Foi o segredo mais bem guardado da nossa quase última década de tournées. Naquele 17 de Agosto de 2005, era o concerto que mais queríamos ver. Saímos a correr do trabalho, atrasados como sempre, Coura era o destino, o inspiradíssimo Funeral dos Arcade Fire a missão. Começámos a ouvi-los ainda dentro do carro - mau sinal, tinham começado a horas -, a chegar à vila, uma canção, a levantar os bilhetes, outra canção, a tentar encontrar lugar para estacionar, mais uma, a tropeçar encosta abaixo. Teremos finalmente chegado, sem certezas absolutas, naquele momento apoteótico de Rebellion (Lies). Mas na nossa memória afectiva guardámos sempre a ideia de que vimos "quatro canções, talvez cinco". Rebellion (Lies) foi a última canção daquele fim de tarde. Talvez uma canção possa valer um concerto inteiro, nunca nenhum de nós quis apurar a verdade. "Quatro canções, talvez cinco". Estava tudo bem, estávamos juntos, estivemos lá e foi lindo.
Os Arcade Fire voltaram em Julho de 2011, ao Meco, depois de a NATO ter cancelado o concerto marcado para Novembro de 2010, em Lisboa. Era meio estranho porque iam tocar a seguir aos Portishead. E a Beth Gibbons, que já não vinha a Portugal há não sei quantos anos, deu naquela noite um concerto maior que a vida. Não precisávamos de rigorosamente mais nada depois da homilia funda que nos deu, só de ficar ali a digerir aquilo devagarinho. Mas tínhamos ainda Arcade Fire, Neon Bible para recuperar e The Suburbs fresquinho. Era uma decisão difícil, mas quase nem tivemos tempo de escolher. Os canadianos entraram em palco com a força de um tsunami e atropelaram-nos naquilo que sempre pareceu uma contraditória ressurreição. Um concerto memorável naquela que foi talvez a melhor edição de sempre do Meco.
E depois, ontem, voltaram a voltar... ao Rock in Rio. Dez anos depois de ter ido pela primeira vez à quinta da bela vista, confirmei por que razão jurei na altura que nunca mais lá ia. É um festival esquizofrénico, de misturas altamente duvidosas, um gigantesco circo em que a música é apenas um adereço. É preciso ser muito, muito grande para conseguir fazer esquecer a circunstância. Os Arcade Fire, razão única da excepção, só podiam conseguir. Durante quase duas horas estivemos noutro sítio qualquer. "In my my dreams, we're still screaming". Grandioso concerto.
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