domingo, novembro 29, 2009

José Saramago: Caim

Ignoro a polémica. Não sou por Saramago nem contra Saramago. Não sou devota nem alérgica à obra do senhor. E sobre a Religião, estou do lado dos que acreditam e praticam (ou tentam), mas vivo bem com quem a critica e abomina. Apesar disso, sobre Caim não me ocorre nada senão um cliché de solas gastas: muita parra; pouca uva. Muita controvérsia, muitas páginas de jornais, muitos membros da Igreja entrevistados avulso por causa de um livro que, afinal, não merecia o esforço. E não é porque Saramago não tente, não se entregue efectivamente à tresleitura do Antigo Testamento, ou porque aquilo não possa realmente melindrar os católicos mais fervorosos. É só porque Saramago o faz de uma forma tão preguiçosa, tão pouco criativa, com umas piadas tão quase infantis, que o desapontamento, não fosse ele quem é, não chegaria para alimentar qualquer tipo de celeuma.

sábado, novembro 28, 2009

Eu quase amei a forma como tu mentias




Eu quase amei a forma como tu mentias,
limpando os pés ao meu sorriso, e é claro que achas que eu não presto, é claro que achas que eu não sirvo

foi no teu amor que algo se perdeu, foi no teu amor , não no meu

eu quase amei a forma como tu me vias, logo eu amo outra pessoa, e não me importa se eu não presto, eu tenho planos para lá de mim, e tu és só o que eu te empresto

sexta-feira, novembro 27, 2009

Manuel António Pina


"Talvez só os pequenos amores possam ser felizes,
pois que, não chegando começar, também não acabam."

terça-feira, novembro 24, 2009

PSD no maravilhoso país das intenções II

Não foi possível aos deputados social-democratas disfarçar a total ausência de expectativa relativamente ao discurso que Manuela Ferreira Leite (MFL) proferiu hoje, ao fim da manhã, em Espinho, no encerramento das jornadas parlamentares do PSD. Por um lado, porque a deputada e líder do partido não esteve presente em nenhum dos painéis de trabalho de ontem, logo, seria impossível retirar conclusões do que não ouviu; por outro, porque qualquer declaração sobre a data das eleições directas para a escolha do próximo presidente do partido – assunto que pôs toda a gente a assobiar para o ar, embora as ditas continuem atiradas para depois da discussão do Orçamento de Estado para 2010 – era, como depois se confirmou, altamente improvável. MFL é o Michael Jackson da política portuguesa: entra muda, reproduz no palco a coreografia previamente ensaiada, acena com visível esforço ao povo, sai calada. E, mesmo assim, só quando todos os outros já saíram.

Sobre a poeira e o futuro do PSD, avançou portanto olimpicamente. A pandilha da bancada ficou confinada ao refrão "muito bem, muito bem" quando ela, a líder que todos querem que deixe de o ser, desatou a perorar sobre as já conhecidas críticas ao Governo, ali vagamente refrescadas pela boleia dos últimos acontecimentos. Nem o verbo "asfixiar" foi esquecido. E devidamente repetido. MFL denunciou, enunciou, pormenorizou tudo o que está mal. Ou seja, tudo. Mas esqueceu-se de dizer como se faz bem. Não é grave se considerarmos que também José Aguiar-Branco, que ali se fartou de apelar ao dever de eficácia do sistema judicial, esqueceu que foi, ele próprio, e há bem pouco tempo, ministro da Justiça...

segunda-feira, novembro 23, 2009

PSD no maravilhoso país das intenções I

São duas faces da mesma moeda, mas o PSD acha que pode separá-las. As jornadas parlamentares, que começam hoje em Espinho, pretendem solucionar os problemas do país, mas não a turbulência interna do partido. (Turbulência?! Que turbulência?!) Será uma reunião, no mínimo, curiosa. Os líderes das distritais do Porto e Lisboa exigem a antecipação de eleições directas. José Pedro Aguiar-Branco admite que Manuela Ferreira Leite já deu indicações que apontam para uma nova liderança - mas ele recusa assumir-se como candidato e ela parece recusar eleições antes de cessar o mandato; Marco António Costa diz que o PSD não poderá fazer oposição séria ao Governo nem surgir-lhe como alternativa enquanto continuar desorientado do ponto de vista político e a boicotar o seu trabalho diário no Parlamento, mas aparentemente só concorre em instâncias que só Deus conhecerá. Marcelo Rebelo de Sousa só concorre se não tiver concorrência. Pedro Passos Coelho continua à espera que soe o tiro de partida para uma corrida que ninguém sabe quando começa. Também ninguém sabe quem apoia quem.


