Nós achávamos que tínhamos os melhores amigos do mundo. E tínhamos. E temos. Autênticos cometas Halley, peças raras de raro brilho, que povoam o mapa da nossa vida como uma dádiva pouco terrena que nunca teremos como agradecer. Os nossos cometas Halley fazem de nós pessoas privilegadas, mimadas, protegidas, pessoas melhores. Mas, ao mesmo tempo, pessoas fechadas. Quando temos os melhores amigos do mundo não deixamos entrar mais ninguém. Não precisamos de mais ninguém. Mas as pessoas continuam a gravitar à nossa volta, meteoritos que cruzam os céus com mais ou menos brilho, a maior ou menor distância. Gravitamos todos à volta de todos.
terça-feira, dezembro 30, 2008
Cometa McNaught
Nós achávamos que tínhamos os melhores amigos do mundo. E tínhamos. E temos. Autênticos cometas Halley, peças raras de raro brilho, que povoam o mapa da nossa vida como uma dádiva pouco terrena que nunca teremos como agradecer. Os nossos cometas Halley fazem de nós pessoas privilegadas, mimadas, protegidas, pessoas melhores. Mas, ao mesmo tempo, pessoas fechadas. Quando temos os melhores amigos do mundo não deixamos entrar mais ninguém. Não precisamos de mais ninguém. Mas as pessoas continuam a gravitar à nossa volta, meteoritos que cruzam os céus com mais ou menos brilho, a maior ou menor distância. Gravitamos todos à volta de todos.
domingo, dezembro 28, 2008
sábado, dezembro 27, 2008
Rui Reininho: Um Homem Novo (x3)
RUI REININHO É O ILUSIONISTA DESTE NATAL, MESMO SE NÃO GOSTA DA QUADRA E MENOS AINDA DE A USAR PARA EDITAR DISCOS. NÃO FOI PREMEDITADO, ACONTECEU ACABAR AGORA A COMPANHIA DAS ÍNDIAS, O PRIMEIRO DISCO A SOLO QUE NÃO É BEM A SOLO. "A SOLO SERIA EM CASA, AO PIANO, À PRINCE". É UM DISCO SEM OS GNR, MAS COM DEZ CONVIDADOS. TIRÁMOS BILHETE PARA UMA CONVERSA COM O HOMEM QUE DIZ ESTAR "A MEIO CAMINHO ENTRE O MAR E O DESERTO". SERÁ O PURGATÓRIO?
Procurar numa entrevista o Reininho destravado, desbocado, insolente dos concertos, o homem de punchlines precisas e esgares cínicos, a criatura que se despe em palco, rasteja, bamboleia, que mima o pé do microfone como striper num varão, que troca as letras dos poemas que escreve por apelos políticos, futebolísticos, pelo que se lhe atravessar na cabeça, é procurar alegria no fado - estará lá, mas não se vê, não se encontra. Mesmo que a conversa dure cinco horas. E cinco horas a ouvir Reininho, histórias encadeadas a ritmo de TGV - América, Obama salvador, redentor, D. Juan, nome do café que frequenta, da ópera de Mozart, a predilecta, dos canalhas, Europa e a crise, Europa e o filme do von Trier, teatro intervencionista de 60, década do político da "filosofia de alcova", das noites a tricotarem-lhe pesadelos com medo de ir para a guerra, pequeno Portugal, decidir não votar, ir embora, voltar, envelhecer -, é exercício para quem não tem vertigens. Ele até tem. Mas no fim cai sempre de pé.
Sentado na orla mais afastada, mais escondida da esplanada, impecavelmente embrulhado num sobretudo azul Dolce & Gabbana, óculos escuros, cabelo branco-cinza em desalinho, Reininho é o homem desacompanhado a contemplar a marginal de Leça, lugar recorrente para atender jornalistas. Meio-dia em ponto, hora combinada, último dia de sol quente, o primeiro depois de colocada a cereja no disco que demorou um ano a produzir. Companhia das Índias, no mercado desde 9 de Dezembro, apresentado na Casa da Música, é o que lhe apetecia fazer. Com quem lhe apetecia. Os que o "mandaram à fava" não entram na contabilidade. Alguns disseram-lhe delicadamente: "Agora, estou ocupado". Ficaram os que "atenderam o telefone": do intrépido Slimmy, loverboy que encaixou uma canção no CSI Miami, ao cometa Halley que é Rodrigo Leão. Armando Teixeira, homem Balla e Bullet, é o fio condutor do trabalho. "Costumo dizer que é o meu filho mais velho". É o produtor.
