sexta-feira, dezembro 30, 2011

J.D. Salinger: À espera no centeio


"Advogado é porreiro, acho eu... Mas não é o meu estilo - disse eu. - Quer dizer, é porreiro se for andar por aí a salvar a vida de gajos inocentes a todo o momento, ou coisas do género, mas não é isso que se faz quando se é advogado. Tudo o que se faz é sacar uma pipa de massa e jogar golfe e jogar bridge e comprar carros e beber Martini e armar-se em bom. E por aí adiante. Mesmo que fosse andar por aí a salvar a vida dos outros e tudo, como é que sabíamos que fazíamos isso porque realmente queríamos salvar a vida das pessoas ou se era porque o que realmente queríamos era ser um advogado bestial, com toda a gente a dar-nos palmadinhas nas costas e a dar-nos os parabéns no tribunal quando acabasse a merda do julgamento, os jornalistas e toda a gente, tal e qual como na porcaria dos filmes? Como sabíamos que não nos estávamos a armar? O problema é que não sabíamos."

(...) A queda para ondee me parece que caminas é um tipo especial de queda, um tipo terrível. A pessoa que vai a cair não consegue dar por isso nem ouvir quando toca o fundo. Continua só a cair, a cair. É um esquema que calha aos homens que, num momento ou outro da vida deles, andavam à procura de alguma coisa que o meio em que viviam não lhes podia dar. Ou que eles pensavam que não lhes podia dar. E que por isso desistiram de procurar. Desistiram antes sequer de terem começado. (...) Aqui tens o que ele, Wilhekm Stekel, escreveu: O que caracteriza o homem imaturo é que deseja morrer nobremente por uma causa, enquanto o homem maduro se caracteriza por desejar viver humildemente por ela."

1 comentário:

  1. Tenho, exactamente, a merda do mesmo problema... tirando não ser advogado e detestar golfe

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