Apesar desta reclamada urgência na substituição da líder, e apesar de ser claro para os dirigentes e militantes que não haverá credibilidade nas propostas de solução para os problemas do país sem estabilidade interna no partido, é nesse cenário de faz-de-conta que a família social-democrata irá estar reunida hoje e amanhã em Espinho - querendo parecer coesa e debaixo de um único guarda-chuva: a afirmação de Portugal. Pode o país acolher as propostas do PSD quando o PSD não se ouve a si próprio? É possível dissociar uma coisa e outra? Eles garantem que sim....

If I could turn back time.. Would I unlearn all the things I have learned? Would my first kiss be my last one? Would I un-cry all the things I regret?

Regret from Robin Glass on Vimeo.

domingo, novembro 22, 2009

quinta-feira, novembro 19, 2009

Noites brancas


“Noites brancas” é, de todos os livros de Dostoievsky, o único que é romântico. Uma historia de amor contada em quatro noites de Primavera, em S. Petersburgo. Uma história de amor e solidão entre um sonhador - e não há pior condenação na vida do que ser-se sonhador, daí estarmos perante um herói proscrito - e Nástenka, menina que, na quase infância dos 15 anos, sem pai nem mãe, ficou presa por um alfinete ao avental da avó cega, castigo que a impedia de repetir as traquinices da idade. Esta novela do escritor russo - a última antes de ir para a prisão - é de uma beleza tal, que é difícil imaginar qualquer tipo de acção sobre ela. Ainda por cima, este sonhador faz tanto lembrar K. Maurício de "A morte do palhaço", de Raul Brandão (embora este escrito muito mais tarde, 105 anos depois), que essa associação faz elevar a fasquia até ao limite da mais absoluta intolerância diante de qualquer exercício sobre o texto.

E apesar disto, a companhia portuense Chão Concreto ousou arriscar a sua primeira produção com ele. E ousou despir o cenário de qualquer adereço que tivesse a obviamente estéril pretensão de nos remeter para aquela "noite divina", para aquele "céu estrelado e límpido" que no colocaria diante da pergunta: "será possivel viver sob este céu gente zangada e injusta?" Um banco velho de jardim é tudo. Mais ainda, ousou colocar dois actores (Ivo Bastos e Nuno Preto) em palco em vez de um actor e uma actriz. E assim, de repente, quando aquilo começa, quase pensámos: isto é um salto para o abismo, um arma apontada em direcção ao texto, não estamos preparados para ver este texto ser assassinado. Mas ainda não terminámos o pensamento e já nos demos conta da injustiça.

Aos primeiros minutos do monólogo do sonhador, o sonhador na pele do seu pior inimigo, porque nada é mais violento do que sonhar, somos engolidos por ele. Não há actores em palco, não há uma farsa, há aquela história inteira, fidelíssima, de um homem que de tanto sonhar se esqueceu de viver, aquele homem a dar a mão com força àquela rapariga que chorava à chuva, aquele homem a amá-la no silêncio, com medo de a ferir com tanta timidez, com qualquer palavra fora do lugar, aquele homem a despejar palavras em catadupa, umas atrás das outras, como se o mundo fosse acabar amanhã. Ou dali a quatro noites. E quando Nástenka aparece, ela ali no corpo de um homem, ela ali também a contar sua história, a sua dor pelo noivo que não voltou, ela cheia de trejeitos de menina, ela também cheia de sonhos, de vontade de esperar, , julgávamos que já não era possível uma rendição maior. Mas talvez fosse. Era. A felicidade, o amor, aquilo de que um já tinha desistido e o outro ainda esperava, estava ali. Como é possível não ver?