Reininho traz pálpebras de sono, de quem acordou há menos de duas horas – uma excepção. A regra, o normal, é acordar às sete, quando a maioria ainda dorme, pelo menos a maioria da tribo dele. Tem que esperar até às dez horas para que lhe atendam o telefone, mas ele desperta cedo, com o sol, para escrever, para pensar, porque sim. Porque aprendeu a gostar das manhãs. A desprezar bebidas brancas e maratonas de cigarros e coisas que tais, a evitar ressacas, porque aprendeu o prazer de poupar a voz. De poupar-se. "O médico disse-me que sou indestrutível, quase um super herói. Depois de tudo o que fiz, estar aqui é um milagre".
Há um antes e um depois na vida do porta-estandarte dos GNR (Grupo Novo Rock), não importa onde fica a fronteira e ele também não diz. Mas diz que é um homem novo. Em construção. Talvez Reininho, homem sem idade, apesar de insistir na "provecta idade" que tem - são 53, sem rugas nem barriga "nem dores fadistas" -, persiga um final feliz. Sobretudo para partilhar. "Antes talvez não fosse um homem confiável, mas agora sou. Mesmo que o belo sexo continue a desconfiar de mim." Quem quer casar com a carochinha?
O homem tripolar
Não há meio-termo: ama-se ou odeia-se. Quem o ama diz que é o maior letrista português, poeta ímpar, autor de primeiríssima divisão; quem o põe na beira do prato garante que não passa de um dandy decadente, narcisista, pedante, com a pretensão de parecer o Morrissey, o David Byrne, o David Bowie e até Neil Hannon, o Casanova dos Divine Comedy. Afinal, quem é Rui Reininho, mais de 30 anos de carreira, quase todos ao serviço dos GNR, criatura que garante ser três-em-um, como se a bipolaridade, a existir, não fosse já suficientemente complicada. "Descobri que tenho três personalidades e espero vir a ter muitas mais. Mas se aquela que possui uma vertigem egoísta e narcísica se afastar de mim, se essa me deixar, não tenho medo de ficar só com as outras duas". Soubesse ele viver dentro das três personagens como quem troca de pele sem ser devorado por elas, e não precisaria da psicóloga, dos chás, da acupunctura, dos gongos que descobriu em Vigo e ensaia em casa para calar os silêncios da ausência, do mal que diz ter provocado, dos gongos que partilha com um grupo de reflexão tibetano na Galiza e que ouve para colocar os pontos cardeais no lugar como quem lambe feridas. Como quem cura "o desgosto de pensar que era importante na vida de outra pessoa e afinal era só mais um delírio dessa pessoa". Não foi um desgosto de amor; "foi um desgosto de egoísmo".
Faz das tripas coração para enfrentar o espelho. "Assusto-me bastante quando me vejo. O espelho não fere, mas responde conforme a luminosidade que lhe damos. E às vezes não me revejo ali no palco. Não sou eu, não pareço eu". Não parece ele ali, já dentro do restaurante, fila indiana de empregados, eles a esforçarem-se, elas a arranjarem-se, e ele a retrair-se como quem cava um buraco no chão para se esconder. Reininho é tripolar? É pessoa singular. Gosta de brincar, de pregar sustos, não resiste a uma bola de futebol. Tem franca vocação para fazer os outros sorrir e nem sempre precisa de pontapear uma piada. É um camaleão com receio de parecer vulgar. “Tenho medo da normalidade e, ao mesmo tempo, uma enorme inveja da normalidade”. De ser – trauteia a canção de Morrissey – “the first of the gang to die” (o primeiro do gangue a morrer). Reininho não é normal. E depois?
