Manoel de Oliveira recebeu hoje o doutoramento honoris causa da Universidade Portucalense e viu ser criada, pela primeira vez, uma cátedra em seu nome, a Cátedra Manoel de Oliveira de Cultura e Criatividade. “A situação é muito difícil, nós estamos em crise e o Gebo e a Sombra, o meu último filme, fala da honestidade, da honra e da pobreza”, lembrou o mais velho cineasta do mundo em actividade.
Fez o filme, afirmou, porque um admirador o interrogou por que não fazia um “filme sobre os pobres” e ele lembrou-se da obra de Raul Brandão. “Trata da pobreza, da falta de valores, da falta de honradez, passa-se no princípio do século XX e por isso não tem um carácter muito ofensivo para representar a actualidade, mas, por formas indirectas, representa a actualidade”, afirmou.
Proferindo algumas palavras após receber as insígnias das mãos do vice-reitor da Portucalense, já que o reitor Guilherme de Oliveira foi o padrinho da cerimónia, Manoel de Oliveira lembrou que, em visita à Grécia, mudou de uma pensão para um hotel, pela mão da actriz Irene Papas, “mas por conta do Governo”, salientou.
“Não sei se foi essa a causa da crise que a Grécia agora sofre”, ironizou o realizador de 103 anos, que recordou que, na altura, a actriz lhe lembrou que, na antiguidade, as autoridades “pagavam aos autores para escreverem as tragédias gregas, aos actores para as representarem e pagavam ao público para as irem ver”. “Eu fiquei chocado, mas depois compreendi que as tragédias gregas eram uma maneira de ensinar ao público a condição humana”, explicou. “A universidade pode ensinar muita coisa, mas a condição humana só a arte”, afirmou, acrescentando não saber se o seu “cinema alcançava esse estatuto”, mas “que alguma coisa deve passar por lá”.
in Porto24
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