"Eis uma história que não sabe continuar. Ou não pode. Porque a dor, mesmo quando acaba, anuncia: o erguer da pedra, da lança, do machado. O dedo no gatilho, pequeno aconchego da morte. E nada rompe esta certeza. Os seus mecanismos primitivos.
O sol de súbito. A cegueira oblíqua atravessa a casa. E tudo fica transparente. Como no mar a morte, os corpos que nunca chegarão.
Morrer e viver. Duas portas.
Abertas ou fechadas não passarão de portas.
E sabe-se: qualquer porta é uma mentira.
(...) Somos todos uma vez na vida o peso das nossas
mãos.
Uma vez. Pelo menos.
(...) Já não se anuncia, nem anuncia: está aqui. Abro os olhos e vejo-o. E estou sempre a abrir os olhos. Fecho-os e abro-os de seguida. Está aqui. Eis a minha paz. Está aqui e espera como alguém que sabe de um encontro. Não consola. Não dói. A cada abrir de olhos há uma casa que não me reconhece."
(250 exemplares, 33 páginas, sete euros, um título emprestado de um poema de Nuno Guimarães, uma relíquia como todas as de Rui Nunes, que já várias vezes anunciou o último livro. E agora outra vez. Esperemos que ainda não.)
Sem comentários:
Enviar um comentário