Às vezes, a diversidade não passa de uma aragem. Talvez isso explique a recente incursão pela espiritualidade. "Não é uma coisa mística, mas precisei de ir buscar o lado interior que me faltava. Habituei-me a olhar para ver, antes olhava e não via. Quando se olha realmente para dentro das pessoas pode ver-se coisas muito bonitas - ou muito assustadoras. Quase se consegue prever o mal. Quase como Constantine, o exorcista, como ver fumo nos pulmões de alguém. Ou como ver amor nos olhos de outra pessoa. É tão mágico quanto isso. Quando vejo cumplicidade e amor aproximo-me. Quando vejo coisas terríveis, também. Para tentar mandar esses corpos em paz para o cemitério."
Reininho, um casamento, um herdeiro, um divórcio, dois livros, duas dezenas de discos, mais de 200 canções escritas, acredita que é um "mensageiro". Iniciou uma espécie de digressão individual da boa vontade, e não o diz a rir. "Quero equilibrar a balança, compensar o mal que causei", insiste uma e outra e vez, estranha fase de auto-punição em pública e genuína catarse. Respira fundo. Escolhe polvo para o almoço, acompanha-o com vinho branco e batalhas perdidas. "Tornei pessoas infelizes, fui derrotado pela inércia, pelo medo de enfrentar momentos muito... Fui cobarde perante as drogas, perdi para esse exército aliados meus, gente que eu amava. Perdi uma das mulheres mais maravilhosas que tive por causa disso, por não ter sabido mostrar-lhe o outro ângulo. E ela acabou por se perder, por morrer de droga, de sida".
Anos 70 em erupção, ele a atravessar os 20 anos e a tomar as grandes decisões da vida: não votar, não trabalhar, fazer o elogio da preguiça, da luxúria, exigir tudo a troco de nada. "As pessoas eram muito malucas naquela altura. Se hoje souber alguma coisa que possa valer a alguém, acho que tenho o direito e a obrigação de dizer". Dizer o que lhe disse a mãe, numa noite de S. João, no Porto, quando a avisou de que chegaria tarde, ou talvez nem chegasse: "Vai, mas não te drogues muito". Aceitou o conselho: “Nunca me droguei muito". A mãe, a que antigamente lhe pedia: “Vá lá, tira antes um cursinho em vez de te meteres com esses moços da música”; a mesma que hoje, neste preciso instante, envia-lhe o “inexplicável calor umbilical” numa mensagem de telemóvel. Pergunta: “Então, quando sai o teu disco?” Diria o que lhe disse a mãe, insiste. "Porque sou incapaz de dizer que isso não abre sensibilidades e que a saudinha é que é importante".
Reininho não burila o passado, mas não despreza o presente reanimado, agarra-o pelos cabelos, segue em linha recta. Atravessa a estrada, aceita continuar a conversa do lado de lá, no muro da marginal de Leça. “Um estóico”, como gosta de dizer que é. Voltado de costas para o mar, “para os piratas”, para o precipício, só mais tarde decifra por que razão fala sem nunca olhar para o interlocutor. “Peço desculpa, não posso olhar porque tenho vertigens”. A confissão vale a primeira, e quase única, gargalhada da tarde. Abre portas ao optimismo. "Tenho aprendido coisas fantásticas: aprendi que é preciso plantar e regar. Regar é algo que me estava vedado, vivia noutro ritmo, tinha sempre outra prioridade qualquer. Agora é um alívio. Já não vou atrás da next big thing". Agora inspira: "Cheira-me a gente outra vez". Volta a Morrissey: "There is a light that never goes out". Agora, ele tem uma luz que nunca se apagará.
Rui, filho único de um pai mediador de seguros e dessa "mãe sábia" que pertencia à Junta dos Produtos Pecuários, nascido ali, na Rua Fernandes Tomás, 19, 3º, em plena Baixa do Porto - ano de 1955, o Futebol Clube do Porto a competir pela primeira vez nas Champions -, será a pronúncia do Norte. Mas não é só a pronúncia do Norte, cliché de que nunca se libertará. É a Lisboa cosmopolita, Belém onde também vive há pouco mais de um ano, é Las Vegas onde passou o Natal, néons a arder e a apagar, criatura tu-cá-tu-lá, cavaleiro de capa sem espada, animal furtivo, sedução hirta, sangue, suor a escorrer, fogo-fátuo, é o lobo mau e o capuchinho vermelho. É pulmão, coração aberto, "recente aprendiz de guardião de segredos", provocação exaltada, hálito dourado, canções auto-retrato, quadris a ferver à Elvis. É dois metros de impenetrável timidez. Capaz do melhor e do que muitos dizem ser o pior.
