quinta-feira, outubro 27, 2005

Acabaram com a Grande Reportagem

Miguel Sousa Tavares criou o monstro: uma publicação mensal notável, premiada, com excelentes reportagens. Escritas e fotográficas. Daquelas que se coleccionam e nunca se deitam fora quando se varrem as tralhas lá de casa. Foi assim a Grande Reportagem durante dez anos. Francisco José Viegas - pobre na sucessão -, transformou o monstro num mito. Enquanto dirigiu a publicação, nunca tanta gente deve ter evocado, com nostalgia, o nome de MST.


E depois, porque não há duas sem três, em 2003, a GR foi transformada numa revista semanal, distribuída ao sábado, com o JN e o DN. Joaquim Vieira não recuperou o monstro, porque, na vida, nunca há atalhos para o passado. Suportando o peso do título, transformou-o na única publicação que, em Portugal, ainda fazia jornalismo de investigação. Jornalismo acutilante e isento. Jornalismo sério e quase, como antigamente, coleccionavel.
Foi despedido. E não foi despedido, apenas, porque a GR será enterrada em Dezembro. Foi despedido com carácter de urgência. Como quem é despejado de casa por dever a renda há vários meses. Como se a imparcialidade, nos dias que correm, tivesse que ser, forçosamente, alvo de punição. O que surpreende não é o despedimento ou o enterro da GR. Feliz ou infelizmente, já somos todos demasiado crescidos para acreditar mais em contos de fadas do que no poder do lucro (e não só) - única meta dos grupos que detêm os media. O que surpreende e quase causa angústia, é que não tenha havido qualquer onda de protesto. Que ninguém tenha simplesmente questionado o funeral...


Parece que estamos, definitivamente, condenados a viver no reino das mulheres nuas do 24 Horas... num país nivelado por baixo.

3 comentários:

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  3. O que já se temia aconteceu... inqualificável. sem palavras... E só hoje descobri o teu weblog, por um comentário que deixaste no conversasdecafé. que fique para memória futura, perdidos na perenidade dos arquivos da net, os teus trabalhos na GR. E que te fique a consciência de dever cumprido. A quem de direito, que pese a consciência por ter ceifado um dos poucos rasgos de lucidez e de bom jornalismo deste país.

    Também tenho saudades querida Helena. Muitas. Tantas conversas para pôr em dia. E tantos, tantos debates! Temos de agendar um fim-de-semana (sim porque um dia já não chega!) só para nós.

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