Germano Oliveira
Jornal de Negócios
Não vão aos festivais, mas vão dar festival
Como se já não fosse suficientemente bom o que vai andar pelos festivais, ainda há isto: concertos em nome próprio de gente que pode salvar vidas ao vivo. O Verão vai ter Bon Iver, o Outono vai perder a cabeça com o "rock'n'roll" e, pelo meio, vem aí um poeta. São destaques possíveis do cartaz paralelo aos festivais - há mais além destes, mas tem de se começar por algum sítio.
É pegar em "Calgary" e pô-la a rodar. Se isto não for uma das canções mais bonitas que algum dia ouviu, é melhor passar directamente para o subtítulo seguinte, porque há coisas mais mexidas por lá. E "Calgary", muito provavelmente, até nem deve ser o melhor tema de Bon Iver - a questão é saber qual é. Justin Vernon, que é o nome do rapaz, é um tipo muito especial. Ele faz cantigas que arrepiam gente apaixonada e desencantada, de esquerda e de direita, rebeldes e mansinhos, fãs do Ronaldo e do Messi - já se percebeu a ideia. Isto é música que purifica, de tão triste que às vezes é; isto é música que arrebata, de tão contida que tantas vezes é; isto é música avassaladora, de tão tocante que sempre é. E dá-nos vontade de ser melhores pessoas - sim, é graciosa a este ponto. Bon Iver vai andar por cá fora dos festivais. A 24 de Julho, o Coliseu de Lisboa está pronto para abraçá-lo - e é palco singular para ouvir "Lisbon, OH", instrumental sobre uma prisão no Ohio, onde aparentemente esteve detido um amigo de Justin Vernon. No dia seguinte, Bon Iver segue para o Coliseu do Porto e quem puder que siga depois com ele para onde tiver de ser.
Novo exercício: é pôr a rodar "Lonely Boy", "Gold On The Ceiling" ou "Howlin' For You". Das duas uma (ou ambas, porque aqui tudo é permitido): já ouviu isto na rádio, na televisão, na "net" ou algures; quando põe a rodar, percebe que é a primeira vez que está a ouvir os The Black Keys, mas soa-lhe a conhecido. Ora, esta malta não tem medo de soar ao passado, mas é absolutamente actual. E quando se apanha um bom tema dos meninos, dá vontade de beber umas cervejas, andar de mota e até de dizer um palavrão ou outro - no fundo, o povo pode sentir-se rebelde a ouvir isto. Quando vierem a Portugal, os The Black Keys vão ter de provar que são capazes de domar uma sala grande - o Pavilhão Atlântico, em Lisboa, já está reservado. O "rock'n'roll" à antiga está marcado para 27 de Novembro e vem aí rapaziada que não receia sujar a guitarra com distorção e que até arrisca umas danças (há que espreitar com urgência o vídeo de "Lonely Boy", porque aprende-se coisas - o "rock" merecia uma dança assim).
Já se sabe que este homem não se dá mal com as palavras, mas que se fique a saber que ele é capaz de resgatar a autoconfiança dos que não são como o Brad Pitt. Um dia, o senhor Leonard Cohen - o respeitinho é muito bonito - falou ao coração dos homens normais quando recordou dizeres de um amor antigo: "You told me again you preferred handsome men, but for me you would make an exception". O que não se sabe ainda é se todas as mulheres que admitem abrir excepções andam a ouvir estas histórias do senhor Cohen, mas pelo menos as portuguesas podem conhecer os detalhes em breve. A 7 de Setembro, o Pavilhão Atlântico vai receber um dos nomes essenciais da música que se fez e se faz. E como se pode estar a correr o risco de isto soar a um manifesto dos homens normais, que se saiba que há algo maior que nos resgata a todos. O senhor Cohen disse tudo no mesmo "Chelsea Hotel": "Well never mind, we are ugly but we have the music". Ora nem mais.
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