segunda-feira, novembro 16, 2009

A menina do rio


Ela tem os olhos a brilhar. Vira-se para mim, do quase nada, e diz na sequência de qualquer coisa que não ouvi: "É como a gota de orvalho que pesa na folha da couve enterrada no chão. Não pesa sempre, mas às vezes pesa tanto, sabes?" Não sei, mas naquele momento começo a ouvi-la. Ela tem os olhos a brilhar (tanto!), o coração a chorar. "Nunca sabemos quando vai ser para sempre, não é?", pergunta-me. Não sabemos, é verdade. E ela queria que tivesse sido, precisava que tivesse sido já. Que tivesse sido para sempre aquele o amor que era o reflexo dela, que era ela em versão masculina, que encaixava nela como nenhum outro antes. "Quando isto falha, é difícil saber o que pode resultar, não é?" Não sei. Não sei se o amor é lotaria, construção ou acaso. Não sei se, para ser amor, tem de ser para sempre. Ela ainda não tem 30 anos. Tem os olhos a brilhar, e tem medo (tanto!). Diz-me que as pessoas se dividem entre as que são rio e as que são mar. "Podemos olhar para ambos de costas: o mar leva-nos; o rio não". Ela diz que é a menina do rio. Não sei porquê.

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