Há textos que, para sobreviverem, têm que ser tratados com pinças. É o caso. O diálogo (ou os dois monólogos) de Noites Brancas é um dos mais bonitos da história da literatura. E ali ele é tão bem tratado que quase dá vontade de, no fim, abraçar os actores. A peça estreou ontem. E vale mesmo a pena vê-la. "Um minuto inteiro de felicidade! Será pouco, mesmo que tenha de dar para toda a vida de um homem?..."


Encenação: Rodrigo Santos
Interpretação: Ivo Bastos e Nuno Preto
Desenho de Luz: Pedro Vieira de Carvalho
Cenografia: Ricardo Preto
Figurinos: Catarina Marques
Produção Executiva: Marta Lima
De18 a 29 de Novembro, às 21:45
Sala-Estúdio Latino , no
Teatro Sá da Bandeira
21.45 horas.
Até dia 29.

quarta-feira, novembro 18, 2009

Felt Mountain

[Olívia Bee]

A mesa do café é uma torre de veludo. Nome de revolução pacífica, veludo. Do lado de lá, à distância de uma incógnita, um cavalo com asas. E lá em cima, se lá pudesse chegar, uma noite inteira de estrelas, o inefável olhar do jogador. As mãos a arder como fósforos acabados de lamber o papel. O que poderia detê-los? O destino como um lugar prestes a acabar. O início como anúncio da despedida. A vida numa ampulheta, em contagem decrescente. Um duelo. Hércules mata o Leão de Nemeia; Hércules é derrotado pela Hidra de Lerna. Quem é quem? Ambos foragidos da vida, bestas de carga que se aliviam da trouxa num tabuleiro de xadrez. Gatos que só adormecem quando a voz do colo lhes fala baixinho ao ouvido. Por sussurros. E acordam em sobressalto, rabugentos, quando são devolvidos ao chão. Gatos de temperatura certa. Kasparov contra Karpov. Como se chama a uma coisa que existe, mas não tem peso? Meteorito, corpo celeste? Quem ofusca quem? Inúmeras viagens ao estrangeiro, nenhuma ao céu. Nenhum mapa para ajudar. A mesa do café é um monte de destroços a levitar. O tempo a chegar ao fim. Agora ou nunca. Violinos a gemer, aves de rapina a levantar voo, o chão a tremer, o mundo já podia a acabar. A história toda contada no tempo de um café. Com adoçante, por favor.

terça-feira, novembro 17, 2009

And we could be together till the end... If...

[Olivia Bee]

Se ela fosse uma estrada, ele segui-la-ia. Se fosse a noite, ele dormiria durante o dia. Mas se ela fosse o dia, então ele escolheria a noite para chorar. Se ela fosse uma árvore, ele abraçá-la-ia e poderia esculpir o nome dele no corpo dela. E ela não iria chorar porque as árvores não choram. Se ela fosse um homem, ainda assim, ele continuaria a amá-la. Se fosse uma bebida, ele embebedar-se-ia com ela. Se fosse atacada, por ela, ele mataria. Se o nome dela fosse Jack, ele por ela mudaria o nome para Jill. Se ela fosse um cavalo, ele não hesitaria em limpar-lhe o estábulo. Poderia montá-la ao amanhecer e ficar com ela até ao dia acabar. Falaria sobre ela nas canções dele, cantaria para ela à medida que caminhassem em direcção ao pôr-do-sol. Se ela fosse filha dele, ele teria dificuldade em deixá-la ir embora. Se fosse irmã dele, desejaria encontrá-la a dobrar. Se ela fosse um cão, ele alimentá-la-ia, dar-lhe-ia o melhor. Então, ela seria a sua mais fiel amiga, nunca teria de pensar duas vezes, e eles poderiam ficar juntos até ao fim. Se...

Divine Comedy, aqui.

