Jornal de Negócios
Óbvios, mas imperdíveis
Além de "outsiders" que sabem o que fazem, os festivais de 2012 vão ter malta muito conhecida que é capaz de vender bilhetes. Radiohead, Björk e Eddie Vedder são casos evidentes, tal como os Cure, os retornados Ornatos ou os Franz Ferdinand. Não há palavras para estes todos, mas os óbvios também são mais fáceis de apanhar nos cartazes.
Escrever sobre os Radiohead é pior que explicar a um estrangeiro como se paga nas ex-Scut. É um desafio pavoroso. Para começar, há que redigir menos e ouvir mais quando o tópico é Radiohead. Tendo em conta que isto é um texto e não um disco, a coisa complica-se. Depois, e quando os álbuns começam a rodar - pode ser qualquer um, porque vai sempre fazer sentido -, o cenário não melhora para quem escreve: isto é imenso (e o dicionário diz que "imenso" significa "tão grande que não pode ser medido ou contado" e bate tão certo). A 15 de Julho, no Alive, os Radiohead pegam nos discos (há "Kid A", há "Amnesiac", há "OK Computer", há "The King of Limbs", há "The Bends", há mais e é tão bom) e vão mostrar ao povo como é. Isto é para sentir e partilhar, porque vai dar vontade de dar a mão se houver alguma para agarrar; isto é para tremer e encrespar, porque é música com carácter; isto é para entender que canções assim não cabem num texto. Quando eles cá vierem, é também tempo de resolver assuntos pendentes. "Os Radiohead são um caso mal resolvido em Portugal. Apesar de gostarem do país, foi talvez uma das poucas bandas do mundo que, por motivos logísticos, não chegava a Portugal sempre que organizava uma tournée", diz Álvaro Covões, da Everything is New, que organiza o Alive. A 15 de Julho, o caso pode ficar bem resolvido.
E por falar em Radiohead, há que viajar no tempo. Aqui há uns anos, a menina Björk fez-se actriz - "Dancer in the Dark" é de ver ou rever -, atirou-se à banda sonora do filme, pegou em Thom Yorke (ele mesmo, a voz dos Radiohead) e saiu um dueto em "I've Seen It All". Há uma outra versão do tema, em que o dueto é com o actor Peter Stormare (este menino acabou mais tarde em "Prision Break" - a vida é assim), mas é com o Thom que é especial. A 9 de Junho, quando Björk andar pelo Primavera Sound, não é de esperar o tipo dos Radiohead, mas ela é menina para aguentar bem sozinha. Björk é uma aventureira que gosta de investigar a voz - e que ciência vocal ela tem. Quando é para mexer com os sons e explorar ritmos, não há aqui medo de ter máquinas a fazer música. E há que dizê-lo: quando ela acerta nas canções ("Jóga", "Army of Me", "Hyperballad" ou "Bachelorette" são exemplos possíveis), dá vontade de lhe escrever cartas de amor.
Os Pearl Jam não se deram mal com o que fizeram. E quando andaram noutras vidas, também não. É ver Mother Love Bone, Mad Season ou Temple Of The Dog, que têm em comum o facto de merecerem ser ouvidos e de terem músicos dos Pearl Jam. E há ainda "Mirror Ball", álbum que ergueram com Neil Young e que é boa companhia para andar na estrada. Eddie Vedder (será que ele se chama mesmo Edward Louis Severson III?) pegou nesta boa aventurança e lançou-se a solo. Começou por escrever as cantigas de "Into the Wild", filme que criou um certo culto, e depois agarrou-se ao "ukulele" para lançar um disco bucólico. A 3 de Agosto, o homem que canta as palavras (e às vezes arrisca umas guitarradas) dos Pearl Jam vai abrir o coração no Sudoeste, na Zambujeira do Mar. Vai ser para deitar a casa abaixo? Dificilmente. Vai despertar abraços e beijinhos? Certamente.
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