terça-feira, setembro 03, 2013

Sandór Márai: Rebeldes



"A consciência de uma cumplicidade cruel derramava-se sobre eles, a alegria excitada da afinidade, a felicidade da careta enorme que faziam nas costas do mundo cândido e adormecido, talvez pela última vez. O actor, dentro de um minuto, fecharia o círculo. Nesse instante, esclarecia-se tudo nas suas mentes: as lembranças comuns, o espírito de revolta que os unia, o ódio ardente contra o mundo, tão incompreensível e improvável como o deles, insensível e mentiroso, exactamente como o deles. E a amizade que os sustinha, a esperança e a angústia, cuja tristeza ainda brilhava nos olhos deles. 

(...) A separação não se devia a nenhuma razão especial. Já haviam superado a necessidade de encontrar pretextos para o ódio recíproco. Sofriam muito, mas todo o ódio vinha suavizado, acomodavam-se nos braços das recaídas, e a luta permanente que destruía as almas, travada em si próprios e contra os outros, silenciara. (...) Tudo o que acontecesse depois seria um caminho descendente, talvez na direcção da morte."


Sem comentários:

Enviar um comentário