"Gostava que as pessoas não confundissem esta timidez com arrogância". Ou as falhas dos outros com as suas. No ano passado, na Gala dos 50 anos da RTP, confundiram. O dueto virtual que deveria ter partilhado com Tony de Matos se não tivesse entrado no palco, perdido, a trinta segundos do fim da canção, está depositado no YouTube, legendado com veneno e agulhas, visto por mais de onze mil pessoas. "Fiquei triste, sabia que toda a gente iria dizer que eu estava nos bastidores a fumar, a beber ou a meter-me com as bailarinas. E não era verdade." A verdade é que ele estava no camarim, obediente, tranquilo, a ser maquilhado. Deveria ter sido intervalo no programa e só não foi porque as audiências estavam ao rubro. Foi uma rasteira. "Senti-me infeliz, derrotado, embaraçado. Saí de lá directo para o quarto do hotel". Tinha as costas quentes? "Tenho as costas largas", sorri. A RTP pediu desculpa, mas aparentemente ninguém viu.
Rui Reininho é tudo o que ainda há-de ser. "Mais 50 anos seria assustador. Só quero mais um bocadinho". O bastante para ver o filho António, único como ele, 12 anos, "a crescer, a saltar etapas, a frequentar as primeiras festas". O suficiente para ter, talvez, quem sabe, ainda irá a tempo?, "a menina que sempre quis ter". Mas não o suficiente para, cita o mestre Manoel de Oliveira, "ter que pedir beijinhos".
Fauna musical e especiarias
Reininho é a Companhia e é as Índias. Embarcou num disco apinhado de espiritualidade e especiarias porque "precisava de sentir medo outra vez". O fruto serviu para o "desassombrar", para lhe "tirar o medo da morte". (E quando morrer, diz, quer ser incinerado ali ao pé da Sacor, uma praia de Leça. “Não quero ter de atravessar a cidade até ao Prado do Repouso depois de morto. Quero deixar as minhas cinzas aqui no ar”).
O trabalho é apresentado como o primeiro disco a solo da sua carreira, mas ele garante que é tudo menos um disco a solo, tal é a fauna que o habita. "A solo seria em casa, ao piano, à Prince. É um disco sem os GNR, mas acompanhado por gente fantástica". São Armando Teixeira, formiga de backstage a fazer brilhar os outros; Alexandre Soares, nada menos do que o primeiro vocalista dos GNR; Paulo Furtado, o one-man-band Legendary Tigerman; Tiago Novo, New Max para os amigos do hip hop; a chilly Margarida Pinto (Coldfinger) e a alma mater de Rodrigo Leão, os desvarios electrónicos de Slimmy e a elegância pop de João Pedro Coimbra (Mesa). "É um disco muito ligado a cada uma dessas pessoas". E poderia ter sido ligado a muitas mais, se não tivesse havido "impossibilidades físicas", como no caso de José Cid, amigo com quem passa largos minutos ao telefone. Ou "impossibilidades químicas", como no caso de Jorge Palma.
Houve ainda sociedades que falharam por “falta de coragem”. Por modéstia hiperbolizada. "No fundo, sou o artista que sou: seria pretensioso da minha parte tentar sondar outras pessoas de quem gosto, gente da pauta e do papel, mas com quem não tenho intimidade. E depois, se calhar, sinto-me mais à vontade com pessoas que não são da minha geração." Mesmo nesse campeonato houve uma parceria que não chegou ao fim. "Não consegui cantar aquela música maravilhosa dos Micro Audio Waves", banda portuguesa que este ano venceu o mais cobiçado galardão dos prestigiados Qwartz Electronic Music Awards. "Fui lá uma vez, duas, três e não consegui. Foi mais forte do que eu, não fui capaz, não deu, não soube". Tempestade a inchar por dentro outra vez. "Senti-me mal, derrotado, infeliz. Como quando somos traídos e parece que toda a gente fica a saber do nosso infortúnio. Ou como quando levamos uma bola preta. Alguém escreve que o disco é francamente mau e toda a gente fica a olhar para mim porque sabe que fiz aquilo mal".
