Estávamos no Alentejo quando o I saiu pela primeira vez. De férias, a estadia naquela casa sem televisão era o melhor lugar para testarmos o novo jornal. Combinámos que enquanto lá estivéssemos, o I seria o nosso único jornal. Eu, mal o tive nas mãos, comecei logo a procurar-lhe defeitos. Não suportei a ideia de não terem trabalhado um "exclusivo" para a manchete do primeiro dia, menos ainda de não terem uma reportagem multimédia para apresentar. E, claro, aquela dedicação toda a Lisboa (os contentores) num jornal que é apresentado como nacional, pareceu-me claramente desajustada. Ao contrário, o Miguel, quando o viu, teve logo uma espécie de epifania: amor à primeira vista. E lá dissertou sobre as perpectivas, sobre edição e fotografia e isto e aquilo. Não me convenceu. Só conseguimos concordar numa coisa: o jornal era, e é, de facto, bonito. E na praia, factual, o I foi sempre o único sobrevivente.
Ao segundo ou terceiro dia, quebrei as regras: comecei a comprar também os outros jornais. Aquele, o I, está bem, podia ter alguma piada e tal, mas não me chegava, não me preenchia. Aliás, aquela pretensão de editarem a actualidade por mim irritava-me profundamente. E o défice de política em ano de eleições parecia-me um erro crasso. Nos primeiros tempos continuei tão indecisa como no primeiro dia. Disposta, claro, a não facilitar a vida à entrada daquele jornal na minha vida.
Depois, o tempo passou. E o I começou a publicar entrevistas, entrevistas boas, a não ter pudor de fazer manchete com elas, começou a marcar a agenda, a cobrir política por antecipação, a encontrar ângulos diferentes, novos, a investir em histórias que os outros jornais não dão. Furos, vários. Mesmo naquelas triviais páginas de consulta, começou a publicar uma coisa em que sou viciada: os melhores diálogos do cinema. E agora, em pleno Verão, quando todos os jornais vão de férias sem ir (antes fossem!), o I começou a galopar pelo meu tempo de leitura. Em vez de adormecer literalmente à sombra da bananeira, trabalhou a época balnear com seriedade, como se fosse Janeiro ou Setembro. Em vez de dar inquéritos de Verão, publicou uma colecção de entrevistas de fundo (e quando os entrevistados são bons, pouco importa que algumas perguntas não sejam brilhantes); e em vez de dar patetices inúteis, recuperou os 30 escândalos que ameaçaram Portugal. E isto sim, é jornalismo. Para mim, pelo menos, que gosto de encarar o jornalismo como uma disciplina cuja função é ensinar e não distrair.
E pronto, quando dei conta, estava enredada no I. Dei o braço a torcer. Hoje, o Miguel chegou cá a casa todo empolgado com o seu I em miniatura. Como se ele fosse o troféu por ter apostado desde o primeiro dia que o jornal ia ser bom e marcar a diferença. Contámos a colecção que temos na mesa da sala, e que semana após semana sobrevive à limpeza de domingo: em 100 exemplares temos 70. 70 jornais empilhados a regra e esquadro como se fossem uma instalação.
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