quinta-feira, dezembro 27, 2012

Andrei Platónov: A escavação


"Mas para dormir era preciso ter tranquilidade de espírito, confiança na vida, perdoar a mágoa passada, e Voschev estava ali deitado na seca tensão da consciência e não sabia se tinha alguma utilidade neste mundo ou se tudo passaria muito bem sem ele. (...) O homem constrói uma casa, mas destrói-se a si mesmo. Quem viverá então?

No terreno baldio segado cheirava a erva morta e à humidade dos lugares desnudados, pelo que se sentia mais claramente a tristeza geral da vida e a melancolia da inutilidade. Deram uma pá a Voschev e ele agarrou-a nas suas mãos, com a dureza do desespero da sua vida, como se quisesse extrair a verdade do interior dopó da terra; deserdado da sorte, teria aceitado a ausência de sentido para a existência, mas queria ao menos observá-lo na substância do corpo de outro, de um homem próximo - e para se encontrar perto desse homem, era capaz de sacrificar no trabalho todo o seu frágil corpo, extenuado pelo pensamento e pelo absurdo."

Sem comentários:

Enviar um comentário