Não é o caso. Não há bolas pretas. Mesmo se a crítica não explode de excitação a ouvir o resultado do trabalho, iliba, protege, exalta o protagonista, o seu carácter e carisma. “Dizem-me, elogiosamente, que aquilo tem o toque de saber fazer a canção dos três minutos, mas também de saber experimentar um bocadinho." Ele não consegue não sentir-se feliz. Experimentou, explorou a voz, sentou-a no colo dos compositores convidados, temperou-a com mais açúcar do que sal. “Não há ali delírios, não estou a meter-me em áreas que não possa conhecer, sinto-me completamente à vontade”. Reconhece-o com a mesma velocidade que usa em sentido contrário, abusando de uma auto-crítica que nem sequer é sustentada pelo caminho que trilhou: “Talvez eu não tenha ido tão longe quanto alguém podia esperar, artística e afectivamente. Talvez não tenha saído sequer da pole-position”. Encolhe os ombros com resquícios de quase crueldade: “Fui até onde era possível.” Autoflagelo à parte, assume que neste disco fez “muitas mais coisas do que imaginava que poderia fazer." Conseguiu até ressuscitar o barão vermelho Cazuza, um dos mais importantes compositores da música brasileira, e reencarnar numa girls band, as Doce, para literalmente embalar “Bem Bom”, canção daquele mítico refrão – “Uma da manhã, hei!” - que lhes valeu o primeiro lugar no Festival RTP da Canção de 1982. “Seria desesperante se não tivesse isto cá fora”.
“Isto” é um imaginário inteiro em que se revê e reencontra, ironicamente lançado em Dezembro. “Durante anos evitei aqueles momentos sagrados do planeta. Agora, confrontam-me: Então, um disquinho para o Natal, hã?”. Não foi premeditado, aconteceu acabá-lo agora. Mas sim, é de um cinismo inesperado”. Companhia das Índias "fala de uma terceira personalidade – Sou o Dr. Optimista, perito em reiki, leio as cartas, falo com o outro mundo -, de um mundo mágico, porque um bocadinho mais de magia não faz mal a ninguém. Fala de um homem novo que pode baixar a espada e erguer outra bandeira."
Poderia ser Barack Obama se há um ano o recém-eleito primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América não passasse de uma miragem em que a maioria ainda não conseguia acreditar. O homem novo é, portanto, Rui Reininho, qualquer que seja a versão com que se vista. Ele diz que ainda está “só a meio do caminho”. Encravado no purgatório? Salva-o esta convicção: “Hoje, se me enganar, se falhar, se tropeçar e cair, sei que agora tenho alguém para me amparar.” Mesmo assim, repisa, “sou the man in between, o homem no meio. Estou entre o mar e as cinzas do deserto. Entre o poente e o nascente. Só tenho que decidir em qual dos lados quero ficar”. Quanto tempo falta para o arco-íris?
[Perfil de Rui Reininho publicado na Notícias Magazine, 28 de Dezembro]
quarta-feira, dezembro 24, 2008
Harold Pinter 1930 - 2008
Can I take you back over the last extraordinary year. You've won the Wilfred Owen prize, the Franz Kafka prize, the Nobel prize for literature, now the Europe Theatre prize. Has all that public recognition helped to sustain you through a difficult period physically?
Well I've been through a number of gruelling experiences some of them quite gruesomely funny in a way. I attended a rather exhilarating festival of my work given by the Dublin Gate Theatre last October for my 75th birthday. I was leaving Dublin the next day and, as I was getting out of the car at the airport, I slipped and gashed my head on the stone slab of the concrete pavement. My wife, who is also here, turned and found me covered in blood. I spent four hours in hospital that night in a pretty terrible state, got back to England the next morning, started to recover and woke up two days later to discover that I'd been given the Nobel prize for literature! So my life over the past year has, quite literally, had its ups and downs.
