Nós achávamos que tínhamos os melhores amigos do mundo. E tínhamos. E temos. Autênticos cometas Halley, peças raras de raro brilho, que povoam o mapa da nossa vida como uma dádiva pouco terrena que nunca teremos como agradecer. Os nossos cometas Halley fazem de nós pessoas privilegadas, mimadas, protegidas, pessoas melhores. Mas, ao mesmo tempo, pessoas fechadas. Quando temos os melhores amigos do mundo não deixamos entrar mais ninguém. Não precisamos de mais ninguém. Mas as pessoas continuam a gravitar à nossa volta, meteoritos que cruzam os céus com mais ou menos brilho, a maior ou menor distância. Gravitamos todos à volta de todos.
E um dia surgiu o cometa McNaught, a maior surpresa de sempre, o mais brilhante das últimas décadas. Não podíamos não o adoptar. Passou instantaneamente a fazer parte do nosso mapa, como se lá tivesse vivido desde sempre. Hoje, o cometa McNaught apareceu com os joelhos do coração a sangrar. E nós não estávamos preparados, não queríamos que fosse verdade. Não queríamos que a Terra tivesse atacado um dos nossos cometas. Bloqueámos, não tivemos sequer coragem de o abraçar. Porque esse abraço não mudava tudo o que gostávamos tanto que pudesse mudar. O que conseguimos fazer pelas pessoas de quem gostamos mais é sempre insuportavelmente tão pouco...
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