O papel de José Pedro Aguiar-Branco na anual festa laranja no Pontal parecia ingrato: fazer esquecer a ausência da líder do partido, que nem sequer foi convidada. O caminho mais fácil seria criticar o Governo. Foi o que fez. O PS reagiu. E bem.
Coube a Vieira da Silva, ministro da Solidariedade e coordenador da campanha eleitoral do Partido Socialista, repudiar as afirmações proferidas anteontem à noite, no Algarve, pelo vice-presidente do PSD. Aguiar-Branco, num discurso que tradicionalmente caberia a Manuela Ferreira Leite – a líder do partido falhou o ano passado, perdendo o direito a ser convidada este ano, que Mendes Bota recusa “levar duas tampas da mesma rapariga” –, acusou o governo de José Sócrates de estar “sob suspeita”, de ter uma visão “retrógrada”, “sovietizada” e “clientelar” do país, de “desprezar as pessoas”.
Em conferência de imprensa marcada ontem para o final da tarde, propositadamente para reagir às declarações do PSD, Vieira da Silva considerou-as “graves” e sublinhou que “marcam um tom para o debate eleitoral que o PS repudia de forma clara.” Tentando fazer a leitura do discurso de Aguiar Branco, nomeadamente quando afirmou que o governo está “sob suspeita”, o ministro do Trabalho e da Solidariedade Social notou que essas declarações “indiciam uma estratégia de recurso a insinuação, à maledicência e ao combate político ao seu mais baixo nivel.”
Consciente de que o papel de Aguiar Branco na festa de Mendes Bota não seria o mais confortável – Mendes Bota e Manuela Ferreira Leite não se entendem – Vieira da Silva aproveitou para explicar aquele discurso à luz dos desentendimentos internos dos sociais-democratas. “Se o PSD tem dificuldades, que são conhecidas, de apresentar aos portugueses algo que se aproxime minimamente de um programa político; se o PSD tem problemas, que são visíveis, de instabilidade interna, que não tenha ilusões: não é o regresso à política da difamação ou o regresso aos ataques de carácter que servirão para esconder esses problemas.” E rematou: “Esse é um caminho inaceitável que não está à altura dos desafios e dos problemas com que Portugal e os portugueses se defrontam.”
Vieira da Silva salvaguardou ainda que o PS “não teme qualquer campanha ou estratégia dos adversários”. Mas nunca se inibirá de “denunciar o recurso a campanhas negras, que só servem para degradar a vida democrática e afastar os portugueses das decisões eleitorais.” Finalmente, fez um apelo “a um debate sério e responsável”, garantindo que jamais cederá à política do vale tudo”.
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