quarta-feira, setembro 18, 2013
Juan Luis Panero (1942-2013)
Quando te esqueceres do meu nome,
quando o meu corpo for apenas uma sombra
a apagar-se entre as húmidas paredes daquele quarto,
Quando já não te chegar o eco da minha voz
nem ressoarem as minhas palavras,
então, peço-te que te lembres de que fomos
uma tarde, umas horas, felizes juntos e foi belo viver.
Era um domingo em Hampstead,
com a frágil primavera de abril
pousada sobre os rebentos dos castanheiros,
Passavam para a igreja apressadas freiras irlandesas,
crianças, endomingadas e bisonhas, pela mão.
Em cima, atrás das sebes, na verde
penumbra do parque,
dois homens beijavam-se lentamente.
Tu chegaste, sem que me desse conta
apareceste e começámos a falar,
tropeçávamos de riso nas palavras,
balbuciávamos
no estranho idioma que nem a ti nem a mim pertencia.
De seguida, fizeste-te pequena nos meus braços
e a erva acolheu os teus cabelos escuros.
Depois as escadas sombrias, longas e estreitas,
o tapete com cinza e com gordura,
os teus pequenos seios desolados na minha boca.
Sim, às vezes é simples e é belo viver,
quero que recordes, que não esqueças
a passagem daquelas horas, o seu esperançado resplendor.
Eu também, longe de ti, quando perdida na memória
estiver a sede do teu sorriso, lembrar-me-ei,
tal como agora,
enquanto escrevo estas palavras para todos aqueles
que por um momento, sem promessas nem dádivas,
limpamente se entregam.
Desconhecendo raças ou razões que se fundem
num único corpo mais aventurado
e depois, acalmado já o instinto,
se separam e cumprem o seu destino
e sabem que, talvez só por isso,
a sua existência não foi em vão.
[O que resta depois dos violinos]
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e nós continuamos apenas com duas obras editadas em português e uma delas esgotada há anos...
ResponderEliminar(obrigado pela chamada de atenção)