Martin Avillez Figueiredo bem avisa logo no editorial do I que a entrevista a Tolentino Mendonça, publicada ontem, é iluminada. E é mesmo. Vale a pena, muito a pena, ler o editorial, e a entrevista conduzida por Maria João Avillez. Alguns excertos:
Eu sinto que a procura de Deus é a dimensão mais forte da minha existência. Em última análise é dessa procura - humilde, inacabada, sempre a ser refeita - que me alimento. Vivo na sua expectativa, deslumbro-me com a revelação surpreendente e polifónica da sua presença, sofro e interrogo o seu silêncio... Com a consciência profunda, porém, de que estes contornos mais intensos ou mais frágeis da minha procura não são os mais importantes. Importante é, nas horas da graça ou naquelas de densa escuridão, saber-se buscado, saber que é Deus quem nos procura...
Uma amizade não começa no momento em que é explicitada. Para chegar a ser explicitada tem primeiro de crescer em silêncio nos corações, de se construir lenta e misteriosamente em múltiplos encontros, de se consolidar num tráfico íntimo de sinais... Há uma frase de Blanchot que explica deste modo a forma como todos experimentamos a amizade: "Já éramos amigos e não sabíamos." A amizade com Deus é a mesma coisa. Quando é que Ele se tornou obrigatório? Tenho de responder, para ser verdadeiro: muito antes que eu o soubesse.
O nosso encontro com Deus é, nesta nossa condição histórica, um encontro mediado. Eu diria que, no meu caso, esse encontro foi decididamente mediado pelo espanto. Descubro-me enamorado de um espanto fundamental. Não consigo mais tirar dali os olhos ou o coração. Não é só o assombro perante "a espantosa realidade das coisas", de que Fernando Pessoa falava, e que em si mesmo já é tanto! O maior assombro é pela vocação divina do homem que está em nós inapagavelmente inscrita. Quando o que sabemos de Deus nos constrange, nos cerca, nos pressiona, nos compromete, nos deixa sem saída (e estou a citar palavras de dois grandes crentes, S. Paulo e o profeta Jeremias), então percebemos que é connosco que Deus está a falar.
Há uma oração que aprendi, e dizem- -me que se reza em Taizé: "Senhor, estou aqui à espera de nada." Com o tempo, esta oração tem-se tornado a paisagem de fundo do meu caminho espiritual. Acho que posso dizer que vivo na dependência de Deus. Jesus Cristo é o objecto da minha fé. Com todas as minhas falhas e incertezas, procuro que a sua humanidade se torne inspiração para a minha. Mas peço a Deus a liberdade e a gratuidade necessárias ao amor. Eu não creio para que Deus me facilite a vida ou a resolva por mim. Os místicos ensinam que "a rosa é sem porquê".
Eu sinto que a procura de Deus é a dimensão mais forte da minha existência. Em última análise é dessa procura - humilde, inacabada, sempre a ser refeita - que me alimento. Vivo na sua expectativa, deslumbro-me com a revelação surpreendente e polifónica da sua presença, sofro e interrogo o seu silêncio... Com a consciência profunda, porém, de que estes contornos mais intensos ou mais frágeis da minha procura não são os mais importantes. Importante é, nas horas da graça ou naquelas de densa escuridão, saber-se buscado, saber que é Deus quem nos procura...
Uma amizade não começa no momento em que é explicitada. Para chegar a ser explicitada tem primeiro de crescer em silêncio nos corações, de se construir lenta e misteriosamente em múltiplos encontros, de se consolidar num tráfico íntimo de sinais... Há uma frase de Blanchot que explica deste modo a forma como todos experimentamos a amizade: "Já éramos amigos e não sabíamos." A amizade com Deus é a mesma coisa. Quando é que Ele se tornou obrigatório? Tenho de responder, para ser verdadeiro: muito antes que eu o soubesse.
O nosso encontro com Deus é, nesta nossa condição histórica, um encontro mediado. Eu diria que, no meu caso, esse encontro foi decididamente mediado pelo espanto. Descubro-me enamorado de um espanto fundamental. Não consigo mais tirar dali os olhos ou o coração. Não é só o assombro perante "a espantosa realidade das coisas", de que Fernando Pessoa falava, e que em si mesmo já é tanto! O maior assombro é pela vocação divina do homem que está em nós inapagavelmente inscrita. Quando o que sabemos de Deus nos constrange, nos cerca, nos pressiona, nos compromete, nos deixa sem saída (e estou a citar palavras de dois grandes crentes, S. Paulo e o profeta Jeremias), então percebemos que é connosco que Deus está a falar.
Há uma oração que aprendi, e dizem- -me que se reza em Taizé: "Senhor, estou aqui à espera de nada." Com o tempo, esta oração tem-se tornado a paisagem de fundo do meu caminho espiritual. Acho que posso dizer que vivo na dependência de Deus. Jesus Cristo é o objecto da minha fé. Com todas as minhas falhas e incertezas, procuro que a sua humanidade se torne inspiração para a minha. Mas peço a Deus a liberdade e a gratuidade necessárias ao amor. Eu não creio para que Deus me facilite a vida ou a resolva por mim. Os místicos ensinam que "a rosa é sem porquê".
Será a opinião de quem escreve o "post".
ResponderEliminarCom tanta citação ( Blanchot, Fernando Pessoa, S. Paulo e o profeta Jeremias, mais as rezas de Taizé ), fica-se sem saber se é o que ele pensa se o que outros pensam por ele.
Enfim, o verdadeiro intelectual à portuguesa...