sábado, agosto 15, 2009

Isabel Alves Costa 1946 - 2009

[Foto: Fernando Veludo]
Eu gostava da Isabel Alves Costa. E não há nada mais triste do que referirmo-nos a alguém usando este tempo verbal. Porque geralmente significa que a pessoa já cá não está. Ela deixou hoje de estar. Gostava dela. Lembro-me perfeitamente da primeira vez que com ela falei, algures em 2001, tinha ela ainda direito a um escritório no Teatro Rivoli, cheio de livros e revistas e pessoas. E entusiasmo pelo trabalho. E lembro-me da última vez que a vi, nós as duas no bar de um Alfa, as duas a sair de Lisboa em direcção ao Porto.

Tínhamos conversas curtas, doces, mais ou menos sempre sobre a mesma coisa: teatro. Nos últimos anos, ela perguntava-me sempre quando é que eu voltaria a escrever sobre teatro, dizia que lia o blogue, este, e eu ficava um bocadinho embaraçada. Trocávamos opiniões sobre o conteúdo do "Melhor anjo", o blogue, esse sim, verdadeiramente bom, sobre teatro, do Tiago Bartolomeu Costa, e que só conheci por causa dela. Porque, um dia, em conversa, ficou espantada por eu não o conhecer e disse que eu tinha mesmo que o ler. Soletrou a morada, um dia, ao telefone, para eu não me esquecer. Nos últimos anos, eu perguntava-lhe quando é que ela voltava. Quando voltava, mas a sério. E despediamo-nos sempre da mesma forma: ela pedia-me para eu não ficar triste, porque este tempo mau haveria de passar e eu haveria de voltar a escrever sobre cultura, e eu pedia-lhe o mesmo, para ela não ficar triste, porque este tempo mau haveria de passar e ela voltaria a ter os projectos dela da forma honrada que ela merecia.

Gostava de Isabel Alves Costa. Daquela espécie de fragilidade. Gostava dela, mesmo quando discordava dela. Mesmo quando me desapontou ao aceitar, de alguma forma, colaborar com Rui Rio. E hoje que ela já cá não está, sinto uma tristeza imensa por vê-la desaparecer desta forma. Numa cidade que lhe deve o que seguramente nunca mais lhe poderá pagar. Porque ela não merecia ter passado pelo que passou nos últimos anos. E agora será sempre tarde.

5 comentários:

  1. Sim, é triste que uma mulher como Isabel Alves Costa tenha sido posta de lado por aqueles que têm responsabilidades políticas na vida cultural da cidade. Mas, triste mesmo é a sua partida. Falei com ela duas ou três vezes, em eventos públicos, mas fiquei com a melhor das impressões. Inteligente e interessada, pareceu-me. Que descanse em paz.

    Já agora: se é a Helena que eu penso (não tenho a certeza), fizemos uma viagem juntos há muitos anos (1997?) à Aústria e a Taizé.

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  2. 1997. Taizé. Uma das maiores lições da minha vida. Sim, sou eu. Que surpresa! Cruzámo-nos no CAB?

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  3. Sim, mas eu frequentava pouco o CAB. Tive duas amigas que também foram e, elas sim, eram assíduas no CAB: a Adriana e a Sofia Capela. Lembro-me da primeira noite de viagem, porque não conseguia dormir (o desconforto...) e fui na conversa com uma colega do teu curso (Regina, se não me falha a memória) enquanto todos dormiam. Na conversa e a comer bolachas!

    Também foi uma das maiores lições da minha vida (aliás, várias lições), por vários motivos. Parece que foi há tanto tempo... Estou sempre a pensar em voltar lá, mas vai ficando para trás. Fiquei triste há uns anos quando o Frei Roger foi assassinado.

    Bem, cheguei a este blogue por acaso, mas continuarei a segui-lo.

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  4. A Regininha, claro! Ela foi a melhor parte da viagem! E a viagem só teve coisas infinitamente boas. Como as manas Capela. A doce Sofia, como é que eu podia não me lembrar?!

    Também eu quero voltar a Taizé desde que saí de lá. E sempre achei que lá voltaria antes da morte do irmão Roger. Também neste caso, será tarde demais.

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  5. E eu que nunca fui a Taizé! E que não conheço a Regininha, nem as manas Capela, nem o Frei Roger! Pois, em 1997 eu andava às voltas no Público, o meu Vietname. Bem podia ter estado em Taizé...

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