"A ironia era uma novidade para si e sabia-lhe inesperadamente bem, como uma fruta de verão até então indisponível. Em breve, ela e os outros seriam irónicos durante grande parte do tempo, incapazes de responderem a uma pergunta inocente sem carregarem as palavras com um pequeno ajuste mordaz. Passado relativamente pouco tempo, a mordacidade haveria de se atenuar, a ironia misturar-se-ia com seriedade e os anos encurtar-se-iam e voariam. Depois não faltaria muito para que todos se sentissem chocados e tristes por terem crescido por completo e chegado às pessoas adultas mais densas e finalizadas que eram, praticamente sem hipótese de se reinventarem.
(...) Ninguém nos diz durante quanto tempo devemos manter-nos a fazer uma coisa antes de desistirmos para sempre. E também não queremos esperar até sermos tão velhos que ninguém nos contrate noutra área qualquer. (...) Só se tinha uma oportunidade de criar uma identidade na vida, mas a maior parte das pessoas não deixava qualquer marca.
(...) Esta vida estava aqui ao meu dispor, a pulsar, a esperar, e eu não a aproveitei. Mas também sabia que não era obrigatório casar com a alma gémea, nem sequer com um "interessante". Nem sempre se precisava de ser a pessoa estonteante, o centro das atenções, aquela que fazia com que todos rebentassem a rir, ou com quem todos queriam ir para a cama, ou ser aquela que escrevia e interpretava a peça que recebia a ovação de pé. Era possível parar de se obcecar com a ideia de ser interessante. (...) Nunca ninguém prevê que a perda da ociosidade é uma das grandes perdas da vida e uma das que deixa maiores saudades."
Meg Wolitzer, Os Interessantes
[É o décimo romance de Meg Wolitzer e eu nunca tinha ouvido falar dela. Mas este livro é seguramente dos melhores que li este ano. Às vezes, aqui e ali, parece um livro para adolescentes, mas nunca poderá ser lido na adolescência. Embora comece aí, nos melhores anos da vida, o tempo dos pactos eternos, dos amigos para sempre, "intocáveis e incorrosíveis", do amor para sempre, o tempo em que tudo é ainda possível, em que ainda "não se entregou as chaves do mundo a outros", o tempo das expectativas desmedidas, em que se acredita que "o talento, essa coisa fugidia, que nos fará suportar a vida". Wolitzer acompanha seis amigos desde os 15 anos até à idade adulta, uma geração que cresceu nos anos 70, desde o período em que ainda não sabia o que seria, até ao momento em que percebe aquilo que não chegou a ser, confrontando-se com a necessidade de reinvenção, de adaptação à "distância entre a fantasia e a realidade". É um livro cáustico, irónico, muitíssimo divertido, e também triste. O NYT comparou Meg Wolitzer a Jonathan Franzen. Talvez seja excessivo. Ainda assim, é livro que nunca mais se esquece.]