sábado, dezembro 19, 2009

Santana Lopes volta a dividir o PSD


Pedro Santana Lopes, que nos últimos anos perdeu o "país", a Câmara de Lisboa e a liderança do PSD, voltou para anunciar que quer tirar o partido do torpor com um congresso extraordinário antes das directas. Pelo PSD ou para recuperar o poder?

Se a ideia era congregar o partido em torno de uma proposta conciliadora e capaz de fazer ressuscitar o PSD como alternativa de Governo, o resultado foi contraproducente. A convocatória do congresso extraordinário, anunciada anteontem por Pedro Santana Lopes (PSL) no semanário Sol, já está a dividir militantes e dirigentes. Curiosamente, Manuela Ferreira Leite concordou com a ideia. "É um belíssimo momento para um debate muitíssimo importante antes das eleições directas". Só que a posição da líder do PSD, que teve conhecimento prévio do artigo por iniciativa do próprio Santana, longe de levar a que outros a sigam, acentuou a estranheza.

"O partido não precisa de um congresso extraordinário, precisa de eleições ordinárias", afirmou ao JN Ângelo Correia, antigo dirigente do partido, impaciente com o protelar constante da sucessão da liderança do PSD. "Não se justifica adiar por mais tempo a escolha de um líder que dê ao partido o rumo que ele perdeu".

O líder parlamentar, Aguiar-Branco, não irá subscrever a convocação do congresso, mas não vê nisso "um problema", desde que seja a vontade dos militantes. Já Deus Pinheiro, figura história do PSD, acha "a ideia excelente numa altura em que é tão importante discutir o partido e o país".

Ângelo Correia não podia estar mais em desacordo. O congresso, a realizar-se, será uma perda de tempo. "Juntar 500 pessoas num congresso a discutir o partido é diferente de juntar 50 mil militantes a votar numas eleições. Há uma escala democrática que se preserva e defende nas eleições." De resto, sustenta, "se é necessário eleger delegados para o congresso, porque não fazer já eleições?" O antigo dirigente vai mesmo mais longe. "A proposta de PSL é uma manobra suspeita, paralisante e frustrante das expectativas do partido. O Congresso só vai alimentar a confusão", prevê.

Deus Pinheiro está outra vez do outro lado. "É a ausência e não a discussão de ideias que cria confusão. A estabilidade do partido resultará de um debate em que sejam revistas as nossas posições".

Se a possibilidade de congresso está longe de gerar consenso, já a hipótese de PSL regressar à liderança do partido não oferece à mais pequena dúvida: aparentemente, a rejeição é transversal.

Miguel Relvas, deputado do PSD, que também não encontra utilidade no congresso - "A urgência que tantos parecem ter no congresso é oposta à calma com que adiam as eleições, e isso é estranho", disse -, recusa a ideia de que PSL possa ver nesta estratégia um caminho de regresso ao poder. "Os protagonistas do futuro não podem ser os mesmos do passado". Cita Pedro Passos Coelho numa entrevista que deu recentemente ao JN: "O PSD tem de emancipar-se dos velhos do Restelo". Nesse aspecto, até Deus Pinheiro está de acordo. " Não julgo que seja essa a ideia de PSL, mas se for, desaconselhou-o vivamente. O PSD precisa de alguém disponível, com sangue na guelra".

Para já, a lenha que PSL veio atirar para a fogueira do PSD serviu apenas para deixar ainda mais claro que não se sabe quem está do lado de quem. A ironia de Luís Filipe Menezes é um bom exemplo. "Fui líder do partido durante quase um ano e agora ia tentar resolver em 24 horas aquilo que não fui capaz de resolver num ano?!"

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