quarta-feira, fevereiro 24, 2010

A estrada larga da alma

"A Estrada Larga. A grande casa da alma é a estrada larga. Nem céu, nem paraíso. Nem "acima", nem mesmo "dentro". A alma não está acima nem dentro. É um viandante a caminhar pela estrada larga. Não pela meditação. Nem pelo jejum. Nem explorando céu após céu, interiormente, à maneira dos grandes místicos. Nem pela exaltação. Nem pelo êxtase. Não é por nenhum destes caminhos que a alma se preenche. Mas só fazendo-se à estrada larga. Não através da caridade. Nem do sacrifício. Nem mesmo do amor. Não através das boas obras. Não é assim que a alma se realiza. Mas só através da viagem pela estrada larga. Da viagem em si mesma, pela estrada larga. Exposta a todos os contactos. Em dois lentos pés. Cruzando-se com tudo o que venha pela estrada larga. Na companhia dos que vogam ao mesmo compasso pelo mesmo caminho. Para nenhum destino. Sempre a estrada larga. Não tendo sequer direcção conhecida. Permanecendo a alma apenas fiel no trajecto a si mesma. Cruzando-se na estrada com todos os outros viandantes.

(...) A alma não deve acumular defesas à sua volta. Não deve retirar-se para procurar o céu dentro de si, em êxtases místicos. Não deve clamar por um Deus transcendente, pedindo para ser salva. Deve fazer-se à estrada larga, à medida que a estrada se vai abrindo ao desconhecido, na companhia daqueles cuja alma os leva para junto dela, nada realizando além da viagem, e das obras inerentes à viagem, à longa viagem de uma vida inteira rumo ao desconhecido, através da qual se realiza a alma, nas suas subtis simpatias..."

D.H. Lawrence sobre Walt Whitman e a sua "mensagem essencial". Whitman, o "bom poeta encanecido", o poeta americano na Totalidade e do amor livre, o poeta do Eu, morreu há 118 anos. O dia 26 de Março é uma boa altura para reler a sua poesia.

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