só ao nível das cidades, porque hoje as deslocações são tão fáceis que só não participa quem, de facto, não tem vontade.
O novo director da Biblioteca Nacional já nomeado...
Foi escolhido pelo primeiro-ministro e por mim. É uma personalidade notável, cujo currículo é suficientemente conhecido. Actualmente, desempenhava as funções de presidente da Comissão Internacional da UNESCO. É uma pessoa muito conhecida, até porque também escreve nos jornais.
O ex-director, Carlos Reis, demitiu-se por questões orçamentais. A situação foi revista?
Sim, o orçamento foi alterado. Houve um pequeno reforço. Veremos, na Assembleia, a que percentagem nos estamos a referir.
A demissão de José Wallentein, ex-director do Teatro Nacional de S. João, prendeu-se exactamente com a mesma questão. Ricardo Pais também viu a verba reforçada?
Claro, mas isso já estava determinado antes. Já estava previsto um reforço para o S. João. Não está em causa o facto de o Ricardo Pais nos ter convencido a aumentar o orçamento. É uma questão de repartir as coisas por projectos de qualidade e por aquilo que é essencial. Obviamente, não se pode fazer tudo. Eu tenho, todos os dias, entidades, autarquias que gostariam de ter mais dinheiro. Mas não se pode fazer tudo ao mesmo tempo. Também é um acto cultural saber escolher aquilo que se faz em cada momento para as coisas saírem com qualidade. O Porto Cartoon é disso exemplo.
Há quatro institutos que irão ser reduzidos a dois. A lei orgânica que permitirá a fusão estará, como previsto, concluída no próximo mês?
Está a avançar. O grupo prometeu que sim, que estaria concluída na data prevista.
O Instituto Português do Livro e da Leitura sofreu uma redução de 40%; o Instituto Português dos Museus cerca de 5%. Na totalidade, foi exercida sobre a cultura uma dieta de 6%.
É possível cultura sem dinheiro?
Não, claro que não. É absolutamente impossível.
Não, claro que não. É absolutamente impossível.
E com pouco dinheiro?
Tem que ser possível. É isso que estamos a tentar fazer. Mas nós também não temos tão pouco dinheiro quanto isso. Houve, de facto, um corte, mas que se deve a questões herdadas do passado.Como disse na Assembleia, quando apresentei o orçamento, se não tivesse havido desperdícios no passado, talvez agora não houvesse cortes.
Portugal é um país culto?
Depende do sentido, mas claro que sim. Quem é que duvida que os portugueses têm uma cultura milenar? A cultura é tudo, é a forma de estar na vida, é a arte e a tradição popular, é o artesanato, é a música. As pessoas estão cada vez mais cultas, mas queremos que fiquem ainda mais. Sobretudo, queremos que tenham - além dessa cultura herdada, de que nos devemos orgulhar -, a capacidade de ter um espírito crítico para compreender o mundo de hoje e do futuro. Isso é que importa conseguir. Mas é evidente que a nossa cultura é riquíssima. Basta olhar para as produções culturais, os monumentos...
O património é uma prioridade do seu mandato...
É uma delas. Sem dúvida. Estamos a fazer um grande esforço nessa área.
Em termos de conteúdos, defende a política de aproximar a cultura em direcção ao gosto médio das pessoas?
Isso daria um longo debate.
Descentralizar e reconhecer
Em sete meses de governação, o Ministério da Cultura privilegiou a fusão de institutos e a reformulação de projectos. O objectivo político pauta-se pela descentralização e pela aposta no fortalecimento da identidade nacional. Eis os pontos fortes de pouco mais de meio ano de Pedro Roseta à frente da pasta da Cultura:
1. Nomeou Diogo Pires Aurélio como director da Biblioteca Nacional, de Lisboa.
2. Nomeou para a Direcção do Teatro Nacional S. João, no Porto, Ricardo Pais.
3. Aprovou os projectos para o Teatro Aveirense, Teatro Circo, em Braga, Cineteatro Avenida, em Espinho, e Auditório Carlos Alberto, no Porto.
4. Criou a Sociedade Casa da Música/Porto 2001.
5. Apresentou o novo mecenas para o Teatro Nacional D. Maria II e estabeleceu uma parceria entre Coimbra Capital Nacional da Cultura 2003 e a Fundação Bissaya Barreto
6. Reforçou a acção do Instituto Português de Museus, através da preparação da nova Lei-Quadro dos museus.
7. Reformulou o projecto de Vila Nova de Foz Côa.
8. Prepara as fusões de quatro organismos em dois: do Instituto Português do Património Arquitectónico com o Instituto Português de Museus; e do Instituto Português das Artes do Espectáculo com o Instituto de Arte Contemporânea.
2. Nomeou para a Direcção do Teatro Nacional S. João, no Porto, Ricardo Pais.
3. Aprovou os projectos para o Teatro Aveirense, Teatro Circo, em Braga, Cineteatro Avenida, em Espinho, e Auditório Carlos Alberto, no Porto.
4. Criou a Sociedade Casa da Música/Porto 2001.
5. Apresentou o novo mecenas para o Teatro Nacional D. Maria II e estabeleceu uma parceria entre Coimbra Capital Nacional da Cultura 2003 e a Fundação Bissaya Barreto
6. Reforçou a acção do Instituto Português de Museus, através da preparação da nova Lei-Quadro dos museus.
7. Reformulou o projecto de Vila Nova de Foz Côa.
8. Prepara as fusões de quatro organismos em dois: do Instituto Português do Património Arquitectónico com o Instituto Português de Museus; e do Instituto Português das Artes do Espectáculo com o Instituto de Arte Contemporânea.
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