quarta-feira, janeiro 30, 2013

Fernando Sobral: A política Dorian Gray



Cada vez que um secretário de Estado é removido, o Governo olha para o espelho e julga que é Dorian Gray. No fundo Passos Coelho tem medo de ver as rugas reais do seu Governo e também a sua verdadeira identidade.


Os secretários de Estado caem, como peras podres, para que os ministros descartáveis como Miguel Relvas se mantenham. Passos Coelho resiste dentro da falácia que é julgar que caminha com segurança para um destino que só ele vê. E continua a construir argumentos a partir de falsas premissas. Cada miniatura de remodelação, é um evento. E isso permite que o Governo não reconheça que está equivocado nas trapalhadas que vai distribuindo, aos molhos, pela sociedade.

A remodelação Dorian Gray permite que o Governo finja mudar enquanto se prepara, no meio do tumulto no PS, para cortar quatro mil milhões sabe-se lá onde e se faça uma pseudo-reforma do Estado à sucapa. E tudo corre melhor porque o PS está preocupado consigo próprio, em vez de se focar nos dislates do Governo. É por isso que António Costa só finge que avança para a liderança: para manter a pressão. Sabe que para resolver certos problemas o melhor é não fazer nada. Para que é que o PS quer ganhar, agora, o poder? Para fazer o que faz Passos Coelho? António Costa e António José Seguro hão-de lutar, porque tudo os separa há muitos anos. Mas Costa sabe que é preciso tempo.

A questão central é a da hegemonia cultural, de que falava António Gramsci. Só quando o vazio arder nos bolsos e na alma dos portugueses será possível mudar o rumo do vento. Até lá, quem quiser o 
poder, terá de gerir o tempo. E esperar que a fonte da juventude de Dorian Gray seque. 

[Hoje, Jornal de Negócios]

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