segunda-feira, maio 16, 2005

Maria João Araújo

"Preparo audiências para um longo prazo"

Continuidade e crescimento. Maria João Araújo diz ter sido esta a estratégia para o Serviço Educativo da Casa da Música, no Porto, que dirige há cerca de um ano. "A área educativa era uma estrutura pequena, com eventos pontuais. Agora cresceu e vai dedicar-se à investigação ". Em segundo plano ficará o trabalho desenvolvido, nos últimos anos, com os bairros carenciados, cumprindo a missão de dessacralizar a música. "Vamos começar em Outubro a trabalhar com escolas e comunidades problemáticas". A equipa, justifica a responsável, "entrou há pouco tempo e era impossível fazer trabalho a meio do ano".
(Entrevista de Helena Teixeira da Silva publicada no Jornal de Notícias a 16 de Maio de 2005)

Nos últimos anos, o Serviço Educativo (SE) apresentou várias obras próprias. Porque é que na inauguração da Casa da Música só houve obras encomendadas?
Esses projectos demoram tempo a ser programados. Esta direcção arrancou há pouco tempo, era impossível fazer um trabalho com as escolas a meio do ano.

Que herança recebeu do Serviço Educativo, que já existe desde 1999?
Herdei sobretudo pessoas muito apaixonadas pelo projecto.

Apostou na continuidade ou na ruptura dessa herança?
Na continuidade e no crescimento. O SE era uma estrutura pequena, que fazia eventos pontuais. Agora cresceu, está estruturado e tem uma casa. Mantive a ideia de ser uma casa para todas as músicas.

A que se deveu a necessidade de mudar o nome de Serviço Educativo para Direcção de Educação e Investigação?
Fazia falta a área de investigação. Nesta Casa tem que haver espaços para quem quer ouvir e experimentar, mas também para quem quer estudar e guardar preciosidades da música. É fundamental que a programação seja fruto de uma investigação científica, que possa ser a base de um trabalho profundo com as audiências.

Em que filosofia está ancorada essa investigação?
Desenvolveremos a área de investigação e pedagogia, mas também a área da musicologia. A Gulbenkian tem feito um trabalho meritório nessa área, mas centrado na música antiga e barroca. Nos séculos XIX e XX está praticamente tudo por fazer. Há obras mestras por editar, os músicos não as podem tocar porque não há partituras editadas. Vamos colaborar com as Universidades Católica do Porto e de Oxford. Estamos a investigar na área das novas tecnologias. Há um espólio disperso que é preciso reunir. Há pessoas que nos querem doar colecções. A mediateca será um pólo dessas preciosidades. Ainda este ano, vamos iniciar as edições da Casa da Música.

Até aqui, o trabalho mais emblemático do SE, cujo objectivo era dessacralizar a música, foram os projectos com a comunidade, nomeadamente com os bairros de Aldoar e Fonte de Moura. Há algum projecto nesse sentido?
Só vamos começar em Outubro. Temos a programação em duas fases: uma foi a de arranque até Julho, com eventos isolados. A partir de Outubro temos projectos de longo prazo. Vamos fazer um protocolo com a DREN, que permitirá trabalho profundo com as escolas. Vamos lançar-lhes o desafio de serem elas a propor os projectos nos quais gostariam de trabalhar connosco. Isto implica as comunidades locais e problemáticas, e os docentes.

O programa de abertura foi um trabalho isolado do SE ou houve colaboração com as outras estruturas residentes?
A área artística passou a estar separada da área educativa, que agora é autónoma. Obviamente, trabalhamos em colaboração. Programei alguns eventos de acordo com a programação da área artística e outros de forma independente.

O que é que sustenta essa separação entre a área educacional e a artística?
A transversalidade. Poder trabalhar a longo prazo, e não só para a programação da área artística. Estou a formar audiências a longo prazo e não só a prepará-las para um concerto específico.

Como é constituída a equipa da direcção de investigação?
Temos coordenadores para cada uma das áreas: comunidades, escolas, trabalho com instituições. Depois, consoante os projectos e as especificidades que cada um necessita para efectuar bem a sua tarefa, vamos trabalhando com animadores, vamos buscar monitores. Tudo em outsorcing.

Porque é que o serviço de babysitting não funciona?
Foi um conceito que teve de ser reformulado porque o espaço que lhe estava destinado não tinha condições de segurança, tinha muitas escadas. Por isso, ainda não está programado. Só funcionará este ano se encontrarmos um novo espaço adequado e seguro.