Subornei a memória para que ela te apagasse de mim antes que eu percebesse que nunca mais virias, nem hoje nem amanhã nem nunca. Antes que soubesse que nunca mais te veria e não soubesse o que fazer com isso. Com a tua colecção de amontoadas ausências, de violentas intermitências, de sucessivos encantos avulso. Os cometas não mentem. Tu eras um. Meu amor. Lembras-te da primeira vez? Da primeira vez que disseste amor colado ao pronome possessivo? Palavras como peças de xadrez. Sem sangue, que é onde se alojam os escrúpulos. Era um jogo, o árbitro nunca chegou, valia tudo. Até queimar. Até romper o tabuleiro. Se eu cair por ti, dás-me a mão? Se eu tivesse caído por ti, sem ti seria o chão.
Subornei a consciência para me vingar. Do arame, do poço da morte, da sala de espelhos. Do algodão doce. Da radioactividade. De ti. Enchi o teu lugar de outros lugares, as tuas palavras de outras palavras, as tuas faltas de presenças outras. Aos predadores só resta morrer ou matar, não é? A sangue frio, mato eu. Falcão peregrino, príncipe das aves de caça. Eras insuportavelmente meu, beijavas-me com trilhos sonoros, levavas-me no sono. Disputavas a manta, esticavas o braço, eu levitava. Explicavas o absurdo com a química. E a improbabilidade do futuro com a ampulheta da partida colocada em cima da mesa do bar de hotel. Não dou a vida, mas dou tudo de mim. Para ti, chega? Não podiam coexistir a luz do sol e o sangue do pescoço. Voo pardo, ocre, rasante. Não chegou.
Subornei o coração. A parte que era tua. Para poderes voltar. Hoje ou amanhã ou depois. Para não te ver quando te vir. Para não te sentir quando te tocar. Para não sangrar quando morderes.
Subornei a consciência para me vingar. Do arame, do poço da morte, da sala de espelhos. Do algodão doce. Da radioactividade. De ti. Enchi o teu lugar de outros lugares, as tuas palavras de outras palavras, as tuas faltas de presenças outras. Aos predadores só resta morrer ou matar, não é? A sangue frio, mato eu. Falcão peregrino, príncipe das aves de caça. Eras insuportavelmente meu, beijavas-me com trilhos sonoros, levavas-me no sono. Disputavas a manta, esticavas o braço, eu levitava. Explicavas o absurdo com a química. E a improbabilidade do futuro com a ampulheta da partida colocada em cima da mesa do bar de hotel. Não dou a vida, mas dou tudo de mim. Para ti, chega? Não podiam coexistir a luz do sol e o sangue do pescoço. Voo pardo, ocre, rasante. Não chegou.
Subornei o coração. A parte que era tua. Para poderes voltar. Hoje ou amanhã ou depois. Para não te ver quando te vir. Para não te sentir quando te tocar. Para não sangrar quando morderes.
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