Ontem, pouco depois da primeira hora da madrugada, tive que ir à farmácia. Alguém torcera um pé e era necessário comprar um analgésico. Há algum tempo que não ia à farmácia durante a noite. Por isso, percebi, perdi as últimas - e duvidosas! - inovações no sistema de atendimento.
Há vários carros estacionados na rua. Há fila à porta da dita farmácia - uma das três que, diz o papel colado nas montras, tem atendimento nocturno. No primeiro instante, tenho dificuldade em perceber por que razão os clientes estão cá fora. Num segundo instante, penso que é uma daquelas farmácias em que é preciso tocar à campainha para acordar o farmacêutico. Por fim, entendo o mistério: não se pode entrar!
As farmácias com atendimento nocturno têm agora uma espécie de guichet, muito semelhante ao das estações de serviço, mas em mini-miniatura e sem qualquer visibilidade. É uma janelinha com uma panela giratória onde se deposita a receita e na qual, posteriormente, é colocado o medicamento. Se o pagamento for feito em dinheiro, a troca é semelhante. Sinistra, mas simples, apesar de tudo. Se for com multibanco, é um caso sério para colocar a máquina naquele micro-orifício. Pior do que isso, é o facto de o atendimento ser completamente despersonalizado. Ouve-se uma voz lá de dentro - "Boa noite, o que deseja? - , mas não se vê o rosto que pertence à voz. E seja de quem for o rosto, está já tão habituado àquela mecânica que se o utente - era o meu caso - quiser fazer uma pergunta já depois de ter pago, é tarde. O biombo fecha-se assim que recebe o pagamento.
Pior ainda é a falta de privacidade que, em alguns serviços, não pode - ou não deve - mesmo ser descurado. Na fila, à minha frente, havia uma rapariga nova, bonita, nervosa. Quando chegou a vez de ser atendida, olhou para trás, para a frente, para os lados, quase me cedeu a vez. Ignorei e lá acabou por solicitar à panela o que queria: "Um teste de gravidez, por favor". Ora, quem compra um teste de gravidez de madrugada, quando o teste de gravidez só pode ser realizado de manhã, é porque não se sente confortável a pedi-lo à frente de outras pessoas. É legítimo e devia ser um direito protegido.
Não sei se este sistema de atendimento é uma barreira contra os assaltos. O que sei é que, para isto, mais vale inventar uma máquina como a das bebidas, dos chocolates - ou, vá lá, dos preservativos - da qual seja possível recolher a medicação pretendida a troco de moedas.
1º Ainda não há máquinas leitoras de receitas;
ResponderEliminar2º Há farmacêuticos e/ou técnicos que trabalham no próprio dia (dá jeito passar pelas brasas pra ir trabalhar no dia seguinte, não é função pública);
3º Podem cobrar taxa de chamada o que não é feito na maioria das farmácias;
4º Vê-se que nunca trabalhou numa farmácia e muito menos à noite!! Por alguma razão as bombas de gasolina também atendem por guichet!!
5º A compra de um teste de gravidez é urgente?!
Não pode esperar meia dúzia de horas para fazer o teste de manhã? Pra isso mais vale comprar logo a pílula do dia seguinte!