Well for a start it was a great surprise. Quite unexpected. A chap phoned me at about twenty to twelve from Stockholm and said "Good morning, is that Harold Pinter?" and I said "Yes." He said, "I'm glad to tell you you've won the Nobel prize for literature." I said, "Have I really?" He said, "Yes." I said, "Thank you." The next step really was that I was asked to write and deliver the annual Nobel lecture. I then found myself in hospital again. I had a very, very mysterious skin condition which emanated from the Brazilian jungle. I should explain I've never set foot in the Brazilian jungle but I shared this very distressing physical condition with the Brazilian Indians. Anyway, I came through that and was writing the Nobel speech when the phone rang and it was the doctor saying that he'd looked at my blood tests. He said, "You must come into hospital immediately." I said what do you mean by "Immediately?" He said, "Now, within the next five minutes."
I'd actually just finished the speech so it took me about 10 minutes to get to the hospital. Shortly after I arrived I found myself in intensive care and found it extremely difficult to breathe. There were lots of doctors around and my extremely anxious wife. I then realised, for the only time in my life actually, that I was on the point of death. Because if you can't breathe, that's it. And I'd never been aware before of any such extremity. But I didn't die, the doctors got me through it and here I am today.
Thankfully [loud applause]. I don't want to morbidly dwell on this but at that moment of realising death may be imminent, what happens, what goes through one's head?
Well there's no time to think. You don't think at all. You just experience it. What you do, in my case, is that you fight and fight to stay alive. You try and insist upon breathing. You insist on not losing the ability to breathe. And I just managed it by the skin of my teeth.
Having written the Nobel lecture, you then had to deliver it. How difficult an experience was that?
Well I was in a wheelchair. I was taken from the hospital to the studio, did the speech and then went straight back to the hospital. But it was OK. I'm quite used to speaking my own text ... My main concern when I was making that speech, and even writing that speech, was not to be at all emotional.
Coming on to the content of the lecture itself, it seemed to me to say that, while there is no definitive truth in art, we have an obligation to examine the truth of our lives and our society. In that sense, is Iraq a watershed? Because of all the documentary evidence, because of Guantanamo, because of Abu Ghraib, people around the world have woken up to reality?There does seem more public awareness now of what we're actually responsible for, what actions our countries have taken: what it means, what destruction actually is, what torture actually is. It so happens that I've been very preoccupied with this for many years. Things like Abu Ghraib and even Guantanamo are not new things: there are many precedents. As I pointed out in my lecture, American foreign policy has adhered rigidly over the last 50 years or more to one concern and one concern only: "What is in our interests?" ... There are many, many Americans who are as disgusted and ashamed and angry about this as I am. And I received a lot of letters from Americans after I made my speech, many of them couched in terms of some despair. But, coming back to your question, I find that in attacking American abuses of power I have in the past sustained a good deal of mockery. Been called at the very least an idiot. But we all know what's looking us in the face now. I believe we've been faced with that for many years.
But that's a key point. Because one of the pivotal moments in the lecture is when you repeatedly say of American intervention in the internal affairs of other countries "It never happened" as if we had air-brushed certain events out of our consciousness. But you can't say that with Iraq, can you? The evidence is with us daily. There is a heightened awareness of the lies and deceptions.
Quite so. And, of course, what cannot be ignored now is that most people are well aware that, in the case of Abu Ghraib for example, those acts of torture were hardly random events. They weren't one bad apple, as it were. They came from the very top. We're looking at the White House. We're looking at the Pentagon. We're looking at Number 10 Downing Street by the way. Who we're looking at here I'm not quite sure. But I've got a funny feeling a few people in this audience will have a few things to say about that. It's where you live that leaves the greatest impression on you. I certainly feel a strong sense of shame at the actions of our own government. I'm talking about the British government. I think that Blair's subservience to Bush is shameful and disgusting. It's also more than that. It's a disinclination even to accept the fact that if you go and drop bombs on thousands of people in a sovereign state - whatever you think of that state - it is not only an act of mass murder. These are war crimes.
In Britain, it [the Nobel speech] was shown live on a satellite channel, reported in full in the Guardian. But it was, as far as I know, pretty much passed over by BBC television. Did that surprise you?
