Quando chegou ao Governo, Álvaro Santos Pereira pensou que era a reencarnação do célebre Urtigão. Em vez da caçadeira usaria a voz e o sorriso e com isso afastaria as incómodas perguntas a um executivo que só pensa em finanças e não em economia.
Quando chegou ao Governo, Álvaro Santos Pereira pensou que era a reencarnação do célebre Urtigão. Em vez da caçadeira usaria a voz e o sorriso e com isso afastaria as incómodas perguntas a um executivo que só pensa em finanças e não em economia. Rapidamente as munições acabaram e a Álvaro Santos Pereira sobra o sorriso. Se a gasolina continua a subir, afectando todos os sectores da economia real, Álvaro sorri. Se o desemprego continua a bater recordes sucessivos, Álvaro sorri. Se a questão das taxas Multibanco ameaça transformar a economia portuguesa numa de regresso às notas e moedas, Álvaro sorri. Até porque não entende, como é visível num país que tem tido as mesmas oscilações económicas que Portugal ao longo dos últimos dois séculos, a Argentina, que em breve teremos nas montras um preço para quem paga com cartão e outro para quem paga em dinheiro real. Duas economias.
Álvaro julga que a sua atitude é a da mão invisível. E que ele é o representante dessa ideologia no Estado. Que as coisas acontecem porque têm de acontecer enquanto ele sorri e acena como um estadista que circula pelas ruas num carro à prova de bala e de contaminação com o país real. Álvaro julga que governar é sorrir e acenar. O problema é que, num país vergastado pela austeridade e sujeito ao saque fiscal, ele deveria ser o oxigénio da sociedade portuguesa. Não o sendo, é penoso para os portugueses que seja ministro. O sorriso de Álvaro Santos Pereira não ficará na história como o de Gioconda. Será eventualmente recordado como o de quem vivia num mundo que não era o dos portugueses. E ninguém percebia porque continuava a sorrir.
[Hoje, no Jornal de Negócios]
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