Para Cavaco Silva é sempre cedo de mais para anunciar a recandidatura a Belém, luxo a que só deverá entregar-se até meados de 2010. Até lá, quanto mais souber conter a animosidade, melhor. Para evitar surpresas.
É coisa a que já nos habituámos: Cavaco Silva fala de si próprio na terceira pessoa quando não quer falar. "O presidente da República não deve pronunciar-se sobre isso" foi talvez a frase que mais vezes proferiu durante os últimos cinco anos. Apesar disso, em Agosto deste ano, à boleia das alegadas escutas de que Belém estaria a ser alvo, encetou um tipo de discurso que o fez descer a pique no ranking de popularidade. Foi também a confirmação do início do fim da "cooperação estratégica" com o Governo. A haver uma recandidatura, Cavaco Silva já não poderá, por isso, insistir na fórmula que entretanto se corrompeu, defendem os especialistas ouvidos pelo JN. Mas ainda pode apostar em ser "o garante de estabilidade" do país. E nem Manuel Alegre, que corre o risco de ser "o derrotado mais votado de sempre, até com uma votação superior a um milhão de votos", deverá beliscar a sua reeleição, acredita o comentador político António Costa Pinto.
"Nos últimos meses, o presidente da República (PR) arriscou muito, teve várias intervenções menos felizes e, com isso, a sua imagem sofreu um forte abalo. É impossível repetir a bandeira de cooperação que usou na última campanha presidencial", afirma José Manuel Leite Viegas, investigador do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia. No entanto, o chefe de Estado já terá percebido o jogo em que entrou. "Quanto mais atritos houver entre o Governo e a Oposição, mais o PR poderá afirmar-se como referencial de estabilidade. Neste jogo, ganha quem for mais contido, porque o país não perdoará quem aparecer aos olhos da opinião pública como o desencadeador de ataque de uma situação que, já de si, é aguda. Quem alimentar o conflito será penalizado, e ele já percebeu isso."
José Adelino Maltez concorda, embora não veja "na claríssima conflitualidade entre Cavaco e Sócrates uma coisa necessariamente negativa". Além da "boa educação que ambos demonstraram ter esta semana na troca de cumprimentos de Natal" - e o politólogo ressalva que refere o episódio "sem ironia" -, "o conflito prende-se mais com diferenças de carácter do que de políticas". Na política europeia, na segurança e na defesa nacional "houve sempre grande coincidência", recorda. Significa isto que voltaremos a ter um estado de graça entre os dois órgãos de soberania capaz de potenciar uma candidatura à Direita, como aconteceu em 2005? Não, responde Maltez. Acordos institucionais? Também não. Mas podemos ter, avisa, "aquilo que Cavaco Silva deseja no seu íntimo: um Bloco Central. Para tal, basta que Sócrates saia do PS e Ferreira Leite do PSD, o que é muito provável no próximo ano", defende. "Nesse cenário, Cavaco voltaria a ter uma excelente vitória de cooperação estratégica e o caminho livre para um segundo mandato tranquilo."
Mesmo que isso não venha a suceder, "a campanha de Cavaco Silva será fácil", insiste José Adelino Maltez. E António Costa Pinto não encontra motivos para que não seja assim. "Ele tem todas as vantagens do seu lado: pode ser o último a anunciar a candidatura, o episódio de Agosto será rapidamente esquecido e se o conflito se prolongar até Dezembro de 2010 (véspera de eleições), o povo terá tendência a escolher o que já conhece, porque vê nisso um elemento de estabilidade". Além disso, "para as presidenciais conta mais a imagem do candidato do que as suas propostas". Portanto, mesmo que aos olhos dos portugueses Cavaco possa parecer demasiado conservador - é contra o divórcio, o aborto e o casamento homossexual -, isso, no fim, contará muito pouco". A reeleição do actual PR, concordam todos, estará mais nas mãos dos outros, nas falhas dos outros, do que dele próprio: "A ele, basta-lhe capitalizar o lugar e reagir cada vez menos às guerras com o PS e com Sócrates."