It wasn't passed over. It was totally ignored by the BBC. It never happened. There are those who argue that the BBC's ignoring the speech was to do with its complicity with government. I don't believe that. That's a conspiracy theory which I don't subscribe to.
So what is the answer?
I don't know. You'd have to ask the BBC.
Given your views on politics in Britain and Blair's subservience to Bush, I just wonder if there is any figure in British political life whom you respect.
HP: There was one man in the Labour government, Robin Cook, whom I had a very high regard for. He had the courage to speak out and to resign over Iraq. He was an admirable man. But resignation over a matter of principle is not a very fashionable thing in our society.
Can I turn to the other half of your Nobel lecture where you talk about the process of writing. You spoke about the way a play is engendered by a line, a word or an image. Also about the way characters resist you and take on a life of their own. But is there not also a conscious part of you that is organising the action and the characters?
I'm not aware of my consciousness working in that way at an early stage of writing. After it's got to a certain point, I then work very hard on the text, quite consciously. In other words, I just don't live in my unconscious the whole damn time. I keep an eye on it. But one of the most exciting things about being a writer is finding the life in different characters whom you don't know at all. To a certain extent, you've got to let them live their own life. But there's also a conflict constantly going on between you as the writer and them as the characters. Who's in charge? There's no easy answer to that. I suppose, finally, the author is in charge. Because, whether the character likes it or not, all I've got to do is take out my pen and do that (a gesture of erasure) and he's lost a line. It may be one of his favourite lines of dialogue [laughter]. But I've got the pen in my hand.
Take a very concrete example, Ruth in The Homecoming. She obviously has a will and a life of her own. But did you know, from the start, where she was heading? That is, towards an ambivalent authority over her inherited household?
I really didn't know what was going to happen: where she, or the play, was going. I don't know how many people here know it but the second scene shows the elder brother, Teddy, bringing his wife home from America to meet his family in London. As I found these two figures in the room, I had no idea what was going to happen to either of them. Gradually the play grew and dictated itself partly through her actions: Ruth's sexual strength and authority just seemed to grow in stature in a strange way as the play went on. This may sound rubbish but I simply couldn't get out of her way. She started to dominate the play in a way I hadn't expected. She was unavoidable and is one of my favourite characters actually.
Is the process the same for overtly political plays like One For The Road, Mountain Language or Party Time?
It can't be exactly the same, no. It's rather difficult to define. But in Party Time you have a lot of well dressed people enjoying a fashionable, champagne-filled party while outside there are roadblocks and helicopters. I knew from a much earlier stage that the people at the party - or at least some of them - were responsible for what was happening in the street. So I had a certain kind of knowledge which I didn't possess in writing The Homecoming. It's a very layered activity, writing plays, and it's never the same experience twice.
Political theatre obviously takes many different forms. Do you admire writers who adopt a very different approach from your own, such as Brecht?HP: Yes Brecht was very important to me to read and I greatly admire his poetry. But, coming back to the present day, I have a great deal of respect for the work of David Hare: Stuff Happens, The Permanent Way and so forth. He writes very clear, sharp plays that analyse what is going on. I admire his rigour, his honesty and his insistence on looking for the truth.
At the moment in Britain there is a great hunger for verbatim theatre. Is that a movement you support?Absolutely. It has produced a lot of good work at the Tricycle and the Royal Court, though I'm alarmed at what has happened to My Name Is Rachel Corrie in New York [the play recently co-edited from Corrie's diaries and letters by Alan Rickman and Guardian features editor Katharine Viner] ... The real fact there, as you know, is that Rachel Corrie was a young American woman who was looking at the Palestinian situation in Israel when one of the bulldozers that was demolishing Palestinian houses ran over and killed her ...
But that play has now been withdrawn by the producing theatre in New York and that is, I think, typical of what is happening more and more in Britain and America: suppression of dissent and the truth. I'd just point to the example of the prohibition of protest within a certain area outside the Houses of Parliament. One woman walked into this zone and read out the names of British soldiers killed in Iraq of whom at that time there were about 80. She was arrested, fined and now has a criminal record. What she was actually doing, in reading the names of the British dead outside the Houses of Parliament, was reminding people in Parliament of their ultimate responsibility. So the lid was put on her straight away.
