Gosto do Pedro Burmester. De todas as pessoas que entrevistei nos últimos anos - e, bem ou mal, são algumas centenas -, ele é talvez aquela que mais gostei de entrevistar. Não porque, ao contrário do que acontece noutros casos, a conversa se tenha prolongado para lá do stop no gravador, não porque as perguntas lhe tenham roubado respostas particularmente palpitantes, nem porque do texto final tenha resultado um orgulho especial. Mas porque é talvez a única pessoa que entrevistei que em nenhum milésimo de segundo foi aquilo que não é. É honesto do princípio ao fim, de tal forma honesto, que não deixa sequer margem para que por um raro minuto se possa duvidar do que está a dizer. É daquele tipo de pessoas, raras, em que a nobreza de carácter lhe sai por todos os poros.
Este domingo, deu uma entrevista a Sérgio Costa Andrade, na Pública do Público. Raro vê-lo por aí a dar entrevistas, esta foi, se não estou em erro, talvez a primeira desde que saiu da Casa da Música. Fala dela, da Casa que criou, "sem tabus". E do piano, e do futuro, e de Rui Rio, e do Porto clube e do Porto cidade. E honra a palavra, mantendo a coerência: com as sondagens a darem maioria absoluta ao presidente da Câmara, ele não deverá tocar na cidade antes de 2013.
Mas quem acompanhou minimamente as notícias que saíram nos últimos anos sobre o atabalhoadíssimo parto da Casa da Música, não pode deixar de sentir algum desconforto com esta entrevista. Burmester diz que está pacificado, que encerrou um capítulo, que cumpriu a missão, admite até o que sempre se soube, que engoliu sapos, que calou as críticas a Rui Rio só para não prejudicar o projecto. E claro que nem todas as pessoas que fazem alguma coisa bem feita precisam de ter uma estátua plantada numa qualquer praça da cidade ou o mundo a ajoelhar-se-lhe eternamente aos pés. Mas, caramba, algum dia esta cidade (este país?) irá agradecer realmente a Casa da Música que ele, literalmente, pariu? E algum dia esta cidade (este país?) saberá reconhecer o quanto essa mesma Casa da Música teria sido, ainda hoje, sobretudo hoje, tão diferente se não lhe tivessem dado a meio da gravidez uma injecção, que não a matou, mas enfraqueceu para sempre?
Hoje, Pedro Burmester volta ao palco, num recital a solo, no Festival de Música de Sintra.
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