É coisa a que já nos habituámos: Cavaco Silva fala de si próprio na terceira pessoa quando não quer falar. "O presidente da República não deve pronunciar-se sobre isso" foi talvez a frase que mais vezes proferiu durante os últimos cinco anos. Apesar disso, em Agosto deste ano, à boleia das alegadas escutas de que Belém estaria a ser alvo, encetou um tipo de discurso que o fez descer a pique no ranking de popularidade. Foi também a confirmação do início do fim da "cooperação estratégica" com o Governo. A haver uma recandidatura, Cavaco Silva já não poderá, por isso, insistir na fórmula que entretanto se corrompeu, defendem os especialistas ouvidos pelo JN. Mas ainda pode apostar em ser "o garante de estabilidade" do país. E nem Manuel Alegre, que corre o risco de ser "o derrotado mais votado de sempre, até com uma votação superior a um milhão de votos", deverá beliscar a sua reeleição, acredita o comentador político António Costa Pinto.
"Nos últimos meses, o presidente da República (PR) arriscou muito, teve várias intervenções menos felizes e, com isso, a sua imagem sofreu um forte abalo. É impossível repetir a bandeira de cooperação que usou na última campanha presidencial", afirma José Manuel Leite Viegas, investigador do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia. No entanto, o chefe de Estado já terá percebido o jogo em que entrou. "Quanto mais atritos houver entre o Governo e a Oposição, mais o PR poderá afirmar-se como referencial de estabilidade. Neste jogo, ganha quem for mais contido, porque o país não perdoará quem aparecer aos olhos da opinião pública como o desencadeador de ataque de uma situação que, já de si, é aguda. Quem alimentar o conflito será penalizado, e ele já percebeu isso."
José Adelino Maltez concorda, embora não veja "na claríssima conflitualidade entre Cavaco e Sócrates uma coisa necessariamente negativa". Além da "boa educação que ambos demonstraram ter esta semana na troca de cumprimentos de Natal" - e o politólogo ressalva que refere o episódio "sem ironia" -, "o conflito prende-se mais com diferenças de carácter do que de políticas". Na política europeia, na segurança e na defesa nacional "houve sempre grande coincidência", recorda. Significa isto que voltaremos a ter um estado de graça entre os dois órgãos de soberania capaz de potenciar uma candidatura à Direita, como aconteceu em 2005? Não, responde Maltez. Acordos institucionais? Também não. Mas podemos ter, avisa, "aquilo que Cavaco Silva deseja no seu íntimo: um Bloco Central. Para tal, basta que Sócrates saia do PS e Ferreira Leite do PSD, o que é muito provável no próximo ano", defende. "Nesse cenário, Cavaco voltaria a ter uma excelente vitória de cooperação estratégica e o caminho livre para um segundo mandato tranquilo."
Mesmo que isso não venha a suceder, "a campanha de Cavaco Silva será fácil", insiste José Adelino Maltez. E António Costa Pinto não encontra motivos para que não seja assim. "Ele tem todas as vantagens do seu lado: pode ser o último a anunciar a candidatura, o episódio de Agosto será rapidamente esquecido e se o conflito se prolongar até Dezembro de 2010 (véspera de eleições), o povo terá tendência a escolher o que já conhece, porque vê nisso um elemento de estabilidade". Além disso, "para as presidenciais conta mais a imagem do candidato do que as suas propostas". Portanto, mesmo que aos olhos dos portugueses Cavaco possa parecer demasiado conservador - é contra o divórcio, o aborto e o casamento homossexual -, isso, no fim, contará muito pouco". A reeleição do actual PR, concordam todos, estará mais nas mãos dos outros, nas falhas dos outros, do que dele próprio: "A ele, basta-lhe capitalizar o lugar e reagir cada vez menos às guerras com o PS e com Sócrates."
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