Chorei em 2001, quando António Guterres abandonou o Governo por ter perdido as autárquicas. Achava que ele era mesmo boa pessoa e acreditava que o país precisava mais de boas pessoas do que de bons políticos. Trabalhava há menos de um ano, senti-me ridícula por chorar na redacção, jurei que nunca mais voltaria a chorar.
Voltei a chorar em 2005, quando Francisco Assis perdeu as autárquicas para Rui Rio. Quando escolhi o Porto para viver, escolhi uma cidade cuja ambição cultural era maior do que a rua de bares trendy que haveria de vir e a praça de acolhimento da pipoca ao pimba. Rui Rio despira a cidade de cultura e sem cultura na cidade sentia-me perdida. Mas já era crescida, não tinha desculpa para chorar, senti-me obviamente ridícula, jurei que fora a última vez, não voltaria a acontecer.
Voltou a acontecer em 2008, quando Obama ganhou as eleições nos EUA. Estava em Chicago, num parque a explodir de gente ansiosa, gente ressacada de George W. Bush. Acreditava que no mundo haveria um antes e um depois daquele dia, alguém gritou "We win Ohio!", não me contive, chorei e toda a gente à volta chorou numa corrente arrepiante que mil anos não conseguirão apagar. Mesmo se Obama, precocemente Nobel da Paz, parece tê-lo apagado da memória.Não voltei a chorar, mas também não voltei a jurar que não voltaria a chorar. Perder a vergonha de chorar significa que sucessivos desapontamentos não são suficientes para despenhar a esperança. Continuo a acreditar que o mundo precisa mais de pessoas boas do que de políticos profissionais, que a cultura é tão importante como o pão, e que não nascendo todos iguais cabe a quem manda tudo fazer para abolir a distância que nos separa.
É por isso que, também desta vez, não consigo brincar com as autárquicas, mesmo se a maioria dos candidatos, aqui como noutras paragens, por defeito ou por excesso, não merece ser levada a sério. Nos dias que correm, a ingenuidade será um absurdo próximo de Sísifo, mas manter intacta a esperança nas pessoas é uma benção. Não é o que nos resta num regime que respeita hierarquias, é provavelmente o que nos salva num sistema em que tomar decisões e votar pode fazer toda a diferença.
Gostava muito de não chorar amanhã.
Voltei a chorar em 2005, quando Francisco Assis perdeu as autárquicas para Rui Rio. Quando escolhi o Porto para viver, escolhi uma cidade cuja ambição cultural era maior do que a rua de bares trendy que haveria de vir e a praça de acolhimento da pipoca ao pimba. Rui Rio despira a cidade de cultura e sem cultura na cidade sentia-me perdida. Mas já era crescida, não tinha desculpa para chorar, senti-me obviamente ridícula, jurei que fora a última vez, não voltaria a acontecer.
Voltou a acontecer em 2008, quando Obama ganhou as eleições nos EUA. Estava em Chicago, num parque a explodir de gente ansiosa, gente ressacada de George W. Bush. Acreditava que no mundo haveria um antes e um depois daquele dia, alguém gritou "We win Ohio!", não me contive, chorei e toda a gente à volta chorou numa corrente arrepiante que mil anos não conseguirão apagar. Mesmo se Obama, precocemente Nobel da Paz, parece tê-lo apagado da memória.Não voltei a chorar, mas também não voltei a jurar que não voltaria a chorar. Perder a vergonha de chorar significa que sucessivos desapontamentos não são suficientes para despenhar a esperança. Continuo a acreditar que o mundo precisa mais de pessoas boas do que de políticos profissionais, que a cultura é tão importante como o pão, e que não nascendo todos iguais cabe a quem manda tudo fazer para abolir a distância que nos separa.
É por isso que, também desta vez, não consigo brincar com as autárquicas, mesmo se a maioria dos candidatos, aqui como noutras paragens, por defeito ou por excesso, não merece ser levada a sério. Nos dias que correm, a ingenuidade será um absurdo próximo de Sísifo, mas manter intacta a esperança nas pessoas é uma benção. Não é o que nos resta num regime que respeita hierarquias, é provavelmente o que nos salva num sistema em que tomar decisões e votar pode fazer toda a diferença.
Gostava muito de não chorar amanhã.
Fico feliz por saber (agora pós-eleições) que não tem razões para chorar. Também por saber que partilha comigo o encanto do Douro e os mistérios do granito enevoado.
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