What about your own position at the moment ... is the itch to put pen to paper still there?
Yes. It's just a question of what the form is ... I've been writing poetry since my youth and I'm sure I'll keep on writing it till I conk out. I've said it before and I'll say it again. I've written 29 damn plays. Isn't that enough?
Finally, we're celebrating the Europe Theatre prize. In the age of infinite electronic possibility, do you still have a positive faith in what theatre can do?
HP: The mere fact of audience and actors sharing that specific moment in time, the intensity of the life that passes between the stage and the auditorium, means there's nothing quite like it. So yes I still have a faith, a shaky faith, in the act of theatre.
terça-feira, dezembro 23, 2008
domingo, dezembro 21, 2008
Paulo Nozolino: "Bone lonely"
De cada vez que Paulo Nozolino surge com uma exposição em Portugal - coisa rara - é um acontecimento. Feliz. "Bone lonely" inaugura na Galeria Quadrado Azul, em Lisboa, a 9 de Janeiro de 2009 (fica até dia 21 de Fevereiro).
"A man stands in the middle of destruction, feeling lonely to an unbelievable point, bone lonely. He makes deaf images during his blind walks. Dwelling with thoughts about the loss in all conflicts, the feeling that all systems fail and the certainty that nothing lasts forever. He wonders what light shines in loneliness, what sounds come out of a moving body, what can fill the absence. He has no answers. He sees silent panic, he hears reports on people, he smells themould, he feels the flesh aging and he tastes the dry saliva in his mouth. There seems to be no escape. He has a word pounding inside his head: resist, resist… bone lonely."
sexta-feira, dezembro 19, 2008
Beatriz Batarda: hoje e amanhã no TNSJ
terça-feira, dezembro 16, 2008
Jay-Jay Johanson: Self-portrait
E aqui: http://www.myspace.com/jayjayjohanson
segunda-feira, dezembro 15, 2008
Mitch Albom: The five people you meet in heaven
Mitch Albom é um cronista de desporto (e jornalista e dramaturgo e músico). Quem leu os livros dele jamais o adivinharia. Sobretudo quem leu "Às terças com Morrie", um manual de conversas sobre coisas essenciais entre ele e Eddie, seu professor de Sociologia, na antecâmara da morte deste. Eddie, que morreu aos 83 anos, sentia que a sua vida não tinha valido a pena, porque não tinha feito o suficiente pelos outros.
quinta-feira, dezembro 11, 2008
Craig Thompson: Good Bye Chunky Rice
Não é preciso gostar de novelas gráficas; é preciso gostar de uma história de lealdade. Quem leu Blankets, tem de ler Chunky Rice, o delicioso livro com que Craig Thompson se estreou.
Truman Capote: Breakfast at Tiffany´s
quarta-feira, dezembro 10, 2008
terça-feira, dezembro 09, 2008
Reininho na Índia
Passo-te
Canso-me
Atraso-te
Chego-me a ti
Passo por nós
Canso-me de mim
Atraso a voz
E sigo-te
Colo-me ao teu colo
Falo e não falo
Toco-te a solo
Cheiras bem
Então vem
Vem para Lisboa
Sabes bem
Sabes quem
Sabes bem
Desta Lisboa
Enrolo-me em ti
Magoo os dois
Adormeço às tres
Acordo à toa
Aqueço-te os pés
Limpo-te os pós
Adormeço as dez
domingo, dezembro 07, 2008
António Alçada Baptista 1927-2008
sábado, dezembro 06, 2008
"Purificados", no TNSJ
Mini-concertos-Optimus-na-loja-Optimus-da-Casa-da-Música: grande lata!
Os mini-concertos-Optimus-na-loja-Optimus-da-Casa-da-Música, ali entre um portátil e um i-phone, são, dizem eles agora, "espectáculos especiais para 100 convidados", que procuram garantir "uma experiência mais intimista e familiar".
Está tudo doido?! Quem paga a intimidade, a Optimus ou a Casa da Música (nós)?
[Lista de concertos intimistas e familiares: hoje: Slimmy; dia 19 Flow; dia 20 Rui Reininho]