segunda-feira, fevereiro 04, 2013
Philip Roth: Engano
- Eu escrevo as respostas. Começa tu.
- Como se chama?
- Não sei. Como vamos chamar-lhe?
- Questionário sobre o sonho de fugirmos juntos.
- Questionário sobre o sonho dos amantes de fugirem juntos.
- Questionário sobre o sonho dos amantes de meia-idade de fugirem juntos.
- Tu não és de meia-idade.
- Ai isso é que sou.
- A mim pareces-me jovem.
- Ai sim? Bem, isso vai ter certamente de ressaltar do questionário. Os dois candidatos têm de responder a todas as perguntas.
- Começa.
- Qual é a primeira coisa a meu respeito que te mexeria com os nervos?
- Quando estás no teu pior, o que é o teu pior?
- Tens mesmo essa vivacidade toda? Os nossos níveis de energia equivalem-se?
- És extrovertida, encantadora e equilibrada, ou és solitária e neurótica?
- Quanto tempo levarias a sentir atracção por outra mulher?
- Ou homem?
Não podes envelhecer nunca. Pensas o mesmo a meu respeito? Costumas pensar no assunto?
- Quantos homens ou mulheres tens de ter em cada momento?
- Quantos filhos queres ter a interferir na tua vida?
- És uma pessoa organizada?
- És completamente heterossexual?
- Tens ideias concretas sobre o que me interessa em ti? Responde com precisão.
- Dizes mentiras? Já alguma vez me mentiste? Achas que mentir é uma coisa normal, ou és contra a mentira?
- Esperarias que te dissessem a verdade se a exigisses?
- Exigirias a verdade?
- Pensas que a generosidade é um sinal de fraqueza?
- Os sinais de força são importantes para ti?
- Quanto dinheiro posso gastar sem tu te zangares? Entregavas-me o teu cartão Visa sem fazer perguntas? Deixavas-me ter poder sobre o teu dinheiro?
- Em que aspectos já sou uma desilusão?
- O que é que te embaraça? Diz-me. Ao menos sabes?
- Quais são os teus verdadeiros sentimentos em relação aos judeus?
- Vais morrer? És mental e fisicamente saudável? Responde com precisão.
- Preferias alguém mais rico?
- Até que ponto iria o teu embaraço de fôssemos descobertos? Que dirias se entrasse alguém por aquela porta? Quem sou eu e por que razão está tudo bem?
- Quantas coisas escondes de mim? Vinte e cinco. Mais alguma?
- Não me ocorre nenhuma.
- Aguardo com ansiedade as tuas respostas.
- E eu as tuas. Tenho uma pergunta.
- Sim.
- Gostas do que eu visto?
- Estás a exagerar.
- Não estou nada. Quanto mais banal é o defeito, mais raiva inspira. É o que me diz a experiência.
- Está bem. Última pergunta.
- Eu faço. Eu faço. A última pergunta. Continuas de algum modo, em algum recanto do teu coração, a alimentar a ilusão de que o casamento é um caso de amor? Se sim, isso pode ser a causa de muitos problemas.
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