Hoje a banca europeia vive o seu segundo momento de happy hour. O primeiro ocorreu a 21 de dezembro quando Mario Draghi deixou que 523 bancos levantassem em escassas horas 489 000 milhões de euros, a três anos, com uma taxa de juro de 1%. Para os leitores ficarem com uma ideia, essa quantia é superior a todos os resgates atribuídos aos três países intervencionados, incluindo o prometido segundo pacote à Grécia (no total são 403 mil milhões). A Europa esteve à beira de um colapso de crédito, antes do Natal, tal a desconfiança reinante entre os bancos.
Foi esta medida do BCE, contra a letra e o espírito do Tratado de Funcionamento da União Europeia (em particular os seus artigos 123.º, 125.º e 127.º) que nos deu mais algum tempo para respirar. Mas é mesmo só isso. Tempo para respirar. Aposto que hoje a banca vai atingir novo recorde, ultrapassando a barreira dos 500 000 milhões. Nenhuma solução estratégica surgiu entretanto. O dinheiro da banca vai ser usado para bons negócios especulativos com a dívida pública dos respetivos países, mantendo artificialmente a dívida de Itália e Espanha a níveis suportáveis.
A falta de coragem moral e a completa incompetência política que prevalece no país hegemónico desta derrocada europeia em curso abriram caminho a um novo Tratado de "disciplina orçamental", que ninguém vai cumprir, mas que trará mais achas para a dilaceração e o conflito. A Grécia já entrou na condição de zombie. Um cadáver adiado, que está apenas à espera do resultado das eleições francesas para ser declarado oficialmente morto. Uma Europa assim só merece o destino de Sodoma e Gomorra. Mas nem é preciso o fogo dos céus. Basta seguir o guião de Berlim para o inferno.
Hoje, no DN
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