sexta-feira, fevereiro 26, 2016

Psicopolítica, Byung-Chul Han

Tropecei neste livro algures no fim de semana, comprei-o ontem, terminei-o hoje. É pequenino. A leitura de Byung-Chul Han, coreano da moda, faz-me lembrar a leitura do Lipovetsky no início dos anos 90. Era impossível ler aquilo sem ficar com um prolongado "Wow" na cabeça. Ao quinto ou sexto livro, passa, ou vá lá, abranda. Mas enquanto dura, espicaça e estilhaça, o que já não é pouco.
Partindo menos de conceitos novos do que de uma síntese adaptada das teorias de velhos amigos da faculdade - Deleuze, Foucault, Bentham, Durkheim - este tipo coloca-nos sem piedade ao espelho e faz-nos morrer de vergonha. Ou, pelo menos, de pena por termos cedido e desistido.


O livro não é sarcástico, mas não consegui não o ler com auto-sarcasmo. Porque, sendo só uma espécie de sumário, é de uma clarividência avassaladora. Sobre como o regime neoliberal nos transformou em exploradores de nós próprios, transformando-nos "não em revolucionários, mas em depressivos"; sobre como nos deixámos nivelar por baixo em nome do que é suposto ser uma sociedade de informação objectiva, conformada e conformista; sobre como abdicámos da liberdade em nome da transparência e voluntariamente nos despimos e expomos, negando o que em nós havia de romântico, de "aversão à media e à normalidade" ; sobre como nos deixámos dominar por uma técnica de poder que "não é proibitiva, protectora ou repressiva, mas prospectiva, permissiva e projectiva"... Sobre como confundimos tudo, rigorosamente tudo e, nisso, eliminámos "o singular, o improvável, o repentino". O que, no fundo, nos faz andar.

E depois termina com uma espécie manual do idiota - que também não é novo, mas não faz mal - que é uma absoluta delícia ler.

"A violência do consenso reprime os idiotismos (...). O idiota é por essência o desligado, o desconectado, o desinformado. Habita um lado de fora impensável que escapa à comunicação e à conexão: O idiota dá voltas como uma rosa arrancada no remoinho dos homens decididos, dos homens em consenso. Habitantes e membros de uma conformidade enigmática.

(...) O idiota é um herege moderno. Heresia significa eleição. O herético é aquele que dispõe de uma eleição livre. Tem a coragem de desviar a ortodoxia. Liberta-se corajosamente da coação à conformidade. O idiota enquanto herege é uma figura de resistência contra a violência do consenso. Salva a magia do marginal. (...) O idiotismo opõe-se ao poder de dominação neoliberal, à comunicação e à vigilância totais. O idiota "não comunica". Porque comunica com o incomunicável. Recolhe-se assim no silêncio. O idiotismo constrói espaços livres de silêncio nos quais é possível dizer alguma coisa que mereça realmente ser dita. (...) O que distingue os idiotas não é a individualidade, ou a subjectividade, mas a singularidade".

Psicopolítica, Byung-Chul Han

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