"Não existe poeta que não julgue regressar pela palavra àquilo que amou. Talvez a poesia seja apenas um impasse. Que só encontre a sua verdade no reconhecimento do fracasso.
Aliás, haverá obra de poesia que tenha alguma vez sido realizada para "comunicar" um sentimento, um conhecimento, um pensamento? Um poeta preocupa-se em inventar, em verificar, e isso é viver, não é dizer - só dirá consequentemente. Assim sendo a sua clareza vai a par dos seus enigmas. Explícito quando deve conhecer-se a si próprio, irá calar aquilo que já sabe. Mas ele é grande justamente por causa dessa solidão que procura. A sua verdade irradia pelas suas vias obscuras. E se o poema acabado é válido para todas as mulheres e todos os homens, é porque o seu autor só quis ser ele mesmo, numa experiência privada."
"O mundo é vicioso;
Causa-te estranheza?
Vive, deixa ao fogo
A obscura tristeza."
[Serão mais as pessoas que hoje sabem que a poesia não salva a vida mas salva o minuto do que as que sabem quão amarga pode ser a beleza que se senta sobre os joelhos. Eu, que tenho mau feitio, e serei talvez uma alma velha, não consigo encantar-me com o fenómeno Campilho, nem desencantar-me, nunca, um milímetro, com Rimbaud.
Nunca tinha lido uma biografia tão poética. De um poeta sobre outro. As biografias deviam ser todas assim, escritas por gente grande. E Yves Bonnefoy, 92 anos, prémio Balzan em 1995, é enorme. Conta-nos tudo, a ausência de auto-estima de Rimbaud, a luta contra o seu dark side, a condenação à carência ditada pela mãe, a relação conturbada com Verlaine, o que o distingue de Baudelaire, sim, as fugas também. E "todas as formas de amor, sofrimento e loucura". Tudo. E tudo sobre os poemas. E tudo com poesia. Que maravilha!]
Sem comentários:
Enviar um comentário