When you least expect, your sky will trumble down


Some things are better left forgotten
all the weight of the world will crush your bones
in an ideal situation
this will all be over soon

and I will leave this world in pieces
I will leave it to the scarab and the crows
under seas and under soil
in a million years our bones will be your oil

one by one
it happens to us all
when you least expect
your sky will tumble down
we were surprised to find it was our time
to sink or swim

we’re out of our death
the sea of regrets and
I hate to say I told you so
a sea of excess and
this is everything I hoped it would be
Sea of regrets, i like trains, aqui.

segunda-feira, novembro 16, 2009

Edie Sedgwick, la femme fatale



No sétimo piso do Museu Andy Warhol, em Pittsburgh, segunda maior cidade da Pensilvânia, nos EUA, há um filme de Edie Sedgwick. Um filme hipnotizante, em loop, sem fim, sem som, um filme a preto e branco sem história. Ali está ela diante da câmara, a dançar, a serpentear, a rir, a fazer poses dengosas, infantis, poses exóticas, eróticas. E tudo nela é ardente, os olhos riscados de preto, os lábios cheios, carnudos, vermelhos, o cabelo platinado, de ouro, às vezes de prata, até o cigarro que aperta entre os dedos. Ela ali a querer ser actriz, ela ali a provar por que razão a maior exibição da vida dela foi ela própria. Chegámos ali, nós que não nos damos particularmente bem com a Pop Art e desdenhamos das latas Coca-Cola e das embalagens de sopa Campbell, chegámos ali e percebemos por que razão valeu a pena ali chegar. Edie Sedgwick é a cereja, sabe que é impossível tirar os olhos dali, dela, é arte em estado vivo. Com tudo o que a arte, e nem sempre a vida, tem de loucura, de excêntricidade e, ao mesmo tempo, de absoluta pureza. De vício. Ela, a musa de Warhol; a Leopard-Skin Pill-Box de Bob Dylan; a Femme Fatale que Lou Reed escreveu para os Velvet Underground em 66; ela, nome de bares, de poemas, de canções, de filmes, de perdições várias; ela, ícone de moda dos anos 70, de todos os anos que ainda estavam por vir; ela, a menina cool de Manhattan; ela, viciada em drogas e, apesar disso, tão cheia de liberdade. Ela, a menina-mulher da Califórnia que morreu de overdose aos 28 anos. Se fosse viva, Edie Sedgwick faria hoje 66 anos.

A menina do rio


Ela tem os olhos a brilhar. Vira-se para mim, do quase nada, e diz na sequência de qualquer coisa que não ouvi: "É como a gota de orvalho que pesa na folha da couve enterrada no chão. Não pesa sempre, mas às vezes pesa tanto, sabes?" Não sei, mas naquele momento começo a ouvi-la. Ela tem os olhos a brilhar (tanto!), o coração a chorar. "Nunca sabemos quando vai ser para sempre, não é?", pergunta-me. Não sabemos, é verdade. E ela queria que tivesse sido, precisava que tivesse sido já. Que tivesse sido para sempre aquele o amor que era o reflexo dela, que era ela em versão masculina, que encaixava nela como nenhum outro antes. "Quando isto falha, é difícil saber o que pode resultar, não é?" Não sei. Não sei se o amor é lotaria, construção ou acaso. Não sei se, para ser amor, tem de ser para sempre. Ela ainda não tem 30 anos. Tem os olhos a brilhar, e tem medo (tanto!). Diz-me que as pessoas se dividem entre as que são rio e as que são mar. "Podemos olhar para ambos de costas: o mar leva-nos; o rio não". Ela diz que é a menina do rio. Não sei porquê.

Prepare a list of what you need, before you sign away the deed, because it's not going to stop

domingo, novembro 15, 2009

Patrick Watson, Piano Magic e The Invisible

[Piano magic]
Patrick Watson, Piano Magic e The Invisible, concerto único, no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, no dia 4 de Dezembro. Patrick Watson (http://www.myspace.com/patrickwatson), vencedor do Polar Muzic Prize, vem a Portugal pela segunda vez depois de um concerto memorável na Aula Magna em 2008. Os Piano Magic (http://www.myspace.com/lowbirthweight) vêm apresentar o seu mais recente disco “Ovations”, que conta com a participação especial de Brendy Perry (Dead Can Dance). Os britânicos The Invisible (http://www.myspace.com/theinvisiblethree), pela primeira vez em Portugal, vêm apresentar o seu disco de estreia, nomeado para o Mercury Prize de 2009.

