As pessoas irritam-se; os deputados são pessoas; logo os deputados irritam-se. O silogismo não foi usado por Jaime Gama, mas podia muito bem ter sido. Os dirigentes partidários até podem desculpar os deputados que se excedem, mas o país não será tão benevolente.
Há um ano, um estudo liderado por André Freire revelou que a confiança dos portugueses no Parlamento é inferior à média europeia e que oscila de acordo com as suas prestações televisivas. Anteontem, a televisão mostrou precisamente a Comissão de Saúde transformar-se num ringue de boxe semântico com Ricardo Gonçalves do PS e Maria José Nogueira Pinto, agora no PSD, a protagonizarem o mais recente desvario político, inflamado por substantivos disparados como se fossem adjectivos. “Palhaço” foi a designação encontrada pela deputada social-democrata para classificar o comportamento, alegadamente recheado de comentários laterais, do colega socialista.
Ricardo Gonçalves também não será inocente. Já por várias vezes os deputados socialistas foram obrigados a acalmá-lo em plena Assembleia da Republica. Com 52 anos, o professor de filosofia é conhecido pela forma “emotiva” de se expressar. Para Maria José Nogueira Pinto, 57 anos, ex-militante do CDS/PP, é que a troca de insultos terá sido uma estreia.
Tanto a estreia como a reincidência parecem funcionar como atenuantes para Jaime Gama. O presidente da AR procurou desvalorizar o episódio. “Conheço os dois parlamentares que estiveram envolvidos numa troca de palavras mais acesa, sei que são pessoas responsáveis, correctas e que se irão auto-moderar no futuro”. Mas nem o futuro apaga o presente nem o passado é a prova de que o incidente é inédito.
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