quinta-feira, julho 23, 2009

Henry James: A fera na selva

São menos de 100 páginas, pouco mais do que uma hora de leitura e infinitas toneladas de prazer. "A fera na selva" é talvez o mais pequeno livro de Henry James. A contracapa diz que é o emocionante retrato de um homem, John Marcher, "homem alienado da vida e do amor, perseguido e obcecado pelos seus receios". É isso, claro. Mas é muito mais do que isso. É a história de um homem que deseja tanto apaixonar-se, encontrar o amor, que não o vê quando ele acontece.

É a história de um segredo antigo confessado há muito a uma mulher, May Bartram, que ele julgava que nunca mais iria ver. "Disse-me que tivera desde sempre, como aquilo que lhe era mais profundo, a sensação de que lhe estava reservado algo de muito invulgar e estranho, ou maravilhoso e terrível, que mais cedo ou mais tarde iria acontecer; que lhe estava entranhado nos ossos esse presságio e essa convicção, e que os seus efeitos seriam talvez avassaladores. (...) Não uma coisa necessariamente violenta. Apenas natural e, claro, acima de tudo, inconfundível. A coisa."

O segredo do amor, que de nada serve a quem não o consegue identificar quando ele acontece. Seria May a "fera pronta a dar o salto na selva"? A fera que o mataria ou estaria disposta a morrer por ele? Com ele? Reencontraram-se e isso é tudo. "Um homem e uma mulher cuja amizade se tornou um hábito diário, ou quase, e que portanto se tornou indispensável." Reeencontraram-se e não dizem alto o que os dois, quem sabe, pensaram baixo. "O mais estranho era que o passado, tendo oferecido tanto, não tivesse oferecido um pouco mais. Olhavam um para o outro com a sensação de oportunidade perdida. O tempo presente seria muito melhor se o passado, na longínqua distância, numa terra estranha, não tivesse sido tão estupidamente avaro."

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