sábado, novembro 14, 2009

Ciclo Kate Moss II

Ciclo Kate Moss I

Jimmy Choo para H&M exclui o Porto


[Christian Louboutin]


Como ninguém é perfeito, também eu gostava de ter uns belos sapatos do senhor Louboutin, aquela solinha vermelha (azul, para noivas), aqueles 13 centímetros acima do chão que fazem tanta falta a quem mede tão pouco, aquele desenho, blá blá blá. É ridículo suspirar por uns sapatos que nos custam mais do que um salário inteiro? Claro que é! Aliás, suspirar por uns sapatos, só por si, já é suficientemente ridículo. Mas é por causa desses desejos - sim, ridículos, e sim, impraticáveis para a maioria -, que os suecos da cadeia H&M decidiram criar uma espécie de sucedâneo das colecções de alguns criadores para, supunha-se, democratizar a coisa. A última parceria foi com foi Jimmy Choo, outro designer de sapatos, tão cobiçado como o francês, mas este nascido na Malásia. A micro colecção Choo está hoje à venda nas lojas H&M seleccionadas. Quais? Não sei quantas existem no país, mas imagino que sejam centenas. As três lojas seleccionadas são... em Lisboa. As três. Não é digno de abaixo-assinado contra o suecos?!

quinta-feira, novembro 12, 2009

Um mês depois das eleições, é difícil que não nos sintamos parvos!

Acto I. Estamos a 3 de Outubro de 2004 e José Sócrates é eleito líder do PS. A 9 de Outubro, Armando Vara regressa à direcção do partido pela mão de Sócrates. A 20 de Fevereiro de 2005, o PS vence as legislativas com maioria absoluta. A 2 de Agosto de 2005, há mudanças na Caixa Geral de Depósitos: Teixeira dos Santos afasta Vítor Martins e Vara integra o “novo” conselho de administração. A maioria dos membros desse conselho é afecta ao PS.

Avancemos no tempo. Grande plano. No primeiro semestre de 2007, a Caixa financia accionistas hostis ao conselho de administração em funções no BCP. Cresce o peso do banco do Estado no maior banco privado português. Vara e Santos Ferreira são incluídos em lista concorrente nas eleições para o conselho executivo. Os jornais falam no financiamento da Caixa ao empresário Manuel Fino que apoia Santos Ferreira.

A 15 de Janeiro de 2008, Armando Vara é eleito vice-presidente do BCP. Segundo documento divulgado pelo próprio banco ficam a seu cargo os pelouros executivos mais relevantes: (i) Rede Corporate; (ii) Rede Empresas; (iii) Factoring e Leasing; (iv) Marketing de Empresas; (v) Aprovisionamento, Património; (vi) Desinvestimento de Activos; (vii) Fundação BCP; (viii) Millennium Moçambique. Ou seja, Armando Vara coloca-se precisamente no coração dos movimentos de créditos, dívidas, compras e vendas de acções e activos. No centro do fluxo de todos os interesses e todas as influências.

Chegados aqui, com os actores certos nos papéis certos nas duas maiores instituições de crédito nacionais (CGD e BCP), tudo se torna possível. O primeiro golpe foi concluído. Começou então o segundo.

Acto 2. Com as possibilidades que o controlo do BCP oferece, o recém-chegado grupo Ongoing, que entretanto adquirira o Diário Económico e já tinha uma posição no Grupo Impresa (SIC, Expresso, etc), é financiado para novas acções. Com o grupo Ongoing: José Eduardo Moniz sai da TVI e controla-se a Media Capital, depois de uma tentativa de aquisição pela PT abortada pelo Presidente e pela oposição. Em Fevereiro de 2009 torna-se possível ajudar o empresário Manuel Fino a aliviar os problemas financeiros (em parte criados pelo reforço da posição no BCP) junto da CGD prestando uma dação em pagamento com acções suas valorizadas cerca de 25% acima do preço de cotação e com opção de recompra a seu favor. Torna-se também possível ajudar o «amigo Oliveira» a resolver os problemas financeiros do seu grupo de media (Diário de Notícias, TSF, Jornal de Notícias).

Tudo factos do domínio público que muitos a seu tempo denunciaram. Sócrates respondia com a cassete familiar: “Quem tem procurado debilitar os órgãos de supervisão, lançando críticas à sua actuação no BCP, está a fazer 'política baixa'". Política baixa, diz ele. Estamos perto do fim desta operação bem montada. Sócrates ganhou de novo as eleições. Mas este encadeamento todo precisava de confirmação. Incrivelmente, nas escutas a Armando Vara no caso “Face Oculta” eis que surge a arma do “crime” libertando fumo: "O primeiro-ministro e o ‘vice’ do BCP falaram sobre as dívidas do empresário Joaquim Oliveira, da Global Notícias, bem como sobre a necessidade de encontrar uma solução para o ‘amigo Joaquim’. Uma das soluções abordadas foi a eventual entrada da Ongoing, do empresário Nuno Vasconcellos, no capital do grupo. Para as autoridades, estas conversas poderiam configurar o crime de tráfico de influências."

Escutas nulas, disse o Supremo. Os factos, meus amigos, é que não são.

["Cronologia de um golpe", Pedro Lomba, hoje, no Público]

quarta-feira, novembro 11, 2009

sábado, novembro 07, 2009

Wish you were here

[Olivia Bee]

O grande mistério dos anos que passam, no dia em que passam, são os amigos. Os que não sobreviveram - à vida ou só ao ano anterior; os que sacodem o bolor - do esquecimento ou da saudade - uma vez por ano; os que regressam de um amuo à boleia da data que nos faz esponja de afecto; os que resistem - ao tempo, à distância, às guerras todas, quase todas de silêncio; os que resistem, mais difícil ainda, à vida de todos os dias; os que se estreiam para previsivelmente desaparecerem. E os que vêm agora, como rosas brancas, para nunca mais murcharem. A voz daquele milésimo de segundo que dita a meia-noite, raras vezes é a mesma.

Mas há vozes que ficam sempre, que estão sempre lá. Cá. As vozes que não morrem, nem mudam, nem se atenuam. A voz da mãe que substitui a amiga que já não está. Aquela voz branda, baixa, tão valente, aquela voz porta-voz de quem não pode já falar com palavras. Essa voz a lembrar que a distância entre a terra e o céu é apenas de um abraço que se dá com o coração. Às vezes, a terra pode ser o chão daqui e o céu Buenos Aires.

quinta-feira, novembro 05, 2009

Spotless mind

[Olívia Bee]

Estranha forma de vida perseguir o rasto de um cometa quando ainda não é noite e a luz já está acesa. Querer ver o que não é visível. Sítio errado, à hora errada. Baptismo de fogo é isto, ter asas e não poder voar. Coreografia errada mesmo quando arde. Ouço melhor quando não dizes nada. No silêncio brando, a resposta. Se até Deus morreu...

quarta-feira, novembro 04, 2009

Herberto Hélder

[Olívia Bee]
"Se me perguntarem das artes do mundo
escolho a de ver cometas."

segunda-feira, novembro 02, 2009

The dark is rising

Vejo um muro, uma igreja iluminada. Não te vejo. Vejo um rio, um barco bambo. Não te traz. Traz estrelas. Grilos ou poemas, tanto faz. A tua voz. Traz só o que não se vê, o que pesa e não ocupa espaço. Redoma de violinos, velocidade lustrosa. O ritmo imposto pelos dias que não voltam. Tempestade estranha com frio fino e chuva de luz. Muitas noites a trovejar. Balas de vidro, estilhaços, crimes aguçados, escondidos. Vejo um sorriso bordado por cima do sangue. Acreditei em ti antes sequer de te beijar. Adormeço. Vejo uma boneca morta, um gato castrado, uma lua com sono, uns pés cansados. A vida pendurada por fios.

domingo, novembro 01, 2009

Sweet November

[Olívia Bee]
É incrível como, de repente, nos tornamos dependentes de alguém sem a qual há um mês o mundo girava perfeitamente.