Quem há uns dez ou doze anos leu o primeiro livro de Filipa Melo ("Este é o meu corpo"), sabe o que é passar largos anos, em vão, à espera do livro seguinte. E entende a felicidade que é chegar a uma estação de serviço e tropeçar, finalmente, num novo livro. Mesmo que seja mínimo, mesmo que seja muito diferente. É uma reportagem, um retrato sobre essa coisa do mar, que nos é tão sensível, e "dos homens ao ritmo do mar", escrito da forma mais bela e emotiva que é possível.
"O avesso de um sonho. Muitos deles, perdidos sem salvação no meio do nevoeiro, abalroados por navios mercantes ou por transatlânticos, lançados contra as rochas ou icebergues, deitados à água pelo bater das caudas das baleias, feitos cadáveres com as mãos geladas como garras sobre os remos, esganados de fome, frio e sede, tantos, tantos deles selaram, como Yann, núpcias monstruosas com o mar."
Sem comentários